Pyongyang reconheceu pela primeira vez o envio de tropas para ajudar a Rússia na sua guerra contra a Ucrânia
O presidente russo, Vladimir Putin, agradeceu às tropas da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) por seu papel na reconquista da região de Kursk das forças ucranianas, enquanto a RPDC confirmava oficialmente seu destacamento militar em apoio à Rússia. As declarações coordenadas destacam a crescente aliança militar entre Moscou e Pyongyang.
Em declarações divulgadas pelo Kremlin, Putin elogiou as unidades do Exército Popular Coreano (KPA) por lutarem “ombro a ombro com combatentes russos” na defesa da região russa de Kursk. “O povo russo jamais esquecerá o heroísmo das forças especiais da RPDC”, expressou Putin, prometendo honrar os sacrifícios dos soldados coreanos que lutaram ao lado das tropas russas.
O líder da RPDC, Kim Jong Un, também comemorou o destacamento, anunciando que um monumento em homenagem aos “feitos de combate” dos soldados coreanos será erguido em breve em Pyongyang. A Comissão Militar Central do Partido dos Trabalhadores da RPDC (WPK) declarou que o destacamento foi realizado em conformidade com o Artigo 4 do Tratado de Parceria Estratégica Abrangente entre a Rússia e a Coreia do Norte, assinado em junho de 2024.
O Artigo 4 estabelece que, no caso de um ataque armado a uma das partes do acordo, a outra parte fornecerá imediatamente assistência militar e de outro tipo por todos os meios à sua disposição.
Desde o início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia em março de 2022, as forças russas capturaram e anexaram grandes quantidades de território ucraniano, incluindo as regiões de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia.
Em 6 de agosto de 2024, os militares ucranianos lançaram uma incursão na região russa de Kursk, capturando 1.000 quilômetros de território russo.
Isto marca o primeiro reconhecimento oficial de Pyongyang do envio de forças ao exterior desde a Guerra da Coreia, na década de 1950. A agência de notícias estatal da RPDC informou que suas tropas “ajudaram a libertar” Kursk e derrotaram com sucesso os “ocupantes neonazistas” ucranianos.
De acordo com fontes de inteligência dos EUA, Coreia do Sul e Ucrânia, a RPDC enviou inicialmente cerca de 10.000 a 12.000 soldados para a Rússia no outono passado, com reforços adicionais chegando este ano.
Uma investigação da Reuters alegou que a RPDC forneceu à Rússia pelo menos quatro milhões de projéteis de artilharia nos últimos 20 meses para uso na Ucrânia.
O Departamento de Estado dos EUA declarou na segunda-feira que está “preocupado” com o “envolvimento direto” de Pyongyang na guerra.
Em um e-mail, um porta-voz do departamento disse que “a mobilização militar para a Rússia e qualquer apoio fornecido pela Federação Russa [à Coreia do Norte] em troca devem acabar”.
A Coreia do Sul condenou veementemente a intervenção da RPDC, chamando-a de “grave provocação” e exigindo a retirada imediata das forças de Pyongyang do território russo.
Analistas sugerem que o envolvimento de Pyongyang é motivado por seu desejo de receber em troca tecnologias militares russas avançadas, incluindo capacidades que poderiam reforçar seu programa de armas nucleares.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que a Rússia poderia fornecer assistência militar à RPDC sob os termos do tratado de defesa, se necessário.
Em eventos relacionados, a Casa Branca está considerando opções para potencialmente reiniciar o diálogo com a RPDC, de acordo com um alto funcionário dos EUA e três fontes adicionais falando com a Axios.
Trump deixou claro que gostaria de retomar o contato com Kim Jong Un — talvez até pessoalmente — e sua equipe de segurança nacional está se preparando para esse cenário, informou a agência de notícias dos EUA na segunda-feira.
“Estamos convocando agências para entender a situação atual dos norte-coreanos. Muita coisa mudou nos últimos quatro anos. Estamos avaliando, diagnosticando e discutindo possíveis caminhos, incluindo o engajamento”, disse o alto funcionário americano.
Publicado originalmente pelo The Cradle em 28/04/2025
