A recente publicação de documentos sigilosos, analisada pelo MintPress News, expôs em profundidade uma das maiores farsas políticas recentes no interior do imperialismo: o chamado “dossiê Steele”. Mais do que uma simples campanha eleitoral suja, a construção do chamado “Russiagate” revela o funcionamento interno da máquina de manipulação política do imperialismo, que une seus serviços de espionagem, seus monopólios de imprensa e seus partidos políticos — tudo em defesa dos interesses da burguesia internacional.
Como nasceu a fraude
Em 2016, diante da perspectiva de uma possível vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, setores do imperialismo agiram para tentar sabotar sua candidatura. Christopher Steele, ex-agente do serviço secreto britânico MI6, foi contratado pela empresa Fusion GPS, a serviço do escritório de advocacia Perkins Coie — representante da campanha de Hillary Clinton e do Comitê Nacional Democrata —, para compilar material que pudesse comprometer Trump.
O dossiê resultante alegava, entre outras coisas, que o então candidato republicano estava envolvido em um esquema de colaboração com o governo russo, que incluiria atos de corrupção, espionagem e chantagem sexual. Essas acusações foram veiculadas em janeiro de 2017 pelo BuzzFeed News, impulsionadas pela imprensa monopolista e utilizadas como base para investigações do FBI.
O que agora se comprova é que, desde o início de 2017, existiam investigações internas que desmontavam totalmente a credibilidade do material produzido por Steele. A empresa GPW Group, contratada por empresários russos difamados no dossiê, elaborou uma análise minuciosa que concluía que Steele não apenas carecia de fontes confiáveis como também teria construído o dossiê com base em rumores, notícias da imprensa e invenções de fontes de segunda e terceira mão.
A fabricação do “dossiê”
Segundo documentos obtidos pelo MintPress News, Steele era visto por colegas do MI6 como um agente “medíocre”, sem grandes habilidades analíticas e incapaz de operações de maior envergadura. Sua agência de “inteligência corporativa”, a Orbis, não passava de uma operação minúscula, composta basicamente por dois recém-formados.
O principal “subinformante” do dossiê, Igor Danchenko, foi posteriormente investigado pelo próprio FBI e admitiu que grande parte do material vinha de conversas de bar com conhecidos — pessoas sem qualquer ligação com o governo russo. Danchenko chegou a ser preso por embriaguez e conduta desordeira anos antes, revelando o nível de confiabilidade de sua atuação.
GPW revelou ainda que, consultando fontes tanto ocidentais quanto russas — entre elas jornalistas, ex-agentes da CIA e da FSB —, ficou claro que era “imaginável” que altos funcionários do Kremlin se arriscassem a transmitir informações a um ex-espião britânico. Steele, se tivesse tentado subornar uma autoridade russa de verdade, teria recebido como resposta a exigência de cifras muito superiores às disponibilizadas pela Fusion GPS.
Em suma: o dossiê Steele foi escrito a partir de boatos, especulações sem prova e aproveitamento oportunista de reportagens que já circulavam nos jornais da época. Seu conteúdo, longe de ser o resultado de uma operação de inteligência, era fruto de invenção, histeria política e manipulação.
A instrumentalização da fraude
Mesmo com a farsa evidente, os órgãos de repressão do imperialismo, como o FBI e o Departamento de Justiça, utilizaram o dossiê para justificar investigações ilegais contra assessores da campanha de Trump, como Carter Page. Utilizando a operação Crossfire Hurricane, iniciada com base em informações vagas passadas por um diplomata australiano, o aparato repressivo deu início a uma perseguição sistemática, espionando, monitorando e sabotando o novo governo.
A alegação de que a operação Crossfire Hurricane não teria relação com o dossiê é desmentida pelos próprios documentos analisados: antes da abertura formal do inquérito, Steele já havia transmitido suas informações para altos funcionários do Departamento de Estado norte-americano, como Victoria Nuland, que incentivaram a investigação.
Assim, a campanha do Russiagate não apenas buscou criar um ambiente de hostilidade contra Trump, mas também serviu para reforçar o poder do Estado policial norte-americano e para justificar o recrudescimento da perseguição interna a opositores do regime imperialista.
O papel criminoso da imprensa burguesa
A atuação da imprensa monopolista foi essencial para o sucesso da fraude. Rede após rede, jornal após jornal — New York Times, Washington Post, CNN, NBC e outros — reproduziram as acusações do dossiê como se fossem verdades absolutas, sem qualquer esforço sério de verificação.
Como relatado pelo jornalista Aaron Maté, “a imprensa serviu como estenógrafa de Steele”. Em vez de investigar, limitou-se a reforçar a versão de que havia um “conluio” entre Trump e o governo russo. O objetivo político era claro: enfraquecer um governo que, em certos aspectos, ameaçava romper com a política de agressão imperialista tradicional, como sugeria a sua postura vacilante quanto à OTAN e à intervenção militar direta em outros países.
Essa operação de guerra informacional tinha ainda o objetivo de impulsionar sanções contra a Rússia, reforçar a militarização do Leste Europeu e preparar o terreno para confrontos mais diretos com o governo russo.
A guerra ao povo norte-americano
Internamente, o Russiagate serviu como justificativa para fortalecer a vigilância estatal sobre a população dos Estados Unidos, ampliando os poderes da NSA, do FBI e da CIA. Também serviu para intensificar a censura em redes sociais e para criminalizar qualquer forma de oposição política que não estivesse plenamente alinhada com os interesses do grande capital.
Em última instância, a farsa do dossiê Steele foi uma guerra do imperialismo contra o próprio povo norte-americano, privando os trabalhadores de qualquer ilusão de democracia e submetendo-os a um regime de controle total.
A verdade revelada
Com a desclassificação de documentos autorizada por Donald Trump e a análise conduzida pelo MintPress News, as provas sobre a fabricação da fraude se tornaram públicas. A GPW Group, ao investigar Steele, seus métodos e seus contatos, revelou que o ex-agente do MI6 simplesmente reuniu boatos, rumores e invencionices para atender aos interesses da campanha de Hillary Clinton.
O dossiê, na realidade, foi concebido como uma peça jurídica para questionar a validade das eleições caso Clinton fosse derrotada. Quando a derrota se confirmou, a operação foi reciclada para justificar uma campanha de perseguição contra Trump e para acirrar a política de agressão internacional do imperialismo.
A justiça britânica, inclusive, já confirmou que as acusações contra os empresários russos mencionados no dossiê eram falsas, concedendo indenizações por difamação.
A farsa do dossiê Steele é uma lição sobre a verdadeira natureza da “democracia” imperialista. Quando a burguesia sente que seus interesses estão ameaçados, não hesita em recorrer à fraude, à mentira e à perseguição para defender sua dominação.
Para os trabalhadores do mundo inteiro, é mais uma demonstração de que a luta contra o imperialismo deve ser, necessariamente, uma luta contra seus aparelhos de manipulação — a imprensa monopolista, os serviços de inteligência, os partidos burgueses. A denúncia incansável dessas operações criminosas é tarefa fundamental para a construção de um movimento revolucionário internacional.