
Com apenas 15 anos e mais de 1,2 milhão de seguidores, Miguel Oliveira se autodeclara missionário e profeta. Figura influente nas redes sociais, o pastor pentecostal tem se tornado símbolo do fenômeno dos “pastores mirins”, crianças e adolescentes que lideram cultos evangélicos, acumulam fãs — e críticas — online, e acendem alertas sobre exposição infantil em ambientes religiosos.
Miguel viralizou ao protagonizar vídeos com supostas curas milagrosas, como quando “rasgou o câncer” e “filtrou o sangue” de uma mulher diagnosticada com leucemia. Em outras gravações, afirma falar em línguas espirituais e até arrisca frases em inglês durante os cultos.
“Tô com 15 anos e 1,2 milhão de seguidores hoje”, disse ele ao podcast ‘Eu Acredito’, ao comentar as críticas que recebe por sua aparência e estilo de pregação. “Tem pessoas frustradas aí, com 50, 60 anos, que nunca chegaram aonde eu tô chegando”, provocou. O adolescente enfrenta ameaças que são alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo.
Além dele, vídeos de crianças em púlpitos, vestidas de terno e com discurso inflamado, se espalham pelas redes. Uma dessas gravações mostra um menino pequeno gritando “Glorifica o nome do Senhor”, o que gerou críticas por suposta exploração da infância.
Para o advogado Pedro Hartung, diretor do Instituto Alana, que defende os direitos das crianças, há uma linha tênue entre liberdade religiosa e exposição nociva. “Quando a participação se transforma em exploração da imagem digital da criança, há consequências negativas. Muitas vezes ela não está preparada para lidar com a repercussão.”
O especialista alerta também para os casos em que há monetização do conteúdo gerado pelos pequenos pregadores. “Há expectativa de performance constante, o que se aproxima do trabalho infantil, ainda que em contexto religioso”.

O fenômeno é antigo, mas ganhou novas proporções com a internet. O pastor Leoncio Ota, por exemplo, tem dois filhos missionários: João Vitor, de 16 anos, com 1,4 milhão de seguidores, e Esther, de 9, que já acumula quase 9 mil seguidores no Instagram.
Segundo ele, o incentivo parte da própria criança. “Mas nunca pode obrigar seu filho a fazer nada que ele não queira”, diz. “Tem que vir da parte dele, né? E aí você dá uma cobertura espiritual, blinda”, afirma.
Sob a ótica teológica, o apóstolo Estevam Hernandes, líder da igreja Renascer em Cristo, é categórico: não há base bíblica para pastores mirins. “Jesus foi ao templo aos 12 anos, mas só começou seu ministério com 30. É precipitado estimular crianças a se intitularem pastores”, afirma.
Esse movimento infantil no meio evangélico, embora polêmico, não é exclusivo do Brasil. Em 2011, o americano Kanon Tipton entrou para o Guinness como o pregador mais jovem do mundo, aos quatro anos, após viralizar em um vídeo no qual balbuciava como um pastor durante um culto do avô.
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