O Papa Francisco e a Literatura
por Urariano Mota
Li há pouco a notícia de um prefácio muito bem escrito do Papa Francisco para um livro do Cardeal Angelo Scola. Texto belo e fecundo, que eu aproximo à literatura. Nele, eu li que “a morte não é o fim de tudo”. Que o livro tem páginas que saíram “do pensamento e do afeto”, como o Papa diz. Agora olhem que feliz coincidência. No romance “A mais longa duração da juventude”, escrevi:
“Nada passou nem ficou sepultado. Então vem, e vejo agora que a sobrevivência do acontecimento não é uma revolta romântica. Nem uma luta quixotesca e inglória contra a morte. O fim, o tudo acaba não é a dissolução de tudo. O fim não é exatamente o último segundo do viço da orquídea. O fim não é nem mesmo a destruição feita pela bomba atômica. Nós seremos os grãos de pó que escreveram estes dias”.
Vocês veem que aquela reflexão teológica do Papa termina por se confundir com a visão da matéria da nossa luta, que sobrevive à força da arte, da ciência e da literatura, que vai além dos nossos dias.
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Urariano Mota – Escritor, jornalista. Autor de “A mais longa duração da juventude”, “O filho renegado de Deus” e “Soledad no Recife”. Também publicou o “Dicionário Amoroso do Recife”.