Realizado em Tânger, cidade de Marrocos, o III Encontro Internacional Iniciativa pela Paz reuniu mais de 60 organizações de esquerda de todo o mundo em um momento decisivo da luta internacional contra o imperialismo. Convocado originalmente como resposta à agressão imperialista dos EUA e da OTAN contra a Rússia, o Fórum expandiu suas pautas e hoje assume como eixo central a defesa da Resistência armada dos povos oprimidos — em especial na Palestina — e a construção de uma frente internacional contra a ameaça da guerra imperialista global.
Nesta entrevista exclusiva ao Diário Causa Operária, Antonio Carlos Silva, membro da Direção nacional do PCO nos traz um panorama dos principais temas debatidos e os avanços políticos obtidos. O companheiro fala também sobre a repercussão das propostas do Partido, da campanha internacional em defesa do Hamas e da necessidade urgente de uma mobilização coordenada contra a ofensiva imperialista mundial.
Confira a entrevista, na íntegra:
Diário Causa Operária: Quais são as principais pautas e questões discutidas na Conferência?
Antônio Carlos: O Fórum, que reúne mais de 60 organizações de esquerda, foi convocado desde sua primeira edição, em 2023, como uma resposta à agressão imperialista dos EUA e da OTAN contra a Rússia — utilizando, para isso, o regime reacionário ucraniano, marcado pela presença de forças nazistas. Logo passou a incorporar a defesa da Palestina e, gradualmente, a defesa da resistência armada contra a agressão sionista. O encontro atual também debate a nova conjuntura na Europa, na América Latina e no mundo todo, diante da divisão no seio do imperialismo e da ascensão de Trump ao poder. Embora conte com muitos grupos distintos e heterogêneos, o Fórum discute como enfrentar a ameaça de uma guerra imperialista em curso, bem como o risco de uma Terceira Guerra Mundial.
DCO: Sobre a questão da Rússia e Ucrânia, há uma caracterização geral dos participantes sobre a importância de defender a Rússia contra as agressões da OTAN? Como foram as intervenções sobre esse tema?
AC: Existem posições diversas sobre esse tema — como, aliás, sobre a maioria dos assuntos discutidos. No entanto, há um entendimento predominante de que estamos diante de uma guerra imperialista, caracterizada como uma agressão dos Estados Unidos, da OTAN e do imperialismo em geral contra um país oprimido. Nesse sentido, prevalece a avaliação de que a Rússia deve ser defendida por todos os setores progressistas. Essa posição foi manifestada por representantes da Rússia, de países europeus, dos Estados Unidos, da América Latina e da África.
DCO: E sobre a Palestina?
AC: No que diz respeito à questão palestina, é evidente que houve uma evolução desde o primeiro encontro. O apoio à Resistência e à luta armada tem ganhado força, mesmo diante da postura pacifista de alguns setores da esquerda — que, no início, hesitaram em defender a luta do Hamas e de outras forças da Resistência.
A posição ambígua do partido anfitrião, o PPS (Partido Progressista Socialista), que mantém uma relação conciliadora com o regime sionista marroquino — chegando ao ponto de cumprir formalidades locais absurdas, como expor uma foto do rei na mesa do encontro — acabou limitando o debate e a proposição de iniciativas mais contundentes sobre o tema.
Apesar disso, destacou-se a intervenção do companheiro Ahmed Shehada, palestino-brasileiro e presidente do IBRASPAL, que fez uma denúncia contundente contra o regime sionista, defendeu de forma firme a luta revolucionária do Hamas e das demais forças da Resistência, e ressaltou que, sem apoio à luta armada, não há apoio real à causa do povo palestino.
DCO: Sobre a participação do PCO, como foi a nossa intervenção?
AC: O nosso partido contou com uma das maiores delegações estrangeiras presentes no encontro, composta por sete companheiros. Além de representarmos a direção nacional do PCO, nossa delegação incluiu militantes dos Estados Unidos, Espanha e Portugal.
Assim como na recente turnê que realizamos pela Europa, estamos divulgando o livro “O Hamas conta seu lado da História”, agora também lançado em espanhol e inglês.
Nossa delegação participou ativamente de todos os debates e foi responsável pela intervenção de abertura na sessão dedicada à situação da América Latina — que contou também com a participação do embaixador de Cuba e de representantes do Partido Comunista de Cuba (PCC) e do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV).
Em nossa intervenção, denunciamos os golpes e o caráter reacionário dos regimes que, na América Latina e no mundo, atacam os direitos democráticos sob o pretexto de combater o “fascismo”. Defendemos firmemente a Venezuela, Cuba e Nicarágua contra os embargos e sanções imperialistas, e apresentamos propostas concretas para fortalecer a luta anti-imperialista.
Entre elas, destacamos a defesa de que o governo Lula — assim como outros que se reivindicam da esquerda — rompa relações com o regime sionista; propusemos que o Fórum avance no debate sobre a construção da Internacional Antifascista; e sugerimos ações comuns dos movimentos de luta contra o imperialismo, como a realização de um ato internacional em apoio ao ingresso da Venezuela nos BRICS, além de mobilizações durante a COP 30 para denunciar a política criminosa do imperialismo contra a soberania do Brasil e dos povos da Amazônia, especialmente no que diz respeito à exploração do petróleo e das demais riquezas da região em benefício das populações locais.
DCO: Houve uma banca de materiais do PCO, inclusive com o livro sobre o Hamas. Como foi a recepção do público aos nossos impressos e à nossa política?
AC: Como faz em todas as atividades de que participa, a militância do PCO organizou uma banca que, além de divulgar o livro “O Hamas conta seu lado da História”, serviu como ponto de encontro e espaço de debate com militantes de diversos países. A banca foi bastante movimentada e se tornou um importante canal para apresentar as posições do PCO e discutir os principais temas em debate no encontro, ampliando o alcance da nossa política e fortalecendo os laços com outros setores da esquerda internacional.
DCO: Para encerrar, fale sobre as perspectivas de luta internacional, dessa formação de uma frente contra o imperialismo e da importância disso para a luta política em geral, inclusive no Brasil.
AC: O encontro se encerra neste domingo. Ainda estamos debatendo as resoluções e a elaboração de um documento final, mas já surgiram diversas propostas voltadas para uma mobilização mais efetiva após a realização deste terceiro encontro. Entre elas, destacam-se iniciativas como visitas de delegações desses movimentos à Palestina, à Venezuela e a Cuba, além da participação em atos e campanhas internacionais em defesa da Palestina e pelo fim da guerra na Rússia.
São passos ainda pequenos, pois se trata de um movimento incipiente, que reflete um processo de discussão e amadurecimento marcado por grande heterogeneidade e confusão — em grande parte, resultado da política adotada pelas principais direções da esquerda no cenário internacional. Apesar disso, é visível um avanço: há uma evolução política em setores importantes da esquerda.