
Por Isabela Cunha e Jade Azevedo, do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST
O estado do Paraná acaba de dar início a duas turmas do Curso Realidade Brasileira (CRB), uma em Curitiba e outra em Londrina. Ambas são focadas na integração de estudantes universitários e militantes de organizações sociais do campo e da cidade para refletir sobre a atual realidade brasileira e sua necessária transformação a partir da interface com o pensamento crítico brasileiro.
Em Curitiba, o curso acontece em formato de extensão com a Universidade Federal do Paraná, por meio do Movimento de Assessoria Jurídica Universidade Popular (MAJUP) Isabel da Silva, do Setor de Ciências Jurídicas da universidade. O curso foi uma construção coletiva com o Marmitas da Terra, Levante Popular da Juventude, e Mãos Solidárias.
Em Londrina, o curso é organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) junto com outras entidades e organizações populares, como o Centro de Direitos Humanos (CDH), o Centro Juvenil Vocacional da Igreja Católica, em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL), que é a instituição que fará a certificação dos educandos, por meio do programa de Ciências Sociais chamado Praxis.
No Paraná, as duas turmas reúnem aproximadamente 210 inscritos no curso (140 em Curitiba e 70 em Londrina), sem contar a participação de pessoas interessadas nos módulos abertos, como foi o caso da aula inaugural com Márcio Pochmann, economista e presidente do IBGE, que aconteceu em março. Neste mês, na próxima sexta-feira, 25, a aula é com João Pedro Stédile, economista e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que vai discutir “O Direito à Terra”. A aula começa às 18h30 no Auditório 100, do prédio da Reitoria, em Curitiba, e está aberta ao público em geral.
No sábado, 26, as aulas seguem refletindo sobre “Questão agrária, agroecologia e questão ambiental no Brasil”, com a engenheira ambiental do Instituto Água e Terra (IAT), Cláudia Sonda; o jurista Carlos Marés, doutor em direito público, especialista em defesa dos povos indígenas e ex-presidente da Funai; e Gabriela Bica, doutora em agroecossistemas e vice-reitora da UFPR. No sábado, as aulas acontecem no Prédio Histórico da Praça Santos Andrade, a partir das 9h da manhã.
No mês de julho, Stedile também estará no CRB de Londrina, para debater a “Questão Agrária e o Meio Ambiente”. Antes dele, em maio, Londrina recebe a professora Roberta Traspadini, educadora popular, pesquisadora graduada em ciências econômicas e atualmente professora na UNILA, que conduzirá o tema “Como funciona a sociedade: fundamentos da economia política”.
Os dois CRB’s vão trabalhar temas como o povo brasileiro, o direito à terra, agroecologia e questão ambiental no Brasil, a formação socioeconômica da classe trabalhadora brasileira, capitalismo, patriarcado e racismo na formação social brasileira, religiosidade e política, periferia no Brasil, cultura na organização do povo, segurança alimentar e, por fim, um projeto popular de Brasil.
O Curso segue até novembro, com oito módulos em cada cidade, todos debatendo as questões políticas e históricas da sociedade brasileira. No decorrer do curso, os educandos têm o tempo comunidade, em que vão trazendo para a praxis o que discutem nas aulas. Ao todo, serão 144 horas de estudo e trabalho, e cada educando vai receber seu certificado.
Entre permanências e reformulações, a Formação do Povo Brasileiro
No estudo da obra de Darcy Ribeiro, em diálogo com seus interlocutores, foi tema de abertura do Curso de Realidade Brasileira. Em ambas cidades, o professor de direito da UFPR, Ricardo Prestes Pazello, foi o responsável por trazer o debate sobre “O Povo Brasileiro”. Pazello iniciou as aulas com provocações em torno das músicas brasileiras que, cada uma à sua época, buscaram sintetizar uma ideia de povo brasileiro, uma identidade brasileira. Desde o “Brasil samba que dá”, até o “Mil povos formaram minha cara”, Pazello apresentou as tentativas que ao longo da história do país sintetizaram uma ideia de Brasil.
Da mesma maneira, ele apresentou autores que, antes de Darcy, fizeram abordagem racistas e racialistas ao tentarem definir o Brasil. A aula não ignorou, entretanto, a importante contribuição de Lélia Gonzalez, que pensa o racismo também como sintomática de uma neurose Brasileira.
Estudar o Brasil a partir de suas obras essenciais, como O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro tem como objetivo a formação de militantes do campo e da cidade com o fim de gerar reflexão e provocar a construção de um novo modelo de sociedade para o nosso país.
Organicidade e história: 20 anos de CRB
Além da aula expositiva e tempo-leitura, em Londrina o primeiro módulo do curso reservou espaço para apresentação da história do CRB e do contexto local da realização do Curso. A escritora e historiadora Rosa Negra, do setor de formação do MST, partilhou com o público o histórico do curso desde a sua criação até à conjuntura atual. “O CRB foi criado durante o espaço de uma Marcha Nacional. A primeira turma foi realizada nesse contexto da organização popular, a cada parada da marcha a militância pôde construir e participar desse espaço de formação”, rememorou.
Além da história, Rosa também destacou os compromissos atuais do CRB, “É um Curso que chega também para fazer o debate ideológico necessário para o momento”, analisa. “Nosso compromisso é o de realizá-lo em todos os estados do Brasil. Cada município é importante, cada iniciativa é importante”, ressaltou.
No Litoral, especificamente no campus de Matinhos, o curso “Realidade Brasileira a partir dos seus pensadores” acontece na UFPR desde 2019, em formato de pós-graduação Lato Sensu, com duração de dois anos. A expectativa é que a 3ª turma da pós-graduação aconteça em abril deste ano.
Agenda
Você pode acompanhar a agenda do curso pelas redes sociais do Marmitas da Terra (Curitiba), no MST Paraná (Curitiba e Londrina) e no MST do norte (Londrina).
Para a aula do João Pedro Stédile, na sexta-feira, 25, faça sua inscrição no link (https://forms.office.com/r/BaGWhnMinX). A aula começa às 18h30, no anfiteatro 100, no 1 andar do Prédio da Reitoria, Centro – Curitiba.
*Editado por Fernanda Alcântara