O texto “Você é de esquerda? Os outros precisam saber”, assinado por Oliveiros Marques, publicado no Brasil 247, neste dia 20, propõe uma rota segura para o fracasso, pois não se pode conter a direita de maneira tímida e apenas com “ideias libertárias, humanistas e inclusivas”, que ele alega serem “o conteúdo da visão de mundo da esquerda e, em alguns casos, da centro-esquerda”.

Na verdade, um dos grandes erros da esquerda é essa política reativa e a necessidade de barrar alguma coisa, em vez de construir um partido forte da classe trabalhadora, um verdadeiro movimento de oposição ao regime.

Oliveiros Marques diz que “o avanço do extremismo de direita parece estar sendo oportunizado pela não existência de um dique que lhe contraponha”. É uma ideia correta, ainda mais se considerarmos que em política não existe vazio: se uma força cede, a outra avança.

Segundo o autor,

“O trabalho realizado pelo lawfare patrocinado por agentes públicos a partir de Curitiba intimidou a imensa maioria daqueles que constroem a resistência. Milhares de páginas de jornais e revistas, bits na internet, palavras jogadas irresponsavelmente pelas ondas do rádio, um sem-número de horas de telejornais fizeram o serviço”.

Mas essa é apenas uma parte do problema.

A intimidação só é efetiva quando encontra grupos fracos e sem coesão. É preciso também lembrar que partidos e pessoas de destaque da esquerda, como Luciana Genro (PSOL), apoiaram a Lava Jato.

Antes da farsa de Curitiba, houve o julgamento do Mensalão. Foi aí o início da grande ofensiva burguesa contra o PT e a esquerda. A enxurrada de calúnias e o bombardeio ininterrupto contra o PT alimentaram a extrema direita no Brasil.

Nesse período, a esquerda não deu o devido combate aos ataques, pois, como na época da Lava Jato, muitos concordavam com a operação. A esquerda, que já havia feito a campanha de “ética na política”, caiu na conversa fiada de combate à corrupção. Muitos petistas se negaram a defender seus dirigentes que estavam sendo massacrados em uma clara armação.

A ministra Rosa Weber, do STF, em uma das maiores fraudes judiciárias da nossa história, declarou que não tinha provas contra José Dirceu, e que mesmo assim iria condená-lo. O que fez a esquerda?

Anarco timidez = derrota

Um dos pontos mais negativos do artigo é seu caráter anarquista, difuso, de como devemos agir diante do avanço da direita. Oliveiros Marques diz que “se faz necessário o ajuste no conteúdo, na forma e nas ferramentas a serem utilizadas [para se aproximar da população]. Seria preciso calibrar o discurso, aproximando-o mais da visão média da maioria, para se conquistar terreno passo a passo (…) Trabalhar temas e pautas segmentadas de forma segmentada”. Ou seja, enquanto a extrema direita bate no peito para defender suas posições, a esquerda precisa ir pisando de mansinho.

Na verdade, Oliveiros Marques é um crítico da esquerda, afirmando que “do jeito que era feito [a esquerda] já se mostrou incapaz de exercer a força exigida pelo momento”. É a velha, surrada, repetida e típica crítica de classe média.

Oliveiros Marques quer que, aos poucos, “as pessoas, no seu dia a dia, falem mais que são de esquerda — para que mais pessoas ouçam. Pode até não ser a volta do uso de bottons com estrelas ou foices, ou com imagens de Marx, Lênin, Rosa, Trótski ou Gramsci. Mas se for, ótimo. Contudo, verbalizar um simples sou de esquerda já terá cumprido uma parte importante da tarefa que se apresenta.

Isso que foi proposto acima é exatamente o que tem levado a esquerda à ruína. O PT, talvez por obra de algum marqueteiro “genial”, até já arredondou as pontas da estrela do partido, para parecer menos agressivo.

Isso aí não empolga ninguém. Os trabalhadores estão tendo perdas enormes desde o golpe de 2016. Quem está com a vida ganha não tem pressa, mas para o trabalhador a coisa é bem diferente, a realidade é outra.

Um político de verdade

Vladimir Lênin, que dirigiu a Revolução Russa e era um político genial, já havia caracterizado, mais de uma vez, essas tendências capituladoras de setores pequeno-burgueses da esquerda. Em um de seus textos mais agudos, diz o seguinte:

“Quem mantém uma atitude de indiferença diante da ideia do caráter burguês da luta pela liberdade, apoia, tacitamente, o domínio da burguesia nesta luta (…). A indiferença política não é outra coisa senão a saciedade política. Aquele que está farto é ‘indiferente’ e ‘insensível’ diante do problema do pão de cada dia; porém o faminto será sempre um homem ‘de partido’ nessa questão. A ‘indiferença e insensibilidade’ de uma pessoa diante do problema do pão de cada dia não significa que não necessite de pão, mas que o tem sempre garantido, que nunca precisa dele, que se acomodou bem no ‘partido’ dos que estão saciados”.

Para combater a direita é preciso que os trabalhadores se juntem em um partido, que se prepare teoricamente, que faça o trabalho político nas ruas, e que defenda suas ideias e bandeiras com orgulho e determinação.

Uma atitude covarde diante da extrema direita vai apenas servir como incentivo para que passe por cima sem piedade de seus opositores.

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1) Lênin, V. I. – O Partido Socialista e o Revolucionarismo sem Cunho Partidário. (2 de Dezembro de 1905).

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Last Update: 24/04/2025