Apesar dos sinais de desaceleração da economia e do coro crescente de críticas vindo do setor produtivo, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (7), elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,5 ponto percentual, alcançando 14,75% ao ano — o maior nível em 19 anos. Em seu comunicado, no entanto, o Banco Central indicou que este deve ser o último aumento deste ciclo, mantendo a porta entreaberta para uma eventual estabilidade.
O movimento gerou imediata reação de entidades empresariais, que já vinham denunciando os impactos nocivos da política monetária restritiva. Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom está dissociada da realidade da atividade econômica. A entidade reafirmou que os indicadores de inflação já apontam arrefecimento e que manter o país em patamares de juros tão elevados apenas contribui para travar a economia.
“Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A Associação Paulista de Supermercados também se posicionou contrária a medida, equivocada diante das medidas protetivas internacionais impulsionadas pelos recentes tarifaços dos Estados Unidos.
“É importante lembrar que o mundo vive um ciclo neoprotecionista, em que os países buscam fortalecer sua produção e seu mercado interno. Com a taxa Selic nos patamares atuais, o Brasil favorece o rentismo e a especulação, em detrimento da geração de empregos, do investimento produtivo e do crescimento econômico de médio e longo prazo”, pontuou a Associação.
Para as centrais sindicais, a elevação da taxa compromete diretamente a recuperação econômica, ao encarecer o crédito, desestimular o investimento produtivo e agravar o desemprego. Em nota, a CUT destacou que os efeitos da política do Banco Central têm sido duros.
“O brasileiro já convive com uma taxa básica de juros proibitiva para o desenvolvimento econômico e que aumenta o custo de vida, o endividamento das famílias, das empresas e os gastos do governo federal. Gabriel Galípolo, atual presidente do BC, e os demais membros do Copom não foram indicados pra manter os interesses do mercado financeiro, mas sim os interesses da população”, criticou a vice-presidente da entidade, Juvandia Moreira.
“Antes dessa decisão a taxa já estava num valor extorsivo, de 14,25% ao ano. É uma irresponsabilidade social. A decisão quer levar o País para a recessão econômica. Continuar com a atual taxa de juros impõe um forte obstáculo ao desenvolvimento do país”, complementou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
Resposta do Banco Central
Diante das pressões e críticas, o Banco Central, liderado por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula para contrapor a postura de altas das taxas de Roberto Campos Neto, emitiu uma nota sinalizando que essa deverá ser uma das últimas altas do ciclo.
“Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, informou.
O comunicado do BC, embora mantenha a justificativa tradicional de convergência da inflação à meta, revelou uma mudança de tom. O comitê afirmou que avaliará a necessidade de ajustes residuais, mas que a tendência é de interrupção do ciclo de alta. O mercado interpretou o recado como um freio ao endurecimento monetário, ainda que sem qualquer sinal claro de início da reversão da taxa.
O contexto reforça uma contradição que se arrasta desde o início do atual ciclo: enquanto o país luta para retomar níveis consistentes de crescimento e geração de empregos, a política de juros altos continua a penalizar a produção, o consumo e o crédito.
A promessa do Banco Central de que este pode ser o último aumento da Selic não basta para dissipar a desconfiança do setor produtivo, que segue à espera de sinais mais concretos de uma virada na política monetária. Para muitos, a retomada do desenvolvimento requer mais que estabilidade.