Apesar da briga entre os diversos setores burgueses, os maiores afetados são sempre os trabalhadores, o povo pobre, os setores historicamente marginalizados e os países coloniais e semicoloniais. Isso porque, apesar de todas as disputas que têm entre si, todos estes setores têm acordo em seguir explorado os trabalhadores, para tentar impulsionar suas taxas de lucros e rapinar os países subalternos, como o Brasil.
Os EUA são o imperialismo hegemônico, implantados na maior parte do mundo e sugando as riquezas. A China começou este movimento nos últimos anos. Mas um dos grandes segredos do crescimento chinês é a altíssima exploração dos seus trabalhadores e, agora, a exploração de outros países.
Além da disputa comercial, o que está em jogo no mundo, para toda a burguesia, é como vencer a corrida tecnológica contra o outro setor e como aumentar, ainda mais, a exploração de todo os trabalhadores. Estes são os caminhos que os capitalistas se utilizam para tentar retomar suas taxas de lucro. Também há um crescimento das tensões militares, com um rearmamento do mundo, sinal da gravidade da atual situação do capitalismo.
Seja qual for o caminho submisso que os setores burgueses nacionais optem por apostar, e independentemente do setor burguês imperialista que vença, a única certeza que temos é que os trabalhadores têm uma tarefa diante de si: lutar para que não sejam exatamente os mais explorados e oprimidos que paguem a conta desta disputa, já que até mesmo a luta por soberania nacional, em países semicoloniais como o Brasil, estará nas mãos da classe trabalhadora.
E mais: aproveitar este momento de maior instabilidade, no qual as contradições do capitalismo afloram, para demonstrar a necessidade de acabar com este sistema promotor de crises, guerras e convulsões sociais. Diante de cada tumulto no mercado, vemos o aumento das desigualdades. Quando a Bolsa sobe, significa que os capitalistas estão ficando mais ricos. Quando a Bolsa desce, significa a demissão, fome e miséria para os trabalhadores.
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Não existe imperialismo progressivo ou “menos pior”
É vergonhosa a posição da maior parte da “esquerda”, que capitula a um dos dois campos burgueses imperialistas em disputa. Hoje, a maior parte da esquerda capitula à ascensão do imperialismo chinês, como se este fosse um setor antiimperialista. A China se opõe ao imperialismo estadunidense, mas para promover sua própria expansão.
Outros, insistem em ignorar que houve uma restauração capitalista na China. O acúmulo de capital concentrado e centralizado em monopólios chineses, apoiados pelo Estado, é tão grande que há uma pulsão imperialista evidente, que faz com que necessitem exportar capitais e explorar partes do mundo.
Ao contrário do que apregoam setores da esquerda, o imperialismo chinês não é melhor, ou “menos pior”, que o estadunidense, pois não existe mecanismo capitalista e imperialista que não seja assentado na brutal exploração dos trabalhadores e dos países pobres. Basta ver a espoliação que a China promove sobre a África ou América Latina.
Há, ainda, quem veja a China como capitalista, mas se negue a ver o seu imperialismo. Então, o movimento dos monopólios capitalistas chineses, a exploração da BYD (gigante chinesa do setor automotivo) na Bahia ou o papel da China no domínio do setor elétrico brasileiro, têm qual caráter? Não é uma exploração imperialista? Se a China não é imperialista, sua economia estaria sujeita ao domínio de qual imperialismo? Dos EUA ou da Europa? Por que tanto estadunidenses quanto europeus estariam preocupadíssimos com o papel dos monopólios chineses?
Não caracterizar corretamente a China leva os trabalhadores a ficarem desarmados para enfrentar e lutar contra os diversos setores do imperialismo capitalista que hoje se enfrentam.
Reorganização
Capitalismo em crise e a velha ordem neoliberal em xeque
A crise expressa pela eleição de Trump e pelo recente tarifaço revela algo muito mais profundo que uma instabilidade nos EUA. Expõe a crise do próprio capitalismo e o questionamento da “globalização”.
O capitalismo funciona através de ciclos de expansão e crises, determinados pela taxa média de lucros. Quando os lucros dos capitalistas aumentam, há novos investimentos e crescimento econômico. Mas, chega em determinado ponto que esses lucros se estagnam e caem, assim como os investimentos, provocando crises, até que um novo aumento da taxa de lucros permita um novo ciclo de crescimento.
Mas, além desses momentos de crescimento, queda e um novo crescimento, existem ciclos mais longos, de expansão e retração. O último ciclo mais longo de crescimento do capitalismo se deu justamente durante a “globalização”, nos anos 1980 e 1990. Foi uma resposta dos países imperialistas ao esgotamento do crescimento da economia mundial, pós-Segunda Guerra.
Suas bases foram os planos neoliberais, que previam um aprofundamento da exploração dos trabalhadores, através das privatizações e desregulamentação dos direitos trabalhistas, ou, ainda, dos planos de ajuste fiscal e do desmonte do Estado de Bem-Estar Social, como na Europa.
Para conseguir impor essa política, foi preciso arrebentar com o movimento sindical e minar a resistência da classe trabalhadora (que se deu aliado às traições de suas principais direções políticas e sindicais). A greve dos mineiros ingleses, de 1984, derrotada por Margareth Thatcher (então a primeira ministra britânica) se transformou num símbolo dessa política, ao lado da greve dos controladores de voo, esmagada pelo governo de Ronald Reagan, presidente dos EUA, em 1981.
Consenso de Washington e globalização
Principalmente a partir dos anos 1990, o chamado “Consenso de Washington” aprofundou as políticas neoliberais, sob o comando e a supervisão de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). O livre-comércio (do imperialismo, no caso) e a livre circulação de capitais foram impostos a todo o mundo e a produção se tornou muito mais fragmentada e internacionalizada.
Desta forma, a “globalização” significou um salto na internacionalização da produção. Hoje, os grandes monopólios capitalistas, como a Apple, produzem em 30 países.
O papel da China
A incorporação de centenas de milhões de trabalhadores industriais na China, com salários rebaixados e jornadas de trabalho acima da média mundial, elevou o grau de produtividade e lucro, e também exerceu uma brutal pressão sobre a classe trabalhadora mundial, nivelando por baixo a superexploração. Como concorrer com isso?
Foi desta forma que o país, neste período, se tornou a “fábrica do mundo”. A China inundava o planeta com produtos baratos e impulsionava os lucros de grandes monopólios capitalistas associados ao Estado. Mas também se tornava grande consumidora de matérias-primas, papel que o Brasil desempenhou, e vem desempenhando, e que foi determinante para a regressão do país a um exportador de matérias-primas.
O ciclo atual
Depois da crise de 2007-2009, entramos num ciclo longo, de queda e decadência capitalista, o qual engloba frágeis períodos de crescimento e de recessão, como na pandemia. E, depois dessa última recessão, o mundo vive um ciclo curto de crescimento, polarizado entre EUA e China, com uma Europa essencialmente estagnada.
A grande novidade que vem se redesenhando (ou, ao menos, questionando a atual divisão internacional do trabalho) é a conjunção entre esse ciclo longo de crise capitalista, a decadência dos EUA como principal potência capitalista, e o ascenso chinês, como potência imperialista.
E o Brasil?
Governo Lula e burguesia brasileira baixam a cabeça diante dos imperialismos

Lula com representantes da chinesa BYD Foto PR
Se, lá atrás, os EUA impuseram o livre mercado para explorar ainda mais os povos; agora, a guinada protecionista de Trump é, também, uma tentativa de manter e reafirmar os EUA como potência hegemônica, diante de sua decadência.
Ao contrário dos países dominados e semicoloniais, como o Brasil, medidas protecionistas do imperialismo, como taxar produtos importados, não têm nada de progressivo. Seu resultado é aumentar, ainda mais, a dominação e a espoliação imperialistas, aprofundando seu caráter parasitário e sugando, ainda mais, as riquezas do mundo.
Diante do tarifaço de Trump, qual foi a reação da burguesia brasileira, principalmente do agro, e do governo Lula? Comemoraram o fato de que a tarifa não veio tão alta quanto se temia.
É como você levar um soco e agradecer que ele não foi tão forte assim. Simplesmente vergonhoso! E demonstração da completa e total submissão do Brasil frente ao imperialismo estadunidense (da mesma forma como é submisso à China, de quem o agronegócio depende).
Outros segmentos da burguesia, por outro lado, veem essa crise como uma “oportunidade”, que poderia abrir novos mercados diante do isolamento dos EUA. Só não contam que os chineses, impossibilitados de desovar sua produção no mercado estadunidense, não pensarão duas vezes em jorrar seus produtos no mercado brasileiro, se necessário, e destruir setores inteiros da indústria.
Como todo país capitalista, o interesse da China não é estender suas mãos aos trabalhadores e ao povo pobre do mundo; mas, ao contrário, defender os interesses de seus monopólios e bilionários, à custa da exploração e da rapina. Ainda que sorrindo e parecendo gentil.