Na terça (6) e na quarta (7) o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), se reúne para definir a taxa básica de juros, a Selic. Analistas de mercado preveem aumento de 0,5 ponto percentual, o que pode elevar a taxa para 14,75% ao ano, alcançando o maior nível desde 2006. Para denunciar o abuso, as centrais sindicais promovem em São Paulo (SP), na Avenida Paulista, na terça, às 10 horas, um protesto em frente à sede paulista do BC.

O protesto coincide com início da reunião do grupo, que ocorre em Brasília (DF). Como lembra Carlos Pereira, redator especial da Hora do Povo e membro da direção nacional do PCdoB, os juros de de 14,25% são o “aspecto mais grosseiro” da política neoliberal.

“Em síntese, [os juros] são um dreno fincado no coração dos países dependentes e da periferia do capitalismo para drenar sua força de trabalho ao capital financeiro internacional. É o Consenso de Washington completado pelo câmbio livre, isto é, da soberania nacional, pelas privatizações, pela compulsão em superávit primário. Não deu certo em nenhum país: só provocou estagnação econômica, aprofundou a dependência, a informalidade e o arrocho salarial”, diz Pereira.

Na sua crítica aos juros, Pereira ressalta que o neoliberalismo não tem nada de científico, “está mais para uma religião”. Como lembra, de acordo com o BIS (Banco de Compensações Internacionais), existem US$ 660 trilhões em títulos, seis vezes mais do que a soma do PIB Mundial, ou seja, da economia real que soma US$ 110 trilhões.

Para ele, o maior exemplo da perversidade com que os juros são utilizados acontece no Brasil: “Há 40 anos estagnado, desindustrializado e com o salário mínimo de fome. Voltamos a ser uma economia agrária-exportadora. No essencial, continuamos nessa. Em 2024, só de juros, pagamos ao rentismo R$ 1 trilhão, mais que o orçamento da Saúde, da Educação e o Bolsa Família, somados e multiplicados por dois. E a coisa vai de mal a pior, pois os juros seguem aumentando”, critica.

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Segundo o dirigente, o Brasil precisa retomar o desenvolvimento econômico por meio da reindustrialização, pois a indústria é a alma da nação. Dessa forma, acredita que a mobilização dos trabalhadores é fundamental.

Carlos Pereira. Foto: Arquivo

“É preciso criar uma ideologia de massas do nacional desenvolvimentismo. O neoliberalismo está em crise. Os países que não seguiram o seu receituário, em especial a China, se desenvolveram de forma vigorosa. Essa é a hora para unir trabalhadores, empresários, estudantes, em busca dessa retomada do crescimento. Está aberta a janela de oportunidades para unir a nação com esse objetivo”, afirma, ao apoiar a movimentação das centrais contra os juros altos.

Em março, Pereira lançou o livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e Empresários pela Reindustrialização do Brasil” (Editora Página 8), organizado a partir dos debates do Seminário Nacional pela Reindustrialização do Brasil, promovido pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), em 2024.

Foto: Arquivo

No livro, patrocinado pela central e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o autor traz os fundamentos para a unidade entre trabalhadores e empresários pela reindustrialização do país, o que passa pela redução dos juros como forma de promover maior investimento no setor produtivo.

“O Brasil está sufocado pelos juros absurdos, não somente a indústria, mas, principalmente, os trabalhadores. O Estado brasileiro, é um Estado colonial. É ele quem garante os juros altos, as privatizações e libera o fluxo de capitais, através da política cambial. Isso já foi diferente. Entre os anos 1930 e 1980, fomos o país que mais cresceu no mundo, construímos uma vigorosa indústria de base e o salário mínimo era o suficiente para uma família de quatro pessoas. Precisamos superar o Estado colonial, que viabiliza o neoliberalismo, por um Estado soberano, que promova o desenvolvimento nacional”, explica Pereira.

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Last Update: 05/05/2025