O artigo As comemorações da derrota do nazismo ressignificam a atualidade nazistóide de Trump, de Marcelo Zero, publicada neste 29 de abril, no Brasil 247, repete a história contada milhões de vezes de que, “durante a Segunda Guerra Mundial, a humanidade correu o sério risco de sucumbir às forças do nazifascismo”, e que “a Europa, em particular, foi, durante anos, praticamente toda tomada pelas forças de Hitler”.
Décadas de propaganda, filmes, livros, matérias de jornais nos levaram a acreditar em uma versão que não corresponde aos fatos. Não vivemos em mundo democrático que foi salvo de uma ditadura monstruosa. O regime nazista era muito bem aceito por todas as “democracias”, e só foi combatido porque tentou disputar colônias com as grandes potências imperialistas da época.
Após a derrota dos nazistas, a grande imprensa tenta apagar, e trata como “controversa”, a admiração que o Duque de Windsor (Edward III) dispensava a Hitler, a quem visitou em 1936, e com quem partilhava de muitas ideias.
Poucos anos antes, em 1933, o Papa Pio XI, em 1933, assinou uma concordata com a Alemanha nazista liderada por Adolf Hitler.
Com o início da Guerra, a burguesia francesa mal esboçou uma reação contra os nazistas. Durante o governo colaboracionista do marechal Philippe Pétain, a França foi dividida em duas zonas: a ocupada no norte e oeste, uma “zona livre” no sul, onde se estabeleceu o governo de Vichy. Esse regime ficou conhecido por ser ditatorial, ter perseguido judeus e colaborado com o Terceiro Reich.
Qual é a diferença?
Marcelo Zero sustenta que “caso essas forças [nazistas] não tivessem sido derrotadas militarmente, o mundo de hoje poderia ser muito diferente. Poderíamos ainda estar sob o tacão de forças totalitárias, racistas e genocidas”. O mundo de hoje não está nada bem, manifestantes são presos na Europa e nos Estados Unidos por apoiarem a Palestina. No Brasil, pessoas estão sendo processadas e investigadas por “antissemitismo” e terrorismo por apoiarem a resistência e denunciarem o genocídio na Faixa de Gaza.
O autor do artigo diz que “devemos estar sempre gratos àqueles que deram suas vidas para que o mundo superasse esse grande perigo, hoje muito presente, sob diversas formas”. Devemos ser gratos às pessoas que deram suas vidas na luta contra o fascismo, não aos governos “democráticos” que venceram a Guerra.
Não houve superação do perigo do fascismo, mas um aprofundamento. Após a II Guerra, iniciou-se um período de grande perseguição à esquerda. Já no final dos anos 1940, se estabeleceu e fortaleceu o macartismo, que criou um clima de medo e desconfiança na sociedade norte-americana. Inúmeros artistas foram colocados em listas negras e ficaram sem possibilidade de trabalhar.
Em 1941, sob as bênçãos da Coroa Britânica, sobe ao poder no Irã o xá Mohammad Reza Pahlavi, um regime brutal que durou 22 anos. Pouco depois, em 1948, tivemos a criação do Estado de “Israel”, um regime fascista, verdadeiro enclave militar no Oriente Médio, que até hoje promove genocídios contra o povo palestino e ataca seus vizinhos regularmente. O regime sionista é financiando e apoiado pelas “democracias” liberais.
Em 1953, sob a desculpa de conter o comunismo, os EUA iniciaram um verdadeiro massacre na Coreia do Norte, que tentava a reunificação. Estimativas dizem que pelo menos 3 milhões de pessoas, 10% da população norte-coreana foi morta, sendo 70% de civis. Toda a infraestrutura do país foi destruída, o que causou um período de fome e mais mortes.
Nos anos 1960, a América Latina passou por uma onda de regimes militares, abertamente fascistas. Esses governos subiram ao poder por meio de golpes planejados, financiados, e com a participação especialmente da grande democracia americana que, dentre outras barbaridades, criou a Escola das Américas, um centro de treinamento militar para golpes e técnicas de tortura.
O final da Guerra não estabeleceu um mundo democrático, mas uma autocracia imperialista que inspirou livros como 1984, de George Orwell.
Os bombardeios de Dresden, Hirosxma, e Nagasáqui, comprovam que os vencedores eram iguais ou piores que Hitler.
Dresden era uma cidade que estava ocupada principalmente por refugiados. Foram três ondas de bombardeios ininterruptos. Há relatos de que os caças norte-americanos e britânicos sobrevoavam as estradas e metralhavam as pessoas que tentavam escapar da destruição.
As bombas atômicas sobre o Japão já rendido são atrocidades que supera as dos nazistas. Em Hirosxima, algo em torno de 80 mil pessoas morreram instantaneamente, e outras dezenas de milhares morreram posteriormente em decorrência de ferimentos e efeitos da radiação. Em Nagasáqui, os números são aproximados e igualmente aterradores.
Trump, o espantalho
Apesar de afirmar que Trump tem a quintessência política de Hitler, o fato é que o atual presidente norte-americano, ao contrário do chanceler alemão, não tem o apoio do imperialismo. Hitler não teria sido nada sem o apoio do grande capital.
Estão usando Trump para apresentar uma situação, falsa, de “democracia x fascismo”, mas nunca houve uma contradição real, não ideológica, entre o imperialismo e fascismo. Basta ver que, neste momento, os nazistas ucranianos continuam a ser financiados pelos governos “democráticos” da União Europeia.
A revolução colorida na Ucrânia, o Euromaidan, aconteceu durante o governo de Barack Obama, cujo vice era ninguém menos que Joe “Genocida” Biden.
O massacre em Gaza tem a participação direta, não apenas financeira, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França. Todas as atrocidades que os sionistas praticam morrem na ONU.
O avanço da extrema direita não é impulsionado por Trump, mas pelo neoliberalismo, pelo grande capital financeiro. O atual presidente norte-americano, ao contrário de seu antecessor, está tentando negociar o fim do conflito na Ucrânia.
Marcelo Zero sonha que a União Europeia (UE), com o isolamento de sua extrema direita e Trump, poderia pensar em novas alianças com o “Sul Global”, e poderia criar um novo “pacto de defesa, para além da OTAN, como se imaginou no início deste século”.
De início, é preciso dizer que a OTAN não tem nada de defesa, serve para atacar. Os novos pactos que estão se formando, o que inclui a UE, é um avanço sobre a China, principalmente.
No final de seu texto, o autor afirma que “a ordem mundial só poderá sobreviver, remodelada, com decisões difíceis e inusitadas, que extrapolem os antigos paradigmas destroçados por Trump e aliados”. A ordem mundial, como se sabe, é a ditadura do capital contra os países atrasados, e ninguém vai querer que essa opressão sobreviva.
Curiosamente, Trump, perto dos “antigos paradigmas” deixados por Biden e seus capachos, fica até parecendo um defensor da democracia. Uma prova de quanto o imperialismo é monstruoso e destruidor.