
A treta entre Angélica e sua nora, Duda Guerra, não para de repercutir nas redes sociais. Após curtir um comentário negativo sobre a jovem, começaram as especulações sobre um suposto desconforto da família Huck com a presença de Duda, namorada de Benício Huck.
A polêmica ganhou força quando a garota, de apenas 17 anos, se desentendeu com outra adolescente, supostamente por ciúmes — a menina queria segui-lo em um perfil restrito a amigos íntimos, e Duda não gostou.
É certo que a curtida — acidental ou não — de Angélica reflete um desconforto já demonstrado em outras ocasiões. Houve, por exemplo, o pedido para que Duda, que é influenciadora, evitasse fotos e vídeos dentro da casa da família. Mas esse ainda não é o ponto principal.
Angélica veio a público em seu Instagram: “Como mãe, é doloroso ver como isso se espalhou”, escreveu. A apresentadora começou o texto lembrando que cresceu sob os holofotes:
“Crescer hoje, sob o julgamento constante das redes, é muito mais difícil. A lógica da aprovação instantânea, os ataques anônimos, a pressão para parecer sempre certo diante de milhares de pessoas, tudo isso pesa demais para quem ainda está construindo sua identidade. Por isso, além de esclarecer, quis vir aqui para renovar o apelo para que a gente pense juntos os ambientes que estamos criando online. A saúde mental dos nossos jovens depende disso.”
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Não importa se a curtida foi acidental ou proposital: ao demonstrar tão válida preocupação, talvez Angélica nunca tenha estado tão certa. O efeito das redes sociais na saúde emocional dos jovens tem tomado proporções inimagináveis — e ninguém parece muito preocupado com isso.
A série Adolescência, sucesso mundial na Netflix este ano, fala sobre muitas coisas, mas também sobre esse impacto. A busca por aprovação imediata na sociedade dos likes tem criado adolescentes ansiosas, atribuladas e muitas vezes silenciadas por prejuízos profundos, dos quais pouco se fala.
Nunca tantas menores de idade procuraram por cirurgias plásticas. Nunca antes meninas de 14, 15 anos se esforçaram tanto para parecer adultas — e consentirem, não raramente, com a própria sexualização precoce. Nunca foi tão difícil crescer quanto é hoje, com padrões estéticos e sociais impostos cada vez mais cedo.
Em vídeo intitulado Como as big techs acabam com o futuro das nossas crianças, o Meteoro Brasil apresenta dados alarmantes sobre o impacto das redes na saúde mental infantil e juvenil — a mesma preocupação que Angélica expressou.
No vídeo, um especialista aponta uma “crise de saúde mental juvenil” e critica o fato de que a responsabilidade pelo uso das redes é colocada apenas sobre os pais, como se as big techs não tivessem culpa alguma nos efeitos de suas plataformas.
No TikTok, por exemplo, a sexualização precoce de adolescentes (sobretudo meninas) não é minimamente supervisionada. A plataforma permite a veiculação de conteúdos frequentemente explorados por grupos de pedófilos na internet — que, digam o que quiserem, continua sendo terra de ninguém, a despeito das leis.
Como bem mostrou a série já citada, a responsabilidade não é apenas dos pais, mas principalmente de quem lucra com isso: TikTok, Instagram e outras plataformas têm sim obrigação de supervisionar o que acontece em suas redes — e responsabilidade pelas consequências.
Assim como Duda Guerra — e como a adolescente que morreu na série — muitas meninas seguem expostas a riscos flagrantes, de pedofilia e fake news a problemas sérios de autoestima, sem que haja qualquer responsabilização das plataformas.
O uso excessivo das redes está relacionado a problemas mentais entre jovens — estima-se que ao menos 45% dos casos de ansiedade em crianças e adolescentes tenham relação com redes sociais. Sem falar nos desafios perigosos que já vitimaram ao menos 56 crianças e adolescentes no Brasil.
Quantas mais precisarão morrer para que a sociedade finalmente responsabilize as big techs pelo estrago?
O problema não são os haters, os sites de fofoca ou uma curtida acidental.
O problema é que seguimos individualizando uma responsabilidade que é coletiva — mas, sobretudo, da indústria que lucra com o sofrimento emocional das nossas crianças e adolescentes.