A estagflação vista durante a pandemia de covid-19, que rapidamente se dissipou, parece muito mais amena do que o cenário que está à espreita, a ponto de gerar graves consequências para a economia global e os mercados financeiros. A diferença é a natureza dos danos causados.
Na pandemia, as cadeias de suprimentos foram afetadas por uma série de mudanças que levaram à alta das commodities, escassez de semicondutores e gargalos no transporte marítimo global. Tais interrupções levaram cerca de dois anos para diminuírem.
Porém, para o economista Stephen S. Roach, professor da Universidade de Yale, “tais interrupções temporárias agora parecem quase antiquadas em comparação com a reorganização fundamental das cadeias de suprimentos globais desencadeada pelo protecionismo “América Primeiro” do presidente americano Donald Trump”.
Em artigo no site Project Syndicate, Roach afirma que os Estados Unidos “estão se desvinculando das redes de comércio global, especialmente das cadeias de suprimentos centradas na China na Ásia e, potencialmente, até mesmo das cadeias de suprimentos que unem a América do Norte por meio do Acordo EUA-México-Canadá, o chamado “padrão ouro” dos acordos comerciais”.
Embora a turbulência da pandemia tenha tido um desfecho mais claro, a situação atual não apresenta uma solução rápida e fácil – principalmente por conta das incertezas geradas pela personalidade impetuosa de Trump.
“No clima atual de extraordinária incerteza política, com tarifas e sanções retaliatórias de retaliação perigosamente dependentes dos caprichos de Trump, os investimentos na realocação provavelmente serão adiados, se não cancelados por completo. Nem será fácil para o resto do mundo se recompor após a saída dos Estados Unidos da globalização e desenvolver novas cadeias de suprimentos”, pontua o articulista.
Outra decorrência da estagflação é o risco de recessão nos Estados Unidos e no mundo, graças à chance de um choque de incerteza sobre as economias globais, e à consequente paralisia da tomada de decisões por parte de empresas e consumidores.
“Trump comemorou a imposição das chamadas tarifas “recíprocas” em 2 de abril como o “Dia da Libertação”. Para mim, foi mais como um ato de sabotagem, desencadeando retaliações e um provável declínio no ciclo comercial global. Se isso continuar, será extremamente difícil para o mundo contornar a recessão”, destaca Roach.