“Sermos nós mesmos faz com que acabemos excluídos pelos outros. No entanto, fazer o que os outros querem nos exila de nós mesmos.” Mulheres que correm com os lobos
A deputada Jack Rocha defende a cassação de Chiquinho Brazão como um ato de coragem política, ética e compromisso com a democracia. Ela denuncia a violência política que tenta silenciar mulheres e critica a Mesa Diretora por não acolher o relatório do Conselho de Ética, evitando o debate público. Rocha destaca a importância de enfrentar a omissão e sustentar posições com transparência e coragem. Ela reafirma sua coerência política, a luta pela memória de Marielle Franco e pela democracia, e conclui que a política deve proteger a vida e não exilar quem somos.
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Companheiras, companheiros, minha militância querida,
Quando apresentei o relatório que pede a cassação do deputado Chiquinho Brazão, não foi um gesto isolado. Foi um ato de coragem política, de compromisso com a ética e de fidelidade à democracia — em nome da justiça e de todas as mulheres que ousam ocupar os espaços de poder com dignidade e firmeza.

Esse relatório carrega o peso de uma história que, infelizmente, ainda se repete: a tentativa de silenciar mulheres que não se curvam, que não negociam seus princípios, que não aceitam que a violência — seja física, institucional ou simbólica — se naturalize nos lugares onde deveriam habitar a lei, o respeito e a voz do povo.
Eu sei o que é enfrentar a violência política que não grita, mas sufoca. Que se esconde em “movimentos justificáveis”, mas que, no fundo, são tentativas veladas de apagamento. Sei o que é ver uma decisão justa, legal e corajosa ser tratada como afronta apenas porque partiu de uma mulher petista que se recusa a ser instrumento da omissão.
Por isso é preciso dizer, com clareza e serenidade: o caminho escolhido pela Mesa Diretora para a cassação de Brazão, embora necessário, foi politicamente incoerente. Ao não acolher o relatório aprovado no Conselho de Ética e ao evitar o debate público em Plenário, perdeu-se a oportunidade de fazer justiça com transparência e de afirmar o Parlamento como espaço democrático de verdade.
A letargia que antecedeu essa decisão não foi prudência — foi um atalho que evitou o enfrentamento político necessário. E quando se evita o rito legítimo por conveniência, não se nega apenas um relatório: nega-se a coragem de sustentar posições diante da militância, do povo e da história.
Sou parte de um partido que nasceu da luta, da ousadia e da esperança. O PT não é apenas uma sigla: é força organizada, é militância viva, é coerência em movimento.
Não apresentei esse relatório por conveniência. Apresentei por coerência política e pela soberania. Invocando a ética coletiva de uma Casa que deveria estar à altura do povo brasileiro. Porque acredito que a política deve proteger a vida, jamais se omitir diante da morte.
A violência que tirou Marielle não pode encontrar abrigo no Parlamento. Não podemos aceitar que o medo e a omissão ditem o rumo das decisões. É nesse momento que se mede a coerência de cada bancada, de cada movimento, de cada liderança.
Enquanto a democracia é testada, há quem, ao se juntar, se divida — nas vaidades, nas incoerências e nos cálculos pessoais. Mas nós sabemos: unidade sem coragem é conveniência. E conveniência não constrói futuro.
Sigo com vocês. Pela memória de Marielle. Pela vida das mulheres. Pela democracia que construímos com tanto suor e com tanta esperança. Sigo com coragem. Com o povo. Com o PT.
E sigo sendo eu mesma — porque a política que vale a pena é aquela que não nos exila de nós.
Com coragem, com força e com vocês
Deputada Federal (PT-ES)