O Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, entidade ligada à Comissão Pastoral da Terra (CPT), acaba de divulgar seu levantamento sobre a questão dos conflitos no campo em 2023, ocorridos no Brasil.

Foram registradas 2.203 ocorrências de conflitos, o maior número já registrado na série histórica do referido levantamento. “A maioria dos conflitos registrados é pela terra (1.724, também o maior número já registrado pela CPT), seguidos por ocorrências de trabalho escravo rural (251) e conflitos pela água (225). Dentre as regiões, a região Norte foi a que mais registrou conflitos (810). Foram assassinados 14 indígenas e 9 sem-terra, sendo estas as populações que mais sofrem esse tipo de violência extrema, seguidos de posseiros (4) e quilombolas (3). O relatório registrou também ações de resistência, que tiveram aumento expressivo em 2023, incluindo 119 ocupações e retomadas, sendo 22 conduzidas por indígenas, 3 retomadas quilombolas e outras 94 pelas demais identidades sociais” (Site CPT).

Os dados da violência no campo vêm crescendo nos últimos 10 anos, com destaque para a primeira posição: 264 ocorrências de pistolagem; 37 expulsões; 101 destruições de pertences. Na segunda posição nos últimos dez anos, estão 359 invasões; 73 destruições de casas e 66 ocorrências de destruição de roçados. O mesmo levantamento revela que, nos últimos dez anos, foram registrados 420 assassinatos. Embora o total em 2023 tenha sido 34% menor em comparação com o ano anterior, o número de assassinatos nos dois últimos anos se manteve igual.

O levantamento realizado pela CPT revela, mais uma vez, o brutal ataque que os trabalhadores do campo sofrem há décadas. Coloca em evidência, de maneira trágica, o caráter ditatorial do regime “democrático” da burguesia.

Há um esforço concentrado dos partidos políticos, da imprensa e das demais instituições do regime burguês para ocultar os verdadeiros fatos que envolvem as chacinas no campo. Os governos, a serviço dos latifundiários especuladores — ladrões e assassinos de pessoas desarmadas —, levam a cabo uma verdadeira operação de guerra contra os trabalhadores pobres: homens, mulheres e crianças vítimas dos jagunços e do aparato repressivo do Estado. As emboscadas, os tiros pelas costas, as execuções frias e a queima dos barracos com todos os seus escassos pertences atingem pessoas que apenas lutam por sua sobrevivência.

É evidente que esse levantamento não dá conta dos verdadeiros números das atrocidades que acontecem no campo, cujas operações não deixam nada a dever às piores ditaduras militares da América Latina. Para minimizar os fatos, não hesitam em ocultar os cadáveres de vários trabalhadores assassinados, que engrossam a enorme lista de desaparecidos, vítimas da violência do Estado burguês. Não há qualquer ação para responsabilizar os órgãos de repressão do Estado, principalmente a Polícia Militar, responsável por inúmeros massacres — um verdadeiro aparato de guerra contra a população trabalhadora.

O encobrimento, com um manto de silêncio, da responsabilidade pelo que acontece no campo é de extrema gravidade e, no frigir dos ovos, significa apoiar a política de massacre no campo, que trará, fatalmente, resultados ainda mais desastrosos para a classe trabalhadora se não for superada por uma política de independência completa em relação à burguesia.

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Last Update: 04/05/2025