No dia 13 de abril de 2025, o Conselho Nacional Eleitoral do Equador anunciou a reeleição do presidente Daniel Noboa. A decisão foi prontamente denunciada como fraude massiva por sua adversária, a candidata da esquerda nacionalista, Luisa González, que exigiu uma recontagem voto a voto. O resultado oficial contradiz todas as pesquisas sérias divulgadas até a véspera da votação, que apontavam vantagem de até seis pontos percentuais para González. O processo eleitoral consagrou uma verdadeira operação de sabotagem nacional, com o apoio direto dos Estados Unidos e da burguesia equatoriana associada ao narcotráfico e ao capital estrangeiro.

A eleição fraudulenta de Noboa ocorre em um contexto de destruição institucional. O Estado equatoriano foi deliberadamente desmontado, primeiro com Lenín Moreno e Guillermo Lasso — ambos representantes diretos do imperialismo — e, agora, sob o comando do jovem bilionário herdeiro de uma fortuna construída com exportação de bananas, evasão fiscal e envolvimento com redes internacionais de tráfico de drogas. 

Um processo eleitoral fraudulento

A lista de irregularidades é extensa e compromete a legitimidade do pleito. Dezenas de zonas eleitorais foram alteradas de última hora nas regiões favoráveis à candidata da oposição. Eleitores equatorianos residentes na Venezuela — tradicionalmente ligados à esquerda — foram proibidos de votar. A campanha de Noboa utilizou recursos públicos de forma ilegal, distribuindo bônus pagos com fundos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para comprar votos. Estações de votação onde González liderava amplamente foram fechadas por conta de supostos “falsos positivos”. Organismos de observação independentes foram impedidos de atuar.

Além disso, as cédulas apresentadas por Andrés Arauz, aliado de González, mostraram-se alteradas, sem as assinaturas obrigatórias, e todas elas favoreciam Noboa. As denúncias apontam para a proibição de uso de celulares nos locais de votação como forma de evitar o registro dessas irregularidades. Os eventos ecoam o que ocorreu no primeiro turno, também marcado por fraudes documentadas em fotos e vídeos.

O CNE, longe de atuar como órgão autônomo, opera como um apêndice do governo. Sua presidente, Diana Atamaint, permanece no cargo apesar do fim de seu mandato. Noboa utilizou a força policial para cercar a sede do conselho e impedir a posse dos novos membros. A manobra garantiu o controle do processo eleitoral por parte de seus aliados. Seu irmão, Kar Atamaint, foi premiado com um cargo no consulado em Nova Iorque.

O governo dos cartéis

A reeleição de Noboa consolida a transformação do Equador num narcoestado. A relação entre sua família e o narcotráfico é pública. A Lanfranco Holdings, empresa familiar, foi citada nos *Panama Papers* por envolvimento com pelo menos três carregamentos fracassados de cocaína destinados à Europa. Além disso, empresas do grupo devem cerca de US$98 milhões em impostos ao Estado, valor que Noboa já declarou que não pretende pagar. Em outras palavras, o próprio presidente comanda um império empresarial que sonega impostos e serve de instrumento para a lavagem de dinheiro do tráfico internacional.

A segurança pública é usada como arma de propaganda, mas os dados revelam um colapso absoluto do Estado. Em 2023, foram registrados 46 homicídios por 100 mil habitantes — um índice pior que o da Venezuela, tão atacada pela propaganda oficial. Em 2024, o país contabilizou 10.700 casos de extorsão. Foram apreendidas 220 toneladas de cocaína, a maioria saindo por portos privados. A unidade de inteligência aduaneira, encarregada de combater esse fluxo, teve um orçamento de apenas US$33.633 — dos quais apenas 17% foram efetivamente repassados.

A política de segurança de Noboa consiste em atacar as gangues de rua, em ações espetaculosas com o Exército e a Polícia, ao mesmo tempo em que protege os circuitos financeiros e logísticos dos cartéis. Um exemplo é o projeto de lei “urgente” contra a lavagem de dinheiro, que não apresenta mecanismos reais de combate ao problema, mas introduz novas cargas tributárias à população. Os legisladores o rejeitaram por ser ineficaz e por violar preceitos constitucionais.

Estado de exceção e repressão

A repressão promovida por Noboa é brutal. Crianças e adolescentes são presos ou desaparecidos por militares, como no emblemático caso dos “Quatro de Malvinas”. O governo utiliza o expediente do indulto preventivo presidencial como instrumento para legitimar arbitrariedades e violar direitos básicos. Enquanto isso, casos de corrupção envolvendo aliados do governo e empresários ligados aos cartéis são sistematicamente engavetados.

O clima de medo e desorganização social favorece a manutenção de Noboa no poder. Apagões se espalharam pelo país nas semanas anteriores à eleição. Os serviços públicos estão em ruínas. A população, desorientada, é bombardeada com propaganda anticomunista que tenta associar González ao chavismo, numa tática repetida à exaustão pelos setores mais reacionários da América Latina.

Apesar disso, González conseguiu unir uma ampla frente contra o presidente. A esquerda nacionalista correísta, o movimento indígena (historicamente dividido com os governos anteriores) e até setores da direita nacionalista, como o ex-candidato Jan Topic e a deputada conservadora Ana Galarza, declararam apoio à candidata. Sua performance no último debate foi fulminante: denunciou os vínculos do clã Noboa com o narcotráfico e desafiou o presidente a realizar um exame toxicológico ao vivo. Noboa, visivelmente desconcertado, recusou.

O imperialismo por trás do golpe

A manutenção de Noboa interessa diretamente ao imperialismo norte-americano. Em 2022, o Equador firmou um acordo bilateral que permite aos Estados Unidos instalar quantas bases militares desejar, com imunidade jurídica total para seus militares. Dias antes da eleição, membros da inteligência do governo Trump declararam, de forma anônima, que preferiam Noboa a González por conta dessa garantia.

Trata-se de um presidente nascido em Miami, cuja fidelidade está nos Estados Unidos. O próprio juramento de cidadania que Noboa prestou o compromete a “defender os interesses dos EUA acima de qualquer outro país”. Seu segundo mandato representará a execução desse juramento: destruir o que resta da soberania equatoriana, entregar os recursos naturais do país às multinacionais e utilizar o aparato repressivo do Estado para manter os trabalhadores sob controle.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 25/04/2025