A projeção do Ministério da Fazenda de que o Plano de Transformação Ecológica, associado a reformas estruturais, pode dobrar o PIB em duas décadas, sugere uma possibilidade promissora, mas não há como antever em que medida o projeto dará conta de um dos maiores empecilhos na adaptação da economia à mudança climática: a transformação da mentalidade predominante.
A insuficiência do avanço para deter o cataclismo alimenta um ceticismo até entre os cientistas, aponta pesquisa recente. Quase 80% dos principais especialistas climáticos do mundo preveem pelo menos 2,5 graus centígrados de aquecimento global, enquanto quase metade prevê ao menos 3 graus e apenas 6% consideraram que o limite de 1,5 grau pactuado no Acordo de Paris será cumprido.
Além da incompreensão de agricultores e do ceticismo de cientistas, há o desafio de transformar o modo convencional de os economistas encararem as suas próprias tarefas, conforme apontou na Conferência a presidente do Ipea, Luciana Serva.
A mudança no modo de encarar a economia implica, em grande medida, questionar a situação de anexação da natureza pelo capital e sua transformação em recurso apropriado de forma gratuita ou barata, sem reparação ou reposição, na suposição tácita de que a natureza é capaz de autorrestauração infinita.
Várias incompreensões e inúmeros equívocos atrapalham o conhecimento necessário ao enfrentamento da emergência climática. Muitos acreditam que a insuficiência crescente de água para a agricultura, devido à alteração no regime de chuvas, em si um resultado das mudanças climáticas, poderá ser resolvida com irrigação, o que é um enorme engano.
Alega-se que a perda de produtividade prevista não deve ser problema, porque a soja transita pouco para chegar nos portos de embarque, mas a questão é mais complicada. O cultivo da soja utiliza 50% da terra agricultável e depende visceralmente do clima.
Ensaios feitos no Instituto de Pesquisas Ambientais de São Paulo, em câmaras que simulam o clima das próximas décadas, com mais gás carbônico na atmosfera e menos água no solo, em comparação com os teores atuais, apontam a tendência de o café produzido no Brasil ser mais amargo, ácido e adstringente dentro de dez a 20 anos.
Ameaçadora para o conjunto da economia mundial, a crise climática será ainda pior para a América Latina, alerta um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, órgão da ONU. Responsável por menos de 10% das emissões mundiais, o continente é “extremamente vulnerável” ao impacto das mudanças no clima.
Para boa parte das pessoas, frisa a presidente do Ipea, os problemas ambientais de degradação da paisagem, desertificação, perda de biodiversidade, conflitos por terra e água, má distribuição de água para abastecimento humano, intenso quadro de poluição de praias, aumento do risco de desastres naturais devido à ocorrência de fortes chuvas e secas localizadas não são novidade. Mas, para os economistas, de forma geral, isso não é considerado essencial, pois não tem a centralidade que deveria ter na pauta econômica mundial.
O cultivo da soja utiliza 50% da terra agricultável e depende do clima visceralmente
A mesma parcela de menor renda, prossegue o trabalho, quando recebe melhor remuneração, gasta uma parte maior do seu orçamento em combustíveis e outros bens e serviços que paulatinamente vêm sendo privatizados, como a educação e a saúde.
Para boa parte das pessoas, frisa a presidente do Ipea, os problemas ambientais de degradação da paisagem, desertificação, perda de biodiversidade, conflitos por terra e água, má distribuição de água para abastecimento humano, intenso quadro de poluição de praias, aumento do risco de desastres naturais devido à ocorrência de fortes chuvas e secas localizadas não são novidade. Mas, para os economistas, de forma geral, isso não é considerado essencial, pois não tem a centralidade que deveria ter na pauta econômica mundial.
“Se boa parte do nosso problema de emissões está relacionada ao uso do solo e à agricultura, temos de atuar nesses dois grandes segmentos, que dentro do Congresso são, hoje, muito fortes. Qualquer iniciativa de regulação, seja em nível do Congresso, seja no âmbito das Assembleias Legislativas, ou das políticas locais, que também definem o uso do solo, e como é que se vai fazer sua exploração econômica, passa a ser uma área em que temos de atuar formando uma evidência qualificada, inclusive em termos políticos, para informar a discussão”, resume a presidente do Ipea.
A cada dia são divulgadas novas evidências da emergência climática. Na terça-feira 2, um estudo elaborado pela USP apontou que a seca do Cerrado brasileiro é a maior em mais de 700 anos.