A agência de inteligência da Alemanha classificou nesta sexta-feira 2 a sigla de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma “organização comprovadamente extremista de direita” que ameaça a democracia.

Segundo o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), o partido viola a dignidade humana e a democracia ao tentar excluir grupos populacionais, como imigrantes, da participação igualitária na sociedade.

A medida permite à agência monitorar de forma mais incisiva o partido que ficou em segundo lugar nas eleições federais de fevereiro.

Algumas alas da AfD, como seu braço jovem e três diretórios regionais do partido, já haviam sido classificadas como extremistas.

Já as ações da sigla como um todo eram analisadas desde 2019 pelo BfV – à época, o rótulo se limitava a um “caso de interesse”. Com isso, o serviço de proteção à Constituição só tinha permissão para coletar e avaliar declarações públicas de dirigentes do AfD.

Em 2021, o órgão atualizou sua análise e passou a tomar a sigla como “suspeita de extremismo”. Essa classificação mais rígida permite que as autoridades usem métodos confidenciais para monitorar o partido e seus membros. O entendimento foi confirmado em dois tribunais alemães após o partido entrar com ações judiciais contestando o rótulo.

Ameaça à democracia

Agora, segundo o BfV, há evidências concretas de que o partido anti-imigração fundado em 2013 busca esforços que ameaçam a ordem democrática da Alemanha.

“O entendimento predominante do partido sobre as pessoas com base em etnia e descendência é incompatível com a ordem democrática livre”, disse a agência.

As declarações e posições do partido e dos principais representantes da AfD violam o princípio constitucional da inviolabilidade da dignidade humana, afirmaram os vice-presidentes da agência, Sinan Selen e Silke Willems.

Segundo o órgão, o objetivo da legenda é “excluir determinados grupos populacionais da participação igualitária na sociedade, submetê-los a um tratamento que viola a Constituição e, assim, lhes atribuir um status subordinado”.

A AfD não considera os cidadãos alemães de origem imigrante de países predominantemente muçulmanos como membros iguais do povo alemão, acrescentou o BfV. Tal abordagem, diz o órgão, desperta “medo irracional e hostilidades” contra estes grupos.

Em uma declaração separada, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, que está deixando o cargo, disse que o partido faz uma campanha aberta contra a ordem democrática.

“A AfD representa um conceito étnico que discrimina grupos populacionais inteiros e trata os cidadãos com histórico de migração como alemães de segunda classe”, disse em um comunicado.

A categoria de “extremista” atribuída pelo BfV não pressupõe a proibição de partidos políticos, que só pode ser solicitada ao Tribunal Constitucional por uma das câmaras do parlamento alemão ou pelo próprio governo.

Partido anti-imigração

A AfD vem resistindo ao monitoramento do BfV e tentado impedir que sua classificação se torne pública.

Nos últimos anos, lideranças do partido geraram controversas ao relativizar o nazismo ou afirmar que Adolf Hitler foi “forçado” a invadir a Polônia.

A sigla também acumula manifestações anti-imigração e, em seu programa partidário, vê “a ideologia do multiculturalismo como uma séria ameaça à paz social e à existência contínua da nação como uma entidade cultural”.

Um dos líderes mais expressivos da AfD, Björn Höcke, foi multado por usar um slogan nazista proibido em um comício de campanha no ano passado.

Segunda maior força política

Após uma campanha eleitoral dominada por temas como imigração e crise econômica, a AfD se firmou como a segunda maior força do Parlamento Alemão (Bundestag) nas eleições federais antecipadas ocorridas em fevereiro passado.

No pleito, o partido quase dobrou sua votação em relação à votação de 2021, obtendo 20,8% dos votos, segundo a contagem final. São dez pontos percentuais a mais do que na eleição anterior.

Além de crescer, a AfD também ultrapassou legendas tradicionais como o Partido Social-Democrata (SPD) e os Verdes, as duas siglas que compõem o atual governo de coalizão liderado pelo chanceler federal Olaf Scholz, que sofre com impopularidade.

Os ultradireitistas ficaram apenas atrás da União Democrata-Cristã (CDU), a legenda chefiada pelo deputado Friedrich Merz, que deve liderar o próximo governo.

Após a eleição de fevereiro, o partido reabilitou em suas fileiras políticos que tinham sido colocados à margem devido a comentários relativizando o nazismo. O bilionário Elon Musk fez campanha para o partido, dizendo que era o único que poderia “salvar a Alemanha”.

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Last Update: 02/05/2025