Nessa semana, uma série de ações foram deflagradas por representantes do Estado brasileiro em nome do “anti-terrorismo”. Desde operações policiais até encontros com agentes estrangeiros e tentativas de modificar a legislação federal contra a luta do povo palestino, todas indicam um fechamento do regime político.
O senador Flávio Bolsonaro entregou nessa segunda-feira (5) um dossiê que liga facções criminosas – Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) – ao partido libanês Hesbolá. Além do Senador, estava presente um representante do governo norte-americano e o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, Paulo Bilynskyj (PL-SP). O dossiê foi elaborado pelas Secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e de São Paulo.
De acordo com a nota divulgada pela Embaixada norte-americana no Brasil, o objetivo da ação é “fortalecer a cooperação bilateral no enfrentamento de organizações criminosas transnacionais, bem como os programas de sanções dos EUA voltados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas, contribuindo para a proteção dos cidadãos americanos e brasileiros, em alinhamento com a agenda America First”.
Em consonância com a “luta contra o terrorismo”, houve o impedimento de um suposto e muito mal explicado “ataque terrorista” ao show da cantora norte-americana Lady Gaga em Copacabana, no Rio de Janeiro.
O secretário de Polícia Civil carioca, Felipe Curi, afirmou que o suposto ataque utilizaria coquetéis molotv e explosivos improvisados. Dentre os oito suspeitos, um adolescente foi apreendido no Rio de Janeiro e um homem foi preso no Rio Grande do Sul. De acordo com a Polícia Civil, os dois seriam os coordenadores do plano.
A operação da Polícia Civil, denominada Operação Fake Monsters, teria desarticulado um “grupo extremista” que atuava nas redes sociais e promovia “discursos de ódio”, crimes contra crianças, adolescentes e o público LGBT. Segundo a investigação, o suposto atentado seria executado como parte de um “desafio coletivo”, no intuito de obter notoriedade na Internet.
Ao todo, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em nove municípios de quatro estados brasileiros – Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Nas ações, foram apreendidos dispositivos eletrônicos e materiais que agora passam por análise técnica.
“Desde a última segunda-feira, vínhamos fazendo esse monitoramento de um possível plano de atentado voltado para atingir a comunidade LGBTQIA+. Em parceria com o Ministério da Justiça, identificamos os autores, que atuavam pela plataforma Discord e solicitamos a quebra de sigilo. Fizemos um trabalho em silêncio, sem criar pânico, e prendemos os principais líderes”, disse Felipe Curi.
No Rio Grande do Sul, um homem chamado Luis Fabiano da Silva, foi preso preventivamente nessa segunda-feira (5). Silva havia sido preso em flagrante no sábado (3) por porte ilegal de arma de fogo, mas foi liberado mediante fiança. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), Silva foi preso novamente após um pedido de prisão preventiva da juíza Fabiana Pagel, do Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), que homologou o auto de prisão em flagrante.
O acusado estava respondendo em liberdade após a pagar fiança, mas foi preso novamente por não ter comparecido na audiência de custódia.
“Na decisão, a magistrada considerou que, embora não exista informação de apreensão de material explosivo com ele, o fato de pessoa que é investigada pela prática de atos de terrorismo, atentado e discurso de ódio ter em sua posse três armas merece maior cautela. Diante da gravidade do caso, não é cabível a aplicação de medidas cautelares diversas da segregação preventiva”, disse o TJRS em nota.
A prisão de Silva teria “impedido o ataque terrorista”. Porém, pelas informações divulgadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, nenhum dos suspeitos presos carregava algum tipo de explosivo, apesar das alegações. O próprio Luis Fabiano da Silva apenas portava armas sem autorização legal. Já o adolescente foi preso por portar pornografia infantil, que, apesar de ser crime, nada tem a ver com um planejamento de atentado algum.
O recrudescimento do regime político nacional sob pretexto da luta contra o “terrorismo” vem também atingindo o Partido da Causa Operária (PCO). Também na capital carioca, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu uma investigação contra o PCO por suposta “prática de atos antissemitas” – de acordo com a seção Radar da revista Veja, em artigo escrito por Robson Bonin.
Bonin alega que o MPRJ está apurando se o PCO seria uma “organização terrorista”, com base em uma denúncia anônima. Segundo o mesmo texto, o PCO também estaria sendo investigado por ser, supostamente, “uma organização terrorista islâmica voltada à prática de atos antissemitas”.
Sobre os casos, o Presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, comentou no programa Análise Política da 3ª:
“A Polícia Federal está fazendo muito carnaval em torno de terrorismo, de nazismo e isso é um sintoma muito doentio da situação política. Eles estão preparando o clima para um endurecimento da repressão, tem muita coisa acontecendo. Tem que combater isso. Tem que atacar, tem que denunciar essa ação da polícia federal. São terroristas que não jogam bomba, são terroristas que não matam ninguém, são nazistas que picham banheiro de escolas, é tudo uma farsa. Inclusive, vou dizer mais, com essas iniciativas eles vão acabar estimulando um maluco a jogar uma bomba em algum lugar. Se alguém está criando um clima favorável a ações totalmente sem pé nem cabeça, é a própria polícia federal. O mundo está cheio de gente louca, aí você começa a criar um clima e o cara decide fazer alguma coisa. Já teve insurreição armada sema armas, agora temos terrorista sem bomba e nazista pichador de banheiro de escola, isso aqui é muito grave”.