Nascido em 1859 no bairro Mazraʿa, em Beirute, Nakhla Zurayq pertencia a uma família aristocrática ortodoxa de origem damascena, que remontava sua linhagem aos árabes beduínos da tribo al-Zurayqat, da região de Karak, na atual Jordânia. Filho de Jiryes Zurayq, jamais se casou, dedicando-se integralmente à vida intelectual e à educação. Teve uma formação sólida: estudou nas escolas ortodoxas e, posteriormente, na Madrasa Wataniyya (Escola Nacional), fundada por Butrus al-Bustani — pioneiro da nahda, o renascimento literário árabe do século XIX.
Foi aluno direto de dois dos maiores nomes desse movimento: Nassif al-Yazji e o xeique Youssef al-Asir, com quem estudou profundamente a língua árabe, sua gramática e literatura clássica. Memorista do Alcorão e praticante da arte do tajwid (recitação modulada), também aprendeu inglês e frequentava os salões literários de Beirute, onde travava contato com outros pensadores da renascença árabe. Desde cedo, desenvolveu não apenas erudição, mas uma sensibilidade política voltada à defesa da cultura árabe diante da colonização europeia.
Em 1889, transferiu-se para Jerusalém, enviado por missionários evangélicos para administrar a livraria religiosa da Missão Inglesa. Pouco tempo depois, em 1892, assumiu a direção da Young Men’s Preparatory School, instalada no Monte Sião, no mesmo edifício da escola episcopal de meninos, o Zion College. Posteriormente, a instituição foi renomeada como Young Men’s College e transferida para o bairro Saad wa Said, passando a ser conhecida como English College. Em contraste com a maioria das escolas missionárias do país, que impunham o inglês como idioma de instrução, Zurayq impôs o ensino em árabe.
Além de diretor, lecionava a disciplina de árabe, o que fez até o fim da vida, formando diversas gerações de palestinos. Foi professor de alguns dos maiores intelectuais do país, como Khalil al-Sakakini, Boulos Shehadeh, Khalil Totah, Jiryes al-Khoury, Habib Khoury, George Matta, Ibrahim Tuqan e Wasfi al-Anbatawi.
Seu prestígio ultrapassava a sala de aula. Em 1908, uniu-se à Associação da Irmandade Árabe-Otomana, organização reformista árabe criada em Istambul logo após a restauração da constituição otomana. A associação defendia a preservação do Império Otomano e a igualdade de direitos entre seus súditos árabes e turcos, denunciando a segregação dos árabes nas instituições do Estado otomano.
Após o fim da guerra, foi convidado para integrar o comitê de revisão dos livros didáticos da Academia Militar em Damasco, onde também foi eleito membro da Academia Árabe fundada em 1919 pelo rei Faiçal. A participação na academia, sob a direção do historiador Muhammad Kurd Ali, é a coroação de sua trajetória como um dos maiores filólogos da língua árabe. Kurd Ali o descreveu como “um dos grandes sábios da língua de Jerusalém, íntimo de seus segredos mais profundos”.
Ainda assim, sua estadia na capital síria foi breve. Zurayq preferiu retornar a Jerusalém, cidade onde deixou sua marca mais profunda. Sua residência pessoal funcionava como verdadeiro salão literário, frequentado por personalidades influentes da cidade, como Salim al-Husseini e Faydi al-Alami, ambos prefeitos de Jerusalém. Ali, reunia-se a elite intelectual local, em torno de uma biblioteca pessoal com vasta coleção de obras clássicas de literatura, história e língua árabe.
Nakhla Zurayq era conhecido por sua honestidade intelectual, franqueza extrema e profunda devoção à profissão de educador. Rejeitava terminantemente o que chamava de imitação superficial dos europeus, hábito que, segundo ele, destruía a identidade dos árabes e levava à “autonegação cultural”. Em discurso proferido em seu velório, o ex-aluno Khalil al-Sakakini declarou:
“Nada era mais desprezível e exasperante para ele do que a afetação e o fingimento. A imitação cega do Ocidente o enfurecia. Ele percebia que, ao adotarem os trajes europeus, as pessoas logo passavam a desprezar sua própria língua, costumes e tradições — e, com isso, desprezavam também a si mesmas.”
Essa perspectiva também aparece no testemunho de Ajaj Nuwayhed, que, em suas memórias, descreve encontros com Zurayq em um restaurante de Jerusalém, sempre vestido com o tradicional qunbaz árabe e o sirwal. Para Nuwayhed, Zurayq era “o maior conhecedor da língua árabe na Palestina, um verdadeiro oceano de sabedoria”.
Morreu em 21 de julho de 1921, em Jerusalém, onde foi enterrado.