Não teremos um 1º de maio arretado
por Francisco Celso Calmon
O dia 1º de maio foi escolhido para marcar e lembrar as muitas e difíceis lutas da história dos trabalhadores no mundo, pois fora nesse dia, em 1886, na cidade de Chicago, EUA, que os operários enfrentaram intensa repressão policial por reivindicarem melhores condições de trabalho e, sobretudo, uma jornada de oito horas. Nesse evento houve trabalhadores que foram agredidos, presos e até mortos, e tornaram-se símbolos de luta para a classe trabalhadora.
Após 139 anos, mesmo tendo havido avanços na conquista de direitos, houve retrocessos a partir do golpe à presidente Dilma Rousseff, com o governo do traidor Temer, e a classe operária luta pelos antigos e novos direitos trabalhistas.
Os corpos cansados dos trabalhadores ainda são explorados nos limites da exaustão pelas empresas, seja do campo, da indústria, do comércio. E dos serviços.
A jornada diária de oito horas foi um triunfo, contudo, com tanta tecnologia criada, essa jornada por seis dias e um de descanso, 6 por 1, não faz mais nenhum sentido, é crueza do capital, que suga até sangrar. É hora do basta!
No início de abril, centrais sindicais assinaram um documento unificado, que contém as bandeiras de luta: redução da jornada de trabalho para quatro dias semanais, fim da carestia, isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês, juros mais baixos e igualdade salarial entre homens e mulheres.
Quem ganha menos, pague menos impostos, quem ganha mais, paga mais, crescente proporcionalmente, impostos.
Mesmo com o movimento da luta operária ultrapassando a marca de um século, o clamor “Proletários de todo o mundo, uni-vos”, do Manifesto Comunista, não se consumou, especialmente por não terem adquirido a consciência de classe como força motriz das transformações estruturais.
Lula, traumatizado pelo evento frustrado do ano anterior, decidiu receber as Centrais Sindicais no Palácio e se manifestar pelos meios de comunicação, e não com a presença em mobilizações públicas. Isto pode ser um sintoma de que os corações e as mentes dos operários estão desconectadas da história do Primeiro de Maio ou Lula já não veste o macacão em sua consciência ideológica?
O Papa Francisco faleceu no dia 21 de abril, um papa amigo dos trabalhadores, fiel ao legado de Cristo. A presença sábia e humana de Francisco no cargo de Sumo Pontífice, neste 1º de maio sentiremos a sua falta, reafirmando o seu compromisso com os operários, os jovens, imigrantes e os pobres, como vemos nestas suas declarações:
“O capitalismo do nosso tempo não abrange o valor do sindicato porque se esqueceu da natureza social da economia, da empresa. […]. Mas, talvez, a nossa sociedade não compreenda o sindicato até porque não o vê lutar o suficiente nos lugares dos direitos que ainda não têm nas periferias existenciais, no meio dos descartados do trabalho.”
“Não há sindicato sem trabalhadores e não há trabalhadores livres sem sindicatos.”
“Os custos humanos são sempre também custos econômicos e as disfunções econômicas sempre implicam também custos humanos. Desistir de investir nas pessoas para obter um lucro mais imediato é um mau negócio para a sociedade.”
“O mundo perde bilhões de dólares por ano em armas e violência, somas que acabariam com a pobreza e o analfabetismo se pudessem ser reencaminhadas.”
“Esta economia mata. Precisamos e queremos uma mudança de estruturas.”
Escrevo este texto, até certo ponto angustiado, de como será a expressão deste primeiro de maio de 2025, quando o inimigo ideológico dos trabalhadores, o Globo, completa 60 anos de conspirações e ações golpistas em prol do imperialismo e das oligarquias centenárias, e chegamos aos 61 anos do golpe militar de 1964 – que deixou marcas indeléveis e transgeracionais, e os seus responsáveis ainda não foram criminalmente denunciados, julgados e processados como a história exige?
Esse primeiro de maio será de festa? Será de luta? Será de luto?
A história nos ensina que soluções negociadas sem a participação dos movimentos dos trabalhadores são efêmeras, não têm sustentabilidade de raiz, portanto, que neste dia seja marcado pelo grito uníssono:
ANISTIA A GOLPISTAS NUNCA MAIS! VIVA A CLASSE TRABALHADORA!
Condizente com os dizeres deste artigo e em homenagem à Rússia, que no dia 9 de maio celebra o dia da vitória contra a Alemanha nazista, e ao Vietnã, que comemora hoje, 30/04, os 50 anos da vitória sobre os Estado Unidos, convido a todos e todas a escutarem o hino da resistência soviética à invasão nazista, a marcha militar “Священная война” (Sviaschennaia voina), Guerra sagrada.
“Levanta-te, país imenso,
Levanta-te para a luta mortal
Contra as forças malignas fascistas,
Contra suas hordas malditas.
Que a nobre fúria
Emerja como uma onda!
Eis que vem a guerra popular,
uma guerra sagrada!
Repeliremos os opressores
De todas as ideias ardentes,
Os estupradores, os saqueadores,
Os torturadores de pessoas.
Não se atrevam as asas negras
Sobre a Pátria Mãe voar.
Nos seus espaçosos campos
Não ouse o inimigo pisar!”
Священная война – guerra sagrada [Legendas PT-BR]
Trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, não se rendam ao capital, vossas forças são maiores do que imaginam e sentem, são imensas, pois carregam as sementes do devir da história.
Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “