“A economia vai bem, mas o povo vai mal”, afirmou o ditador Emílio Médici, em um misto de sincericídio e populismo. Àquela altura, o Brasil experimentava o “milagre econômico”, que assentou um modelo de desenvolvimento baseado na ampliação das desigualdades. Cinquenta anos depois e ainda em um processo de recuperação do descalabro bolsonarista, o País tem conseguido, a duras penas, retornar aos trilhos. A economia até vai bem, mas o trabalhador vai mal. As sequelas da pandemia, o aprofundamento da precarização, a pressão por desempenho e as incertezas diante das mudanças tecnológicas e sociais exercem um efeito nefasto sobre a mão de obra, somatizado no crescimento exponencial dos transtornos psicológicos, cujos registros provavelmente estão subnotificados. “A tecnologia não tem sido usada para o bem da humanidade”, afirma o sociólogo Ricardo Antunes, pioneiro no Brasil nos estudos sobre a uberização das relações trabalhistas e uma das fontes da reportagem de capa. Há muito pouco a se comemorar no 1° de Maio.
Também não anda fácil para os velhinhos. Ao longo da semana, os leitores do site puderam acompanhar – e terão a oportunidade de se aprofundar nesta edição – os assuntos que movimentaram o poder em Brasília. Embora tenha sido ligeiro em destituir a cúpula do INSS após a revelação da fraude de ao menos 6,5 bilhões de reais nas aposentadorias, o governo Lula titubeia em relação ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. O PDT, partido de Lupi, ameaça deixar a base do governo, mas sua permanência no cargo cria outro problema: mantém na berlinda o presidente Lula, justamente em um momento de leve recuperação na popularidade.
Enquanto isso, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, negocia uma nova versão da anistia aos golpistas, na esperança de enterrar a campanha: penas menores para os invasores do 8 de Janeiro, punição maior para a cúpula. Resta combinar com os russos, ou melhor, com os bolsonaristas.
E o PP e o União Brasil, gêmeos univitelinos separados no fim da ditadura, se reencontraram em uma federação. Será a maior aliança do Congresso, de direita, com 109 deputados e 14 senadores, além de mais de 1,3 mil prefeitos. Trata-se da volta da Arena, observa o cientista político Cláudio Couto em sua coluna à página 23. O passado assombra.
Boa leitura!
Publicado na edição n° 1360 de CartaCapital, em 07 de maio de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O trabalhador vai mal, a Arena vai bem ‘