Bolsonaro foi intimado nesta quarta-feira enquanto estava internado na UTI. Foto: Divulgação

O Rio Grande do Sul teve alguns dos principais líderes do negacionismo deflagrado logo no início da pandemia de Covid. O médico e deputado Osmar Terra é o mais famoso deles, como defensor da teoria da imunidade de rebanho que iria conter o surto. Sem a necessidade de vacinas.

Pois se dissemina agora no Rio Grande do Sul, pelos mesmos que não temiam contágios na pandemia, a suspeita de que a caneta da oficial de Justiça que levou a intimação a Bolsonaro pudesse estar contaminada.

O fato irradiador da hipótese foi essa declaração do deputado federal Coronel Zucco, em entrevista na quinta-feira à Band News: “Mandar um oficial de Justiça, não sei qual era a qualidade das máscaras, não sei o que tinha naquela caneta, material que não está esterilizado…”

E assim ficou a frase, solta em reticências. Mas Zucco complementou: “São possibilidades que acabam prejudicando”. As possibilidades seriam as suspeitas sobre a máscara e a caneta, e os prejuízos seriam a recaída de Bolsonaro. O que tinha naquela caneta?

A partir daí, tem-se mais um ingrediente ao roteiro que é escrito dentro de uma UTI. Estagiários de marketing político e veteranos de todos as formas de vender alguma coisa convergem e também se desentendem sobre o que acontece no espaço de tratamento intensivo ocupado por Bolsonaro dentro de um hospital em Brasília.

E o que acontece é o aparentemente impossível, o imponderável, o improvável, o inacreditável. Um ex-presidente em estado grave vende capacetes em lives, confraterniza com visitas, ataca o Supremo, recebe uma oficial de Justiça e tem uma recaída. E logo depois um deputado sugere que uma caneta e uma máscara estão sob suspeita.

No conjunto de abordagens sobre o que se passa na UTI, já especularam sobre o óbvio, com platitudes diversas, a partir do mais elementar do marketing das bizarrices: Bolsonaro precisa ser exposto a qualquer custo.

É o que temos. Um ex-presidente que dá publicidade ao seu drama pessoal, como se esse fosse o drama de metade do país, da forma mais escatológica possível. Funciona?

Bolsonaro internado na UTI. Foto: Divulgação

O estagiário e os veteranos de marketing se juntam a chutadores sobre o que pode acontecer. Se o Datafolha fizer uma daquelas pesquisas terrivelmente estranhas, podemos até ficar sabendo que o povo aprova a série de horrores na UTI de Bolsonaro. E que a fidelização a ele se mantém ou pode até ter aumentado.

E agora temos a máscara e a caneta, que se juntam aos celulares erguidos para os céus em busca de marcianos que apoiassem o golpe, ao Hino cantado em torno de um pneu e a tudo que se viu desde a pandemia. Temos a máscara e a caneta suspeitas, que passam a ocupar a mesma prateleira dos chips espiões enfiados em vacinas.

E talvez essa exposição de absurdos continue funcionando. Não só para o contingente da raiz bolsonarista, mas também para os da antiga direita, que que alargaram essa base desde 2018.

Enganam-se os que acreditam que somente pessoas mais expostas às fake news e consideradas ignorantes possam estar ajudando a disseminar as suspeitas sobre a máscara e a caneta da servidora da Justiça.

Estamos diante do prolongamento do que poderia, depois da derrota na eleição e do fracasso do golpe, ter perdido força. A área da saúde, que mais propicia a disseminação desse tipo de informação, tem na UTI de Brasília um criadouro de novas suspeitas e conspirações.

Zucco não é um deputado qualquer, é o candidato de Bolsonaro e de toda a extrema direita ao governo do Rio Grande do Sul e aparece na liderança em algumas pesquisas.

Foi ele quem tirou do jogo pelo governo gaúcho o hiperbolsonarista Onyx Lorenzoni, o primeiro parlamentar a apostar em Bolsonaro em 2018 e que por isso ocupou vários ministérios. Onyx não evoluiu na sua radicalidade antilulista, e Zucco é agora a versão atualizada do bolsonarismo no Estado.

A máscara e a caneta vão entrar na campanha. Aguardem os próximos lançamentos desse Estado que se apresenta, pelo que diz seu hino, como modelo a toda Terra. O Rio Grande do Sul é altamente contagioso.

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Last Update: 26/04/2025