A bancada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na Câmara dos Deputados anunciou nesta terça-feira, 6, o fim do alinhamento automático com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A decisão foi tomada quatro dias após o presidente licenciado da legenda, Carlos Lupi, deixar o Ministério da Previdência Social, em meio a uma investigação sobre fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O afastamento do PDT da base governista ocorre após descontentamentos com a forma como Lupi foi desligado da pasta.
Segundo parlamentares da sigla ouvidos pelo g1, a bancada não passará a integrar a oposição nem pretende se alinhar ao Partido Liberal (PL). Os deputados afirmaram que, a partir de agora, atuarão de forma independente.
O líder do PDT na Câmara, deputado Mário Heringer (MG), declarou que a decisão foi tomada de forma consensual entre os 17 deputados federais do partido.
“Foi unânime pela independência”, disse o parlamentar. De acordo com ele, a medida representa uma resposta ao que classificou como condução inadequada do processo de substituição no Ministério da Previdência.
Dentro do partido, a substituição de Lupi por Wolney Queiroz foi mal recebida. Um deputado pedetista afirmou, sob reserva, que a escolha do novo ministro não representa a bancada da legenda e foi considerada uma imposição do Palácio do Planalto.
“Não temos condições de ser oposição, não vamos nos agrupar ao PL. Mas temos pautas identitárias que casam com o governo. Deixamos a base e ficamos independente”, afirmou o parlamentar.
O PDT integrava formalmente a base de apoio ao governo Lula desde o início do atual mandato, em janeiro de 2023. Apesar disso, divergências entre setores do partido e o Executivo vinham se acumulando nos últimos meses, especialmente em relação à condução de políticas na área social e ao espaço ocupado pela legenda no governo federal.
Na eleição presidencial de 2022, o PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes ao Palácio do Planalto. Após o desempenho abaixo do esperado no primeiro turno, o partido declarou apoio a Lula na segunda etapa da disputa.
A reunião da bancada nesta terça-feira contou com a presença de Carlos Lupi. Segundo relatos de parlamentares, ele utilizou o encontro para apresentar um balanço de sua atuação à frente do Ministério da Previdência e se defender das acusações que surgiram após o início das investigações sobre o esquema de fraudes no INSS.
De acordo com os deputados presentes, Lupi afirmou que sua gestão atuou para combater irregularidades no sistema previdenciário e negou qualquer envolvimento com as práticas investigadas. “As investigações não vão revelar qualquer conduta ilegal praticada por mim”, teria dito o ex-ministro durante a reunião.
Lupi pediu demissão do cargo na última sexta-feira, 2. A decisão foi anunciada após a intensificação da crise gerada pela revelação de um esquema de fraudes e desvios de recursos relacionados a aposentadorias e pensões. As denúncias levaram à abertura de investigações por órgãos de controle e provocaram desgaste político dentro e fora do partido.
Embora o ex-ministro não tenha sido formalmente citado como envolvido nas investigações até o momento, integrantes do PDT avaliam que a condução do processo pelo governo federal fragilizou a posição da legenda na Esplanada dos Ministérios. Parlamentares criticaram a falta de diálogo e apontaram que a demissão foi vista como resultado de um “processo de fritura pública”.
Com a adoção de uma posição independente, o PDT sinaliza que irá avaliar caso a caso os projetos enviados pelo Executivo ao Congresso Nacional. A legenda deve manter apoio a pautas que estejam alinhadas com seu programa histórico, mas não se compromete mais com votações sistemáticas favoráveis ao governo.
Apesar do afastamento formal da base, lideranças do partido indicaram que a decisão não implica em rompimento definitivo com o Executivo.
O movimento, segundo essas fontes, busca preservar a autonomia da bancada e responder às demandas da militância e das lideranças regionais da legenda, que manifestaram insatisfação com a atual configuração da relação entre o partido e o Planalto.
Até o momento, o Palácio do Planalto não se manifestou oficialmente sobre a decisão da bancada pedetista. Nos bastidores, aliados do governo avaliam que a movimentação pode dificultar a articulação política no Congresso, especialmente em votações que exigem maioria qualificada.
Com 17 deputados federais, o PDT possui uma bancada de tamanho médio na Câmara, mas sua atuação em pautas estratégicas tem sido considerada relevante por analistas políticos.
A posição adotada agora pode influenciar outros partidos do chamado “centro democrático”, que também têm demonstrado insatisfação com a interlocução do governo com o Legislativo.
A expectativa, segundo parlamentares da sigla, é que o novo posicionamento permita ao partido recuperar protagonismo no debate político sem abrir mão de suas bandeiras históricas.
A bancada deverá manter reuniões periódicas para definir orientações de voto e discutir propostas legislativas com base em critérios técnicos e políticos próprios.
A mudança no status do PDT no Congresso reforça os sinais de reorganização no campo político em torno do governo federal e pode ter impactos nos próximos ciclos legislativos.