As microfinanças estão se consolidando como alternativa para atender empreendedores informais que não conseguem acessar o sistema financeiro tradicional.
Em 2025, as instituições associadas à Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (ABCRED) liberaram R$ 1,22 bilhão em financiamentos — uma alta de 20% em relação ao ano anterior.
O avanço é reflexo de uma metodologia própria de avaliação dos candidatos ao crédito, que permite conceder recursos com juros equilibrados, mantendo a sustentabilidade das operações e com baixa inadimplência.
Maioria dos beneficiados está na informalidade
De acordo com a ABCRED, 65% dos 155 mil clientes das entidades associadas atuam no setor informal.
A presidente da associação, Isabel Baggio, afirma que o impacto do microcrédito vai além da atividade econômica.
Ela cita o exemplo de uma doceira que, sem acesso ao sistema bancário, encontra nas microfinanças a possibilidade de financiar um novo forno e, com isso, aumentar a produção, formalizar o negócio e gerar empregos.
“É um modelo que permite que o empreendedor invista e cresça, mesmo sem CNPJ”, afirma.
Informais ainda representam quase 40% dos trabalhadores
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, o Brasil ainda tem 39,5 milhões de trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ — cerca de 38% da força de trabalho.
Em 2023, os informais representavam 59% dos clientes atendidos pelas associadas da ABCRED.
Em um ano, o número de empreendedores informais que buscaram crédito cresceu em mais de 14 mil pessoas.
“Se considerarmos o impacto nas famílias, o número de pessoas beneficiadas se multiplica. O crédito impulsiona não só o negócio, mas também a renda e a estabilidade doméstica”, explica Baggio.
Avaliação individual substitui modelos tradicionais de risco
O diferencial das microfinanças está no modelo de análise.
Em vez de seguir cadastros e escores de crédito, as instituições fazem uma avaliação individualizada da realidade de cada tomador.
Consultoras de crédito — na maioria mulheres — visitam os empreendedores, realizam diagnósticos financeiros e constroem uma relação de confiança.
A estratégia permite decisões mais assertivas e reduz a necessidade de garantias formais.
A inadimplência nas operações da ABCRED ficou em 2,8% em 2024.
Crédito produtivo segue como principal destino
Do total de recursos liberados, 85% foram direcionados a negócios — seja para capital de giro ou investimentos produtivos.
O chamado microcrédito produtivo segue como carro-chefe das liberações.
No entanto, cresce a demanda por recursos que também impactam a qualidade de vida para além da atividade empreendedora.
Crédito também financia moradia, energia e saneamento
Em 2024, as instituições associadas à ABCRED destinaram:
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R$ 45 milhões para reformas de moradias
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R$ 15,3 milhões para investimentos em pequenas propriedades rurais
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R$ 5,6 milhões para saneamento básico domiciliar
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R$ 5,2 milhões para implantação de sistemas de energia solar
Esses dados indicam que o crédito acessível cumpre um papel social relevante, ao promover inclusão produtiva, apoiar melhorias habitacionais e estimular práticas sustentáveis em áreas urbanas e rurais.