No começo de abril, a política de cortes realizada pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atingiu em cheio um dos principais centros de pesquisa científica do país: o Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH), em Morgantown, Virgínia.

Centenas de cientistas federais foram demitidos na manhã do dia 1º e impedidos de entrar no prédio, deixando para trás mais de 900 animais de laboratório.

Do total, apenas dois terços — sendo a maior parte de camundongos e ratos — foram realocados para laboratórios universitários, enquanto os outros 300 foram sacrificados, segundo dois funcionários recentemente dispensados.

Em Morgantown, a equipe de cuidado animal também foi inicialmente demitida, mas se recusou a abandona-los . “Eles resistiram e disseram que não deixariam o local enquanto houvesse animais nas instalações”, contou um ex-técnico de laboratório, que preferiu não ter seu nome divulgado.

O caso do NIOSH é apenas um exemplo de diversas instituições que foram afetadas pela administração de Trump, que vem promovendo cortes drásticos no financiamento da ciência, encerrando bolsas de pesquisa e interrompendo estudos em andamento.

“Muitos animais vão acabar sendo mortos”, afirmou Paul Locke, especialista da Universidade Johns Hopkins em legislação sobre o uso de animais em pesquisa e métodos alternativos.

Em Harvard, a interrupção do financiamento federal colocou em risco um estudo sobre uma nova vacina contra a tuberculose. Os macacos rhesus utilizados só escaparam da eutanásia após a intervenção de um doador privado emergencial.

O silêncio de cientistas sobre o tema, segundo ele, é estratégico: “Acho que eles não falam sobre isso porque é uma situação que, para eles, é apenas um desfile de horrores. Se forem manter os animais, será extremamente caro. Se os sacrificarem, vai causar indignação pública”.

Muitos pesquisadores que perderam seus empregos, relatam estar extremamente frustrados com a perda de anos de trabalho e com a morte de animais sem que os dados científicos fossem coletados.

Kyle Mandler, toxicologista pulmonar que integrava a equipe do NIOSH, era um dos responsáveis por um estudo sobre poeiras tóxicas em materiais de construção.

“Não usamos animais de forma leviana (…) O fato de que a vida e o sacrifício desses animais terão sido completamente em vão é, ao mesmo tempo, deprimente e revoltante”, disse ele após ter ciência que pelo menos duas dúzias de seus camundongos foram sacrificadas.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), responsável pelo NIOSH, não esclareceu o destino dos animais de Morgantown.

Em nota enviada por e-mail, afirmou apenas que as medidas fazem parte de uma “realocação mais ampla”, e que “as operações de cuidado animal continuam ativas, e o HHS está comprometido em manter a conformidade com todos os padrões federais de bem-estar animal durante essa transição”, segundo o portal O Globo.

A crise ocorre em um momento em que os Estados Unidos, assim como outros países, começam a buscar alternativas aos testes com animais. Neste mês, a FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos) declarou que pretende “eliminar gradualmente” o uso desses testes para certos medicamentos, favorecendo tecnologias como organoides e “órgãos em chips”, (modelos tridimensionais de órgãos humanos feitos com células cultivadas em laboratório).

No entanto, para muitos especialistas, esses métodos ainda não substituem completamente os modelos animais.

“Queremos, sim, deixar de fazer esse tipo de trabalho. Mas ainda não chegamos lá”, afirmou Naomi Charalambakis, diretora da organização Americans for Medical Progress.

A pesquisa com animais exige planejamento de longo prazo, financiamento estável e uma rede de técnicos e veterinários especializados. Sem isso, o destino dos animais é incerto. Diante do fato de que possivelmente alguns conseguem ser transferidos para outros laboratórios ou santuários, mas muitos foram submetidos a tratamentos experimentais ou expostos a patógenos, o que faz com que não possam ser reintegrados à natureza.

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Last Update: 30/04/2025