O quão belo é explorar os limites da tristeza? Quando se trata das animações japonesas, percebe-se que há um fascínio dos mangakás e estúdios de animação por histórias catárticas, puxando pelo mais melancólico e triste, sempre deixando ao espectador uma necessidade de reflexão que não tem fuga, não tem amanhã, se não seguir em frente com a própria dor. Vale para a personagem em questão, vale para quem lê ou assiste.
Cartas como expressão da tristeza contida
Princesa Charlotte, que vai se casar aos 14 anos e mal sabe o que é o amor; Clara Magnólia, doente terminal que precisa escrever suas últimas cartas
Em Violet Evergarden (2018), anime baseado em graphic novel de Anna Akatsuki e realizado em parceria da Netflix com a Kyoto Animation, a tristeza é expressa por cartas que revelam as dores de um mundo em guerra. Uma jovem, biamputada nos braços na guerra mundial vivida em seu mundo de fantasia, consegue usar próteses fictícias para mover os braços, que não servem para muita coisa, a não ser datilografar. E ela tem uma ótima característica para escrever cartas para outras pessoas: não tem emoções, de modo que todas as pessoas não terão vergonha das reações que ela possa transparecer ante o que dizem.
Esse é o pano de fundo para uma série de episódios com histórias próprias, porém conectadas por um eixo comum e linear: a busca por Violet por recuperar a memória de seu passado e seus ferimentos de guerra, assim como a lembrança calorosa que tem de seu comandante, o Major. Nesse caminho, ela escreverá histórias sobre irmã que cuida de irmão amputado e deprimido de guerra, um astrônomo isolado que vê nela a primeira mulher em anos, um pai que perdeu a filha doente, entre outras. Elas levam ao emblemático episódio 10, de um total de 13, que de tão emocionante não deve ser contado aqui. Mas guarde: episódio 10.
Qual o papel da tristeza?
Violet ainda como soldado, com os dois braços. Flashbacks são núcleo de ação e contam sua trajetória e tragédia no Exército
Difícil saber, mas, para o japonês, o coração da tristeza é a ressignificação. É dar ao mundo um novo caminho, é buscar ser feliz como resposta ao triste, equilibrando o tao, ou dô, ciente de que a nova tristeza virá, ou o caminho não se manterá como eterna transformação. O ocidental olha para a tristeza e a evita. O orienta olha para a tristeza e a acolhe. Por isso animes como Violet Evergarden, Clannad, sub-histórias de Naruto, Angel Beats, ou mesmo o dorama Love and Fortune, fazem parte do imaginário japonês, embora para nós pareçam exótico.