No dia 11 de abril o analista Scott Ritter publicou um artigo intitulado Liberdade de Expressão e o Apocalipse em seu perfil na plataforma Substack denunciando a censura do governo norte-americano ao seu trabalho. Devido não somente ao conteúdo das denúncias, mas à censura sofrida, o texto tem tido uma grande repercussão internacional.
Ritter é ex-inspetor de armas da Organização das Nações Unidas (ONU), ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, autor e analista. Trabalha principalmente com questões nucleares.
Highway to Hell
A obra de Ritter que é alvo do Estado norte-americano é o livro Highway to Hell: The Armageddon Chronicles, 2015-2024 [A Estrada para o Inferno: As Crônicas do Apocalipse, 2015-2024]. Segundo o autor, esse livro foi concebido “no meio de uma campanha — Operação DAWN [Amanhecer] — projetada para tornar a prevenção da guerra nuclear e a promoção do controle de armas um tema central nas eleições presidenciais de 2024”.
Seu foco é alertar o público norte-americano sobre os riscos atuais “sobre o perigo iminente de uma guerra nuclear e a absoluta necessidade do desarmamento”. Para o autor, a possibilidade de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e Rússia é iminente, superior a da Guerra Fria e a forma adequada para lidar com a situação seria uma política de controle e desarmamento para manter o “gênio nuclear” na garrafa.
“A humanidade não está mais protegida da guerra nuclear pelos tratados de controle de armas entre os EUA e a Rússia. Este livro alerta o leitor para o perigo existencial que as armas nucleares representam hoje e busca motivá-lo a agir. Ele reúne algumas das melhores análises de Scott Ritter sobre o perigo das armas nucleares e a necessidade de controle, extraídas de dezenas de artigos que ele escreveu sobre a corrida armamentista, o fim do controle de armas, o papel nuclear da China, Irã, Coreia do Norte e Israel, e a mudança na postura nuclear dos EUA — da dissuasão para o seu emprego”, diz trecho da obra.
Liberdade de expressão?
As denúncias não tiveram boa aceitação pelo Departamento de Justiça dos EUA e o FBI durante o governo de Joe Biden. Enquadrando o caso numa investida maior para supostamente combater a chamada “interferência russa” no processo eleitoral americano, estes perseguiram Scott Ritter.
Ritter denuncia que, no dia 7 de agosto de 2024, o FBI invadiu sua casa, confiscando dispositivos eletrônicos pessoais, incluindo um laptop principal, com arquivos e rascunhos de trabalhos em andamento. Havia no equipamento artigos mais elaborados e dois livros em produção, além de material de pesquisa a ser trabalhado.
Agente russo?
Com a ausência de lastro para a perseguição política a Ritter, o governo Biden procedeu uma jornada de difamação ao autor. Levantada pelo FBI, a iniciativa, além da invasão à residência contou com acusações de traição, apontando Ritter como agente da Federação Russa.
Uma das justificativas para a acusação de traição seria o trabalho como colaborador da RT e da Sputnik. O FBI questionou a atuação de Ritter como jornalista e analista, tentando enquadrá-lo como um propagandista russo, classificando sua produção como “propaganda” russa.
Entretanto, essa pecha cai por terra terra no momento em que se comparar o trabalho de Ritter ao longo dos anos em outros veículos, como The Huffington Post, TruthDig, The American Conservative, The Washington Spectator, Consortium News e Energy Intelligence. As mesmas ideias, argumentos e perspectivas de análises dos fatos se repetem e atestam a autoridade do seu trabalho, excluindo uma influência direta de terceiros, incluindo o governo russo.
Crise da eleição
O teatro montado pelo FBI ocorreu momentos antes da eleição de 2024. Sua intenção nitidamente buscava silenciar uma voz crítica num momento crucial. Naquela véspera de eleição, a questão da guerra nuclear e do controle de armas era basilar para o povo norte-americano.
A ameaça nuclear em 2024 era superior à Crise dos Mísseis de Cuba, em outubro de 1962, com o governo Biden autorizando a Ucrânia a utilizar mísseis ATACMS de longo alcance, fabricados pelos EUA, contra alvos em território russo. Segundo avaliação do Pentágono, a possibilidade dessa ação desencadear uma retaliação nuclear russa, era superior aos 50%.
Essa avaliação de alto risco de conflito nuclear foi ratificada pela CIA, e demonstrou que a cúpula do governo Biden, setor principal do imperialismo, aceitava um “intercâmbio” nuclear com a Rússia.
Essa disposição do governo Biden para a abertura de um conflito nuclear, possivelmente com a Rússia, foi exposta pelo Almirante Thomas Buchanan, chefe do J-5 (Planos e Políticas) do Comando Estratégico. Este declarou num painel do Center for Strategic and International Studies [Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais] que os EUA estavam preparados para lutar e vencer uma guerra nuclear.iativa persecutória do governo dos EUA.