O aboio é um canto do vaqueiro para “conversar” com o gado e, segundo o pesquisador Estêvão Amaro dos Reis, teve origem em um momento em que as fazendas ainda não tinham cercas. Os vaqueiros, então, “tinham de buscar o boi na caatinga”.
É um dos exemplos de cantos de trabalho ou de labor — que eram, em sua maioria, do interior do País. Começaram a se perder, de acordo com Reis, com a forte migração do campo para a cidade. Ele destaca também que essas melodias se adaptam ao movimento do trabalho coletivo.
Estêvão Amaro dos Reis é doutor em Música pela Unicamp e autor do livro recém-lançado O Folclore É um Processo.
Outro exemplo cabe às destaladeiras de fumo de Arapiraca (AL), famosas pelas cantorias, mas que hoje formam um grupo musical. “Esse canto de trabalho é dos anos 1940 e 1950, quando a indústria do fumo era muito forte. Hoje, elas cantam e demonstram como faziam para destalar ou tirar o talo do fumo”, narra Reis.
Ele lembra que os carregadores de piano no Recife (PE), relatados nas pesquisas de Mário de Andrade, tinham um canto específico para a atividade — que se perdeu com o fim desse tipo de trabalho. De 1997 a 2012, houve um projeto para resgatar o canto, com a convocação de antigos carregadores para entoar a cantiga conduzindo um piano alugado.
Os grupos de fandango de tamanco do interior de São Paulo exemplificam outra atividade que se extinguiu. “Eram tamancos feitos com (madeira de) laranjeira para fazer o chão das casas de terra batida. Eles cantavam e dançavam para bater o pé no chão.”
Reis enfatiza, por fim, que os cantos de labor não nasceram exatamente nos ambientes profissionais. Muitos deles envolviam melodias usadas em ocasiões de lazer que chegavam ao local de trabalho para facilitar a atividade. “Alguns desses cantos voltam para o ambiente das festas, passando a ter função estética”, completa.