Um estudo conduzido pelo físico britânico Chris Busby e publicado pela emissora libanesa Al Mayadeen revelou provas de que o ataque aéreo israelense realizado no bairro de Dahieh, em Beirute, no dia 27 de setembro de 2024, utilizou um tipo de armamento contendo Urânio. O alvo do bombardeio foi Saied Hassan Nasseralá, morto na explosão. A análise foi realizada a partir de amostras de solo coletadas no local do impacto.
As amostras foram obtidas graças ao trabalho conjunto do professor Jihad Abboud, do doutor Robert Daly e da repórter Yvonne Anwar Saouiby. Segundo o estudo, foram identificadas partículas altamente radioativas compatíveis com as deixadas por armas que utilizam Urânio enriquecido (EU) ou empobrecido (DU). Ainda não foi possível determinar com precisão qual tipo de Urânio foi utilizado no caso específico, mas a análise foi enviada a um laboratório especializado para espectrometria de massa.
O método empregado para identificar a presença de partículas radioativas utilizou plástico CR39, um tipo de polímero sensível a partículas alfa. O CR39 foi exposto às amostras de solo por trinta dias, e depois desenvolvido em hidróxido de potássio aquecido. Esse processo revelou diversas regiões com agrupamentos de trilhas de radiação, indicando a presença de partículas de Urânio de alta intensidade, denominadas hot particles.
Essas partículas são produzidas quando o Urânio atinge temperaturas elevadas — como as causadas por explosões — e se vaporiza, formando um plasma. Durante o resfriamento, o Urânio reage com o oxigênio e forma óxido de Urânio, cuja estrutura microscópica foi identificada nas amostras de solo. Essas partículas têm cerca de 1 mícron de diâmetro, são inaláveis e têm alto potencial para se alojar nos pulmões, rins ou outros órgãos.
Segundo Busby, foi observado um fenômeno inédito nesse tipo de análise: a presença de partículas radioativas na face oposta do plástico CR39, ou seja, no lado que não estava voltado para o solo. Isso indica que as partículas presentes na amostra se tornaram aerotransportadas dentro do recipiente de análise, o que sugere que o ambiente ao redor do local da explosão pode ter sido contaminado com partículas suspensas no ar. Esse comportamento pode ser causado por efeitos eletrostáticos, mas o mecanismo exato ainda não está completamente compreendido.
Além da análise com CR39, também foram feitas medições de radiação gama no local da explosão cerca de doze semanas após o ataque. As leituras indicaram uma taxa de 300 nanosieverts por hora (nSv/h), valor aproximadamente três vezes superior ao nível natural da área (100 nSv/h). O dado é considerado significativo, embora não elevado o suficiente para representar risco imediato, segundo padrões internacionais. No entanto, ele reforça a presença de material radioativo residual.
A suspeita de que o Estado de “Israel” esteja utilizando armamentos baseados em Urânio não é nova. Segundo Busby, desde 2006 já foram encontradas evidências de uso de Urânio enriquecido em ataques israelenses no sul do Líbano, em Gaza e em outras localidades. Em 2009, foram analisadas amostras de solo em Gaza que continham EU, e um estudo de 2021 publicado na revista científica *Nature* detectou a substância em 55 amostras coletadas no mesmo território.
O estudo sugere a hipótese de que esse armamento corresponde a uma nova geração de armas nucleares de pequeno porte, conhecidas como bombas de nêutrons ou mini-nukes. Diferentemente das bombas atômicas tradicionais, esse tipo de armamento não gera explosões de grande escala nem fungos nucleares visíveis. Seu funcionamento pode envolver fusão de núcleos de Deutério (hidrogênio pesado) com Urânio enriquecido, liberando nêutrons e calor intenso, mas com baixa produção de resíduos de fissão.
A hipótese foi discutida em 2006 com o físico italiano Emilio Del Giudice, que concluiu que o armamento poderia estar utilizando Deutério de forma direta como fonte de fusão nuclear. Del Giudice chegou a escrever um livro sobre o tema, O Segredo das Três Balas, publicado postumamente após sua morte.
De acordo com os estudos, os efeitos de uma bomba de nêutrons incluem danos severos a tecidos humanos, com destruição celular em órgãos como pulmões e rins, muitas vezes sem sinais clínicos externos visíveis. Em ambientes fechados, os efeitos são acentuados devido à penetração dos nêutrons, enquanto em espaços abertos, as vítimas podem apresentar queimaduras decorrentes do pico térmico imediato da explosão.
Estudos anteriores conduzidos por Busby em Faluja, no Iraque, revelaram níveis elevados de câncer, leucemia e malformações congênitas após ataques com armamento semelhante durante a guerra de 2003. Nesses casos, também foi encontrada presença de Urânio enriquecido no cabelo de mães de crianças afetadas.
Busby participou do conselho britânico Depleted Uranium Oversight Board e apresentou seus estudos à Royal Society e ao Congresso dos Estados Unidos. Ele também relata ter encontrado resíduos de Urânio empobrecido em poças de neve em Gjakova, no Cossovo, em 2001, distante dos locais de combate, indicando a capacidade dessas partículas de serem transportadas pelo ar e se depositarem em regiões remotas.
Com base nos dados obtidos no Líbano, Busby conclui que o artefato utilizado por “Israel” no ataque de 2024 representa uma forma moderna de armamento nuclear tático, cujos efeitos combinam letalidade biológica, invisibilidade tática e baixa assinatura radioativa de curta duração. Ainda que não haja confirmação laboratorial sobre o tipo exato de Urânio envolvido, os indícios reunidos apontam para o uso deliberado de tecnologia baseada em fusão com Urânio enriquecido.
Segundo o relatório, as partículas de Urânio emitidas após a explosão permanecem no ambiente, podem ser inaladas e se depositam em diversos tecidos do corpo humano, onde permanecem de forma insolúvel, causando danos localizados por toda a vida do indivíduo. O estudo alerta que essas partículas representam um problema de saúde pública de longo prazo para as populações expostas.
A investigação científica prossegue com análises laboratoriais complementares para confirmar a natureza do material encontrado nas amostras. O objetivo é aprofundar a identificação do tipo de Urânio e confirmar o modelo da arma utilizada. O caso está sendo documentado como mais uma possível ocorrência do uso de armamento baseado em Urânio em zonas urbanas densamente povoadas.