O momento da Seleção provoca um descrédito no nosso futebol, compatível com a soberba dos torcedores menos comprometidos e comentaristas esportivos com uma análise superficial, apenas do verniz desgastado do nosso escrete.

Claro, um empate com sabor de goleada a favor no jogo contra a Colômbia (com direito a olé!) não deve ser motivo de pouca preocupação, deprime ainda mais o torcedor consciente da história do nosso futebol.

Vem à memória um comentário de João Saldanha a esse respeito no Jornal do Brasil sobre um jogo da seleção num período de baixo rendimento durante uma excursão preparatória. Dizia João sobre os “coleguinhas fanfarrões”, ou algo assim, que se divertiam na mesa de um bar qualquer da Europa depois de uma má atuação do time, se vangloriando com moi, trois fois Champion du monde, ainda éramos Tri…!

Menos mal que podemos contar com alguns analistas responsáveis e jogadores amadurecidos, como o capitão Danilo e o zagueiro Marquinhos, outra liderança que, sobre a má atuação, assim se manifestou: “Temos que ser honestos com nós mesmos”. Demonstrou firmeza em relação ao processo de formação de uma nova seleção.

A lucidez e a tranquilidade do Dorival Jr., mesmo tendo se exaltado no correr da partida quando a coisa estava feia, principalmente no lance do pênalti não marcado sobre o Vini Jr., nos passa boa dose de confiança. Está em teste a direção da CBF quando fez a escolha de Dorival, para mim acertada. O experimentado treinador disse, desde a primeira convocação e repetiu com todas as letras na entrevista no pós-jogo, que seu trabalho é planejado com vistas à Copa do Mundo, que depende de evolução por etapas e que o time vai oscilar pelo caminho, de modo natural, não se cansa de repetir.

O futebol brasileiro, como tem sido dito com frequência, não goza da unanimidade de ser o melhor do mundo neste momento. Hora de calçar as “sandálias da humildade”, como dizia Nelson Rodrigues.

Agora vem o principal: resta saber se a CBF vai sustentar sua opção nos casos previstos de irregularidade na construção planejada por Dorival Jr. Passou o tempo em que o futebol brasileiro entrava em todas as disputas como favorito absoluto e mesmo assim não ganhava tudo. Tempo de reconstrução.

Em termos individuais, vamos ser testados com a ausência do Vinicius Jr. no próximo jogo contra o Uruguai. Apesar de motivado pela disputa da “Bola de Ouro”, o craque também não pode render o que sabe, prejudicado pela falta de conjunto da nova seleção em seus primeiros passos.

Parece até que não vencemos outros jogos e até Copas do Mundo sem o Rei Pelé. Mesmo reconhecendo situações diferentes, vamos como estamos agora.

Não se pode esquecer do valor da bela seleção colombiana, com um time azeitado, muito bem treinado, maduro, excelente no entrosamento de suas linhas, sem perder há 26 jogos, desde 2022, e fisicamente em estágio superior ao nosso.

Emoção na Eurocopa

Na outra banda do mundo, a Eurocopa tem mostrado jogos sensacionais já em sua fase de mata-mata, como o que fez chorar Cristiano Ronaldo, quando perdeu um pênalti e depois foi salvo pela classificação de Portugal contra a Eslovênia graças ao goleiro, que defendeu as cobranças dos adversários. Emoção à “flor da pele” em sua derradeira Eurocopa, quando vai se despedindo aos poucos da carreira brilhante.

Saudoso Dudu

Eu gostava do Dudu, eu gostava muito do Dudu, eu sabia que gostava muito do Dudu, mas não sabia que iria sentir tanto quando chegou a triste notícia da sua morte.

Exemplo de correção para todos, definido em todas as suas atitudes, o tipo de jogador que determina a regularidade de um time como um maestro com seu metrônomo, permitindo aos “virtuoses” dar o brilho de sua genialidade como em sua parceria inesquecível com o “Divino” da Guia.

Meu vizinho de Araraquara fez questão de participar do jogo de fim de ano de veteranos em Jaú, quando a Academia palmeirense exibiu seu bailado para os torcedores da Capital da Terra Roxa, em sua maioria de origem italiana.

Confraternização que merece ser contada na íntegra e fica para a próxima.

Adeus, Dudu.

Publicado na edição n° 1318 de CartaCapital, em 10 de julho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Sandálias da humildade”

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Última Atualização: 04/07/2024