“Educação não é cara. O que é caro é a ignorância” – Leonel Brizola

Na vida, existem as pessoas essenciais, as imprescindíveis – e havia o papa Francisco.

Como um cristão (de verdade) chegou a ser papa é um mistério, a ser atribuído unicamente ao Espírito Santo.

Francisco, em todos os doze anos de papado, buscou sempre a porta estreita, carregando, qual Simeão portenho, a cruz de Cristo.

Em política externa, superou-se: promoveu a paz no Sudão do Sul, chegando a beijar os pés dos contendentes; à Ucrânia, enviou o arcebispo de Bolonha (forte candidato à sucessão), Matteo Zuppi, que além de Kiev foi a Moscou, mesmo ciente de que se tratava de guerra por procuração; no Oriente Médio, buscou o diálogo inter-religioso com o Islã e o Judaísmo, denunciando os crimes de Israel, como genocídio, e telefonando todos os dias ao pároco da martirizada igreja de Gaza.

Francisco estava por todos os lados onde houvesse injustiça e a verdade devesse ser restaurada. Um Che Guevara de batina, capaz de sentir como própria a dor alheia, onde quer que ela estivesse.

Que falta nos fará esse santo homem!

No Brasil, restaurou a verdade, dizendo que fora um golpe a destituição de Dilma e a prisão de Lula.

Quando vemos que até Tarcísio de Freitas, que chancela os crimes mais bárbaros da PM paulista, detentora de uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo, arvora-se em candidato à Presidência, só nos resta esperar que Francisco olhe por nós lá do céu, onde já está.

De fato, neste País, a lei é rápida em punir os pobres, mas lenta, sonolenta e quase inexistente com os ricos.

Não vale o domínio do fato para o governador de São Paulo? Não conhece os desmandos de seu secretário de Segurança Pública? Por que não é acionado judicialmente – e condenado? O que falta para isso?

Em O Tesouro Escondido (editora Paulinas), outro forte candidato ao papado, o cardeal português José Tolentino Mendonça, citando João, o discípulo que Jesus amava, recorda-nos: “No amor, não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo […] (1Jo 4,18).”

Ora, o que gera a PM paulista senão medo?

Por que temos de continuar a conviver com o medo? A quem interessa? Quem ganha?

É cristão o sentimento do medo? É cristão gerar medo? Não foi o próprio Cristo que nos exortou: “Não tenham medo”?

Francisco plantou coragem, denunciando as políticas genocidas dos países do Norte, que, ao rejeitarem os emigrantes, condenam-nos, no mais das vezes, à morte. Por isso, sua primeira viagem foi à ilha italiana de Lampedusa, onde jogou no Mediterrâneo uma coroa de flores, qualificando-o como um cemitério.

Na obra supracitada, o cardeal José Tolentino recorda-nos o que é uma árvore, como cresce, desde a semente, citando o italiano Bruno Munari: “Uma árvore é uma semente que cresce devagar e em silêncio”.

Assim operou Francisco, sempre, mas principalmente para o reatamento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos da América.

Em surdina, escreveu cartas, fez telefonemas e mandou emissários pessoais a Raúl Castro e Barack Obama, até que ambos finalmente voltassem ao diálogo bilateral, após décadas de medo, desconfiança e terrorismo estadunidense.

Francisco tinha o dom da ubiquidade, como só o Pai tem.

Também da onisciência, lendo mentes e corações.

Quem diria que do subúrbio de Flores sairia o maior diplomata deste início de conturbado, triste e desolado século XXI.

Quanto orgulho nos trouxe para esta América Latina, tão oprimida, desrespeitada, mantida inculta por aquelas oligarquias cujo único galardão é serem as mais ignorantes, violentas e manipuladoras “elites” (dentre as tantas que, no Sul do mundo, cumprem o papel de capitães do mato dos impérios e, consequentemente, dos infernos).

E Francisco nos queria em saída, em busca dos oprimidos, sem rendas, nem dourados, sem carros de luxo, nem choferes de libré.

Em sua obra, o cardeal português cita outro cardeal, Newman, para quem: “Aqui, na terra, viver é mudar, e a perfeição é o resultado de muitas transformações.”

Francisco, em sua passagem, para a casa do Pai, transforma-nos em seus fiéis seguidores: na busca da verdade, do amor, da compaixão, da caridade e da ternura.

Temos esse compromisso com ele. Ele tem conosco a fidelidade em continuar inspirando-nos, para juntos, em saída, conquistarmos um mundo de justiça, paz e liberto das correntes da opressão.

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Last Update: 23/04/2025