Os primeiros sinais de que o tarifaço de Donald Trump nos Estados Unidos pode não surtir o efeito esperado pelo republicano apareceram nesta quarta-feira 30 com a confirmação de que o PIB do país encolheu 0,3% nos três primeiros meses de 2025.

O resultado, divulgado pelo Escritório de Análise Econômica do país, é ainda pior quando somado ao crescente índice de inflação e à queda na confiança do consumidor, constatados ao longo dos últimos dias.

O número negativo revelado pelo Escritório de Análise Econômica também representa o primeiro registro de contração da economia dos EUA desde 2022.

Segundo o órgão, a queda do PIB nos primeiros três meses do ano, quando comparada ao desempenho do quarto trimestre de 2023, “refletiu um aumento nas importações, uma desaceleração nos gastos do consumidor e uma queda nos gastos do governo, que foram parcialmente compensados por aumentos nos investimentos e nas exportações”.

Essa é uma forma de dizer que entidades dos EUA deram marcha à importação de bens do exterior, tentando se proteger da incerteza no comércio internacional.

Não por acaso, o déficit comercial de bens dos EUA bateu um recorde histórico em março, subindo 9,6% e chegando a 162 bilhões de dólares (913 bilhões de reais). Segundo o Departamento de Comércio, esse é o maior valor já registrado, e foi impulsionado pelo recorde histórico de 342,7 bilhões de dólares (1,9 trilhões de reais) em importações. Esses números mensuram a antecipação feita pelas empresas, que, frente à artilharia tarifária de Trump, correram para estocar. 

Mercado foi pego de surpresa

Na terça-feira 29, quando os dados do comércio foram divulgados, o mercado já sabia que esse desequilíbrio comercial constituía um sinal perigoso para o PIB do primeiro trimestre. O setor não esperava, porém, que o primeiro trimestre de 2025 viria com uma retração econômica. Naquela altura, a maioria das instituições financeiras do país projetava algum crescimento na economia norte-americana, ainda que esse avanço fosse mínimo. 

Inflação em alta é baque para confiança do consumidor

Os números desta quarta, conforme citado, vêm na esteira de outro dado negativo para o governo Trump: aquele que mostra que o índice de preços para compras internas, que serve para calcular a inflação nos EUA, subiu 3,4% no primeiro trimestre. O aumento é maior do que o registrado no quarto trimestre de 2024, quando ficou positivo em 2,2%.

Diante desse quadro econômico, uma pergunta vai e vem na cabeça do governo, de economistas e da própria população dos EUA: como manter o nível de confiança no país? Na terça-feira 29, a divulgação de outros percentuais ajudou a rascunhar esse quadro de cores nada iluminadas. 

O Índice de Expectativas, que revela as perspectivas de curto prazo dos consumidores sobre as condições do mercado de trabalho, a renda e os negócios, caiu 12,5 pontos, chegando a 55,4. Esse é o patamar mais baixo do índice desde outubro de 2011.

“A confiança do consumidor diminuiu pelo quinto mês consecutivo em abril, caindo para níveis não vistos desde o início da pandemia de Covid”, disse Stephanie Guichard, economista sênior de Indicadores Globais do Conference Board

Trump reage

Ao reagir aos números sobre o PIB, Donald Trump usou a sua fórmula básica para lidar com situações adversas: negou responsabilidades e atribuiu os problemas a adversários. “Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro. As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país prosperará, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, postou Trump.

“Isso levará um tempo e não tem nada a ver com tarifas”, prosseguiu o político. Segundo Trump, os dados amargos da economia dos EUA apenas mostram “que ele [Biden] nos deixou com números ruins, mas, quando o boom começar, será como nenhum outro”. “Sejam pacientes”, pediu o republicano. 

Só que pedir paciência ao mercado e aos consumidores norte-americanos pode ser demais neste momento. E contradiz a postura mais ou menos unânime de analistas e de organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que já ligaram o sinal amarelo sob os riscos de que a postura comercial de Trump leve não só a economia dos EUA, mas a do mundo inteiro, a uma crise.

Na gramática trumpista, essa inquietação florescia apenas no mercado, mas os dados destas últimas 48 horas mostram que ela também tem força entre os consumidores, que compõem a economia real do país.

Pequeno alento

A quarta-feira não foi integralmente negativa para Trump: como alento para a Casa Branca, o investimento empresarial cresceu 21,9%. Esse avanço tem a ver com o fato de que empresas passaram a investir mais em equipamentos. 

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Last Update: 30/04/2025