O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avalia conceder isenções tarifárias para montadoras de veículos, atendendo a reivindicações de executivos da indústria automotiva. A informação foi publicada pelo Financial Times, com base em fontes próximas às negociações.
Segundo a reportagem, a possível medida prevê a exclusão de algumas peças automotivas das tarifas de importação aplicadas durante o governo Trump, que haviam sido justificadas como parte das ações para combater a produção de fentanil na China. Entre os itens que podem ser incluídos nas isenções estão peças automotivas específicas, além de aço e alumínio utilizados no setor.
Apesar das discussões sobre a flexibilização, o jornal afirma que Trump deve manter a tarifa de 25% sobre veículos produzidos fora dos Estados Unidos.
A medida foi uma das principais bandeiras da política comercial de seu mandato, sob a justificativa de proteção da indústria nacional. Também permanece prevista a implementação, em 3 de maio, de uma tarifa separada de 25% sobre determinadas peças automotivas importadas.
As negociações ocorrem em meio a uma série de medidas tarifárias anunciadas por Trump no início de abril. Em 2 de abril, o ex-presidente assinou uma ordem executiva estabelecendo tarifas recíprocas sobre importações de diferentes países. A tarifa básica foi fixada em 10%, com percentuais superiores aplicados a um grupo de 57 nações, com base no déficit comercial dos Estados Unidos com cada uma delas.
No dia 9 de abril, Trump anunciou que a alíquota básica de 10% será estendida por um período adicional de 90 dias para mais de 75 países que, segundo ele, não adotaram medidas de retaliação e manifestaram interesse em negociar. A China foi excluída dessa extensão, mantendo-se como principal alvo das tarifas americanas.
De acordo com fontes ouvidas pelo Financial Times, as discussões sobre possíveis isenções ocorrem após semanas de pressão de representantes da indústria automotiva, que buscam alternativas para reduzir os custos de produção em meio ao cenário tarifário.
As montadoras argumentam que as tarifas sobre peças e insumos elevam os preços finais dos veículos, impactando a competitividade no mercado interno.
Ainda segundo a reportagem, os executivos do setor também alertaram sobre o risco de redução de investimentos em território americano caso as tarifas sejam mantidas sem flexibilização. O pleito inclui a retirada ou redução das tarifas sobre aço e alumínio, insumos considerados estratégicos para a cadeia produtiva automotiva.
O governo Trump justificou a imposição das tarifas sobre aço e alumínio com base em questões de segurança nacional, argumento que também foi utilizado para as tarifas sobre veículos e peças importadas.
Durante seu mandato, Trump sustentou que a dependência de fornecedores estrangeiros nessas áreas representaria uma vulnerabilidade para os Estados Unidos.
Mesmo com as tratativas em andamento, o Financial Times destaca que ainda não há definição sobre quais peças automotivas poderiam ser incluídas nas possíveis isenções, nem sobre o alcance exato da medida.
As conversas seguem sob reserva e envolvem membros próximos da equipe de Trump e representantes das principais montadoras que atuam no mercado americano.
O setor automotivo norte-americano tem sido um dos mais impactados pelas políticas tarifárias adotadas nos últimos anos. Além das tarifas aplicadas à China, os Estados Unidos mantêm uma série de medidas comerciais direcionadas a diferentes países, baseadas em critérios como o saldo da balança comercial e as negociações bilaterais em andamento.
As tarifas sobre aço e alumínio, implementadas em 2018, chegaram a gerar represálias comerciais por parte de países como Canadá, México e União Europeia, o que resultou em renegociações de acordos, incluindo o tratado comercial que substituiu o antigo NAFTA, atualmente conhecido como USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá).
A possibilidade de flexibilização parcial das tarifas ocorre em um momento em que Trump busca consolidar apoio em setores da economia que sofreram impactos diretos das políticas adotadas durante sua gestão. As medidas também estão sendo analisadas no contexto da política comercial americana e de suas possíveis repercussões eleitorais.
O tema segue em debate entre os representantes do setor automotivo e os responsáveis pela formulação da política comercial de Trump. A definição sobre eventuais isenções dependerá do desfecho das negociações e da avaliação do impacto das tarifas sobre a produção e o emprego na indústria automobilística dos Estados Unidos.
O ex-presidente ainda não se manifestou publicamente sobre os detalhes das negociações envolvendo as montadoras, nem confirmou oficialmente quais isenções poderão ser adotadas. O Financial Times aponta que, apesar da pressão do setor, a decisão final poderá manter parte das tarifas para preservar o discurso de defesa da indústria nacional, marca das políticas comerciais do governo Trump.