O Papa Francisco recebendo Stella, mulher de Assange, no Vaticano

O editor do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, publicou um texto no Facebook afirmando que o Papa Francisco enviou uma mensagem de conforto a Julian Assange em 2019 e que o Vaticano teria recebido Stella Assange, esposa de Julian, em 2023, após uma articulação diplomática conduzida por ele e sua equipe com “figuras influentes da América Latina”.

“Nós no WikiLeaks tínhamos nossos próprios canais com ele [Francisco] por meio de figuras influentes na América Latina. Dois anos atrás, os esforços para libertar Julian ganharam força. Aqueles de nós envolvidos nessa luta buscaram todos os meios possíveis de apoio, e, nesse contexto, um sinal do Vaticano era inestimável. Quando soube que o presidente Lula da Silva viajaria a Roma para encontrar o Papa, vi uma oportunidade”, escreveu.

“Foi acertado que Lula entregaria duas cartas ao Papa: uma minha e outra de Stella. O encontro ocorreu em 21 de junho de 2023. Acredito que Lula defendeu fortemente o pedido, pois apenas três ou quatro dias depois, o Vaticano entrou em contato com Stella. Em 30 de junho, ela viajou com o filho para Roma.”

É mentira. Tudo foi obra da jornalista Sara Vivacqua, do DCM, a verdadeira responsável por articular o encontro com Lula e seus desdobramentos. “Kristinn riu da minha cara quando propus isso”, diz Sara.

Ela rompeu o silêncio, após anos atuando nos bastidores:

Sou Sara Vivacqua, ex-parceira de Kristinn. Tomei conhecimento do post recente e, embora evite me pronunciar em redes sociais, trata-se de uma distorção da verdade grave demais para ser ignorada.

Eu fui a pessoa que organizou o encontro entre Stella e o Papa Francisco. Fui informada sobre a viagem de Lula a Roma e, por iniciativa própria, acionei contatos diretos que tinha dentro do gabinete do presidente para viabilizar a comunicação com o Vaticano. Também fui eu quem redigiu (como ghostwriter) a carta enviada em nome de Stella.

Inicialmente, Kristinn não deu qualquer crédito aos meus esforços. Mas, três dias depois, o Vaticano enviou o convite a Stella — resultado que os ‘canais do WikiLeaks na Argentina’ e ‘contatos em Roma’ prometeram por anos sem jamais entregar.

Quando revelei que Lula havia desempenhado um papel decisivo nesse avanço, fui afastada por Stella. Não recebi nenhum reconhecimento por esse trabalho, nem por outras ações diplomáticas de alto nível que conduzi em nome da campanha. Isso foi uma escolha minha, e permaneci em silêncio por anos.

Sara Vivacqua e Lula ladeados por Joseph Farrell (esq.) e Kristinn Hrafnsson, do Wikileaks (Fotos Cláudio Kbene)

No entanto, ver a verdade ser reescrita dessa forma é inaceitável. Permaneci calada até agora. Mas essa mentira foi longe demais.

O depoimento de Sara expõe a tentativa de Kristinn e do Wikileaks de apagar o papel central da jornalista brasileira na aproximação com o Vaticano. Enquanto o WikiLeaks falhava por anos em obter um gesto da Santa Sé, foi a articulação direta e confidencial de Sara Vivacqua com o governo brasileiro que abriu as portas para o encontro histórico entre a esposa de Julian Assange e o Papa Francisco.

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Last Update: 22/04/2025