Um áudio vazado, obtido pelo portal norte-americano The Grayzone, expôs a natureza da relação entre o regime sionista de “Israel” e membros do governo de Donald Trump. Em um painel fechado ocorrido na Cúpula do Congresso do AIPAC de 2025, o diretor executivo da entidade, Elliott Brandt, explicou abertamente como o maior comitê de lobby sionista molda, financia e controla a política externa dos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito ao Oriente Médio.
A conferência, realizada no hotel Marriott e estritamente vedada à imprensa, contou com a presença de figuras centrais do lobby sionista nos EUA. No painel em que Brandt discursou, também participou Dana Stroul, ex-funcionária de alto escalão do Pentágono e hoje diretora de pesquisa no Washington Institute for Near East Policy, think tank fundado como braço do próprio AIPAC.
O áudio, gravado por um participante do evento, oferece um vislumbre do funcionamento interno de uma das principais organizações que coordenam a política externa norte-americana segundo os interesses do regime sionista. Segundo Brandt, o AIPAC atua como uma verdadeira central de recrutamento e formação de quadros políticos nos EUA, garantindo que ocupem cargos estratégicos com compromisso absoluto com os interesses de “Israel”.
A estrutura de controle: acesso direto ao coração do Estado norte-americano
Brandt nomeou três dos principais quadros da administração Trump como “linhas diretas” do AIPAC dentro do governo: o Secretário de Estado Marco Rubio, o Diretor Nacional de Segurança Mike Waltz e o ex-diretor da CIA John Ratcliffe. Todos, segundo ele, foram cultivados desde os tempos de Congresso, com campanhas bancadas por doadores ligados ao lobby sionista. “Essas três pessoas têm algo em comum: todas serviram no Congresso”, disse Brandt, revelando que a relação com o comitê foi construída desde suas candidaturas iniciais.
O lobista explicou que os três possuem “boas linhas de comunicação” com líderes do AIPAC em suas regiões, o que garante “acesso às conversas” sempre que surgem “questões sensíveis”. A naturalidade com que Brandt descreve esse esquema demonstra que a ingerência sionista em assuntos internos dos EUA é institucionalizada, tratada como rotina política em Washington.
Essas afirmações confirmam declarações anteriores do deputado Thomas Massie, que já havia denunciado que cada parlamentar norte-americano é pressionado e supervisionado por um “representante do AIPAC”.
Escândalos de espionagem reaparecem
A menção explícita a discussões internas da segurança nacional envolvendo agentes do AIPAC remete a episódios escandalosos do passado. Em 2004, o FBI prendeu Larry Franklin, funcionário do Pentágono, por repassar informações classificadas sobre o Irã a dois funcionários do AIPAC: Keith Weissman e Steve Rosen. O material foi posteriormente entregue aos serviços de inteligência sionistas. À época, o FBI chegou a invadir a sede do AIPAC e apreendeu o computador de Howard Kohr, antecessor de Brandt.
Apesar da gravidade do caso, nenhum dos envolvidos foi devidamente punido. Franklin foi condenado a uma pena simbólica, e Weissman e Rosen apenas perderam seus cargos. O episódio, abafado pela imprensa corporativa, é um exemplo do grau de impunidade com que opera o lobby sionista nos Estados Unidos.
O próprio Brandt admitiu no painel ter participado do processo de “formação” de John Ratcliffe desde sua candidatura inicial. “Foi um dos primeiros candidatos com quem me encontrei como profissional do AIPAC”, disse. “Conversamos com ele e, algumas semanas atrás, ele tomou posse como diretor da CIA”.
Brandt reconhece que esse tipo de relação é fundamental para manter o controle do Estado norte-americano:
“Existem várias linhas diretas, não gosto desse termo, mas é isso. São verdadeiras linhas diretas com o governo.”
Dana Stroul: uma operadora sionista dentro do Pentágono
Se a fala de Brandt já revela o controle exercido pelo AIPAC sobre o aparato governamental, a participação de Dana Stroul no painel confirma a infiltração direta do lobby sionista nos órgãos de defesa e segurança dos EUA. Stroul, que trabalhou como vice-secretária de Defesa para o Oriente Médio durante o governo Biden, fez um discurso assumidamente pró-“Israel”, ignorando os crimes de guerra cometidos na Faixa de Gaza e promovendo a aliança militar com o regime sionista como “estratégica” para os interesses do imperialismo norte-americano.
Segundo ela, o fornecimento contínuo de armas a “Israel” é benéfico para os EUA. Em tom abertamente cínico, Stroul relativizou os crimes cometidos pelo exército sionista contra mais de 50 mil civis palestinos, culpando o Hamas por utilizar “táticas de escudo humano”.
No entanto, um e-mail vazado e publicado pela Reuters mostra que, em 13 de outubro de 2023, Stroul reconheceu que a Cruz Vermelha Internacional estava alarmada com a possibilidade de “Israel” estar cometendo crimes de guerra. “É impossível deslocar um milhão de civis tão rápido”, escreveu ela, reproduzindo as preocupações expressas em conversa com o diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Oriente Médio, Fabrizio Carboni.
A defesa do genocídio como política de Estado
Apesar de ter ciência do caráter criminoso da ofensiva sionista, Stroul se orgulha do papel que desempenhou no suporte à matança em Gaza. Em sua fala no painel, relatou que foi chamada ao Pentágono no dia 7 de outubro de 2023, logo após a ação da Resistência Palestina, para coordenar o envio de munições e armamentos diretamente para bases israelenses. Trabalhou, segundo ela, durante 48 horas ininterruptas.
Stroul foi além, defendendo que “Israel” é um parceiro que “inverteu o paradigma” do uso da força armada, fazendo mais com menos do que os próprios EUA. Afirmou ainda que o uso dos caças F-35 pelo exército sionista supera o dos EUA em eficácia, e que a inteligência fornecida por “Israel” é tão valiosa quanto a recebida.
Para Stroul, o fato de “Israel” assumir o enfrentamento com o Irã, a Síria, o Ansar Alá e a Resistência Palestina — poupando soldados norte-americanos — é mais um motivo para sustentar a aliança com o regime sionista. A seu ver, “o modo de não colocar jovens americanos em combate é investir em parceiros fortes que saibam se defender”. Em outras palavras: o exército sionista é o braço armado do imperialismo norte-americano no Oriente Médio.
O medo da opinião pública
Apesar da arrogância de suas posições, tanto Brandt quanto Stroul demonstraram forte preocupação com a crescente impopularidade do regime sionista entre os norte-americanos. O painel foi permeado por esse temor. Foi recomendado que os participantes escondessem seus crachás ao sair do hotel para evitar serem confrontados por manifestantes contrários ao genocídio em Gaza.
Um dos participantes não identificados apontou que o maior perigo vem do crescimento da solidariedade à Palestina no meio acadêmico e nas redes sociais. Segundo ele, professores e influenciadores estão moldando a opinião da nova geração, inclusive nos sistemas de inteligência artificial. “Imagine daqui cinco anos um assessor parlamentar perguntando a uma IA se apoiar Israel é bom para a segurança nacional dos EUA. A resposta vai depender do que está disponível na internet hoje”, disse o painelista.