A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) anunciou que pretende fabricar 30% de seus semicondutores mais avançados, de 2 nanômetros, nos Estados Unidos, como parte de um plano para fortalecer a produção local de chips e atender à demanda por um cluster de semicondutores “independente” no território norte-americano.
A iniciativa inclui a construção de uma segunda e terceira fábricas no Arizona, com previsão de acelerar o cronograma em relação ao planejamento original.
O presidente e CEO da TSMC, CC Wei, afirmou que a empresa não discute qualquer tipo de joint venture, licenciamento ou compartilhamento de tecnologia com outros fabricantes de chips, incluindo a Intel, diante de especulações sobre uma possível parceria.
“Não estamos envolvidos em nenhuma discussão com outras empresas sobre qualquer joint venture, licenciamento de tecnologia ou transferência e compartilhamento de tecnologia”, declarou Wei na quinta-feira.
A TSMC já havia informado a antecipação da produção na segunda fábrica, prevista inicialmente para 2028, que poderá começar a operar alguns trimestres antes do cronograma estipulado.
A construção da terceira planta no Arizona está programada para ter início ainda em 2025, embora o cronograma dependa de fatores como escassez de mão de obra e processos de licenciamento.
O plano de expansão inclui o envio de mais engenheiros para o local, com a meta de garantir a operação independente das unidades norte-americanas, atendendo a solicitações de clientes.
Entre eles estão a AMD, que confirmou que será uma das principais compradoras das instalações no Arizona, e a Nvidia, que iniciou a produção de seu chip Blackwell na planta da TSMC nos Estados Unidos.
A companhia manteve seu orçamento de investimentos de capital para 2025 na faixa entre US$ 38 bilhões e US$ 42 bilhões. A previsão de aumento de receita em dólares também foi mantida em cerca de 20% no ano, superando as projeções para o crescimento médio da indústria de semicondutores.
No primeiro trimestre deste ano, a TSMC registrou lucro líquido de NT$ 361,56 bilhões (US$ 10,9 bilhões), o que representa um crescimento de 60,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A receita no trimestre alcançou NT$ 839,25 bilhões, alta de 41,6% em relação a 2023. Para o segundo trimestre, a empresa projeta receita entre NT$ 28,4 bilhões e NT$ 29,2 bilhões, o que indica crescimento de 38% na comparação anual.
No período entre janeiro e março, a China respondeu por 7% da receita da TSMC, abaixo do pico de 20% registrado em 2019. Em 2024, a participação chinesa na receita da empresa foi de 11%.
As projeções da fabricante de semicondutores ocorrem em meio a um cenário de tensões comerciais entre Estados Unidos e China, intensificado por novas restrições impostas por Washington sobre o envio de chips de inteligência artificial e outras tecnologias sensíveis para o mercado chinês.
Nvidia e AMD, dois dos principais clientes da TSMC, registraram quedas de receita de aproximadamente US$ 5,5 bilhões e US$ 800 milhões, respectivamente, após o endurecimento das regras para exportação de chips desclassificados para a China.
O fornecedor de equipamentos para fabricação de semicondutores ASML também alertou que as tarifas impostas pelo governo norte-americano podem agravar a instabilidade no setor de chips.
A TSMC afirmou que continua cumprindo rigorosamente as regras de controle de exportação dos Estados Unidos, o que provocou interrupções no fornecimento para alguns clientes chineses. Segundo o CEO da empresa, “alguns desenvolvedores de chips chineses não são mais nossos clientes”.
Wei destacou que, apesar das incertezas em relação às tarifas recíprocas anunciadas pelo governo norte-americano, o comportamento dos consumidores ainda não apresentou mudanças significativas. O executivo, no entanto, reconheceu a possibilidade de riscos futuros e afirmou que a TSMC seguirá monitorando a situação para ajustar suas estratégias conforme necessário.
A demanda por chips de computação voltados para inteligência artificial permanece como o principal motor de crescimento da empresa.
“Há três meses, mal conseguíamos fornecer wafers suficientes para nossos clientes. Agora, a situação está um pouco mais equilibrada, mas a demanda continua muito forte”, afirmou Wei.
O presidente da TSMC também disse que, fora da China, especialmente nos Estados Unidos, a procura por semicondutores para aplicações de IA segue elevada, com expectativa de dobrar a receita nesse segmento em 2025.
Apesar do otimismo em relação à demanda por chips de inteligência artificial, analistas apontam possíveis desafios no cenário de médio prazo.
Segundo Gokul Hariharan, diretor-gerente do JPMorgan Chase, a desaceleração na demanda por eletrônicos de consumo e os controles de exportação mais rígidos podem impactar negativamente o mercado, especialmente em setores não relacionados à IA.
“O impacto da desaceleração da demanda de consumo nos EUA e na China provavelmente ainda representa um risco no segundo semestre de 2025 e 2026”, afirmou em relatório a investidores.
Entre os fatores de pressão competitiva, analistas citam também o avanço da chinesa DeepSeek no setor de computação de IA, que pode disputar espaço com as fabricantes ocidentais.
Mesmo diante dessas incertezas, a TSMC reafirmou o compromisso com o investimento de US$ 100 bilhões no Arizona, considerado seu maior aporte no exterior, em resposta à escalada de tarifas comerciais e à estratégia dos Estados Unidos de garantir produção doméstica de semicondutores.
A indústria global de chips continua a enfrentar os desdobramentos das políticas de dissociação tecnológica entre Estados Unidos e China, em um ambiente marcado por disputas comerciais, restrições regulatórias e mudanças na demanda global por tecnologia de ponta.
Com informações da Nikkei Asia