Pequim/São Paulo/Tóquio – A China congelou os pedidos de compra de soja e milho americanos desde meados de janeiro, apurou o Nikkei, reduzindo a importação de produtos agrícolas dos EUA enquanto amplia as compras de países como o Brasil para garantir o abastecimento.

A medida de Pequim parece direcionada a prejudicar os agricultores americanos e outros grupos que apoiam o presidente dos EUA, Donald Trump, que iniciou uma guerra comercial com a China em seu primeiro mandato e, desde que voltou à Casa Branca, anunciou tarifas contra vários países.

Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram que empresas chinesas não realizaram novos pedidos de soja e milho desde 16 de janeiro, poucos dias antes da posse de Trump, segundo pesquisa do Nikkei. Embora alguns contratos não especifiquem o destino, múltiplos pedidos mensais vinham sendo feitos por empresas chinesas até dezembro.

Durante a campanha presidencial de 2024, Trump prometeu impor uma tarifa de 60% sobre todos os produtos chineses importados pelos EUA. Até abril, sua administração já havia aumentado as tarifas sobre produtos chineses em 145%.

Em resposta, a China, segunda maior economia do mundo, anunciou em março tarifas adicionais de até 15 pontos percentuais sobre soja, milho, frango e outros produtos americanos.

O Brasil surge como alternativa para Pequim. Mauricio Buffon, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja, disse ao Nikkei que a China assinou contratos para ao menos 2,4 milhões de toneladas de soja em uma semana no início de abril, o que representa um terço do volume processado mensalmente pelo país.

Desde a primeira guerra comercial de Trump com Pequim, a China reduziu sua dependência da soja americana. Em 2017, os EUA forneciam cerca de 40% da soja importada pela China; em 2024, essa participação caiu para 20%. A soja brasileira, por outro lado, saltou de 50% para 70%.

A forte demanda elevou os preços da soja brasileira. Entre o final de março e o início de abril, os preços chegaram a ficar 10% acima dos contratos futuros de Chicago, referência global. Normalmente, na primavera, a soja brasileira é mais barata devido à maior oferta, mas neste ano seus preços seguem elevados até o final de abril.

Hideki Hattori, analista-chefe de grãos da empresa japonesa Nippn, afirmou que cresce a preferência pela soja brasileira, que “carrega menos riscos de aumentos de preço e escassez do que o produto americano”.

A China também reduz as importações de outros produtos agrícolas americanos. Dados da Administração Geral de Alfândegas da China mostram que, em março, as importações de algodão bruto dos EUA caíram 90% em dólares. As compras de trigo americano no primeiro trimestre foram apenas 1% do volume registrado no ano anterior.

As reduções também atingiram recursos naturais: no primeiro trimestre, as importações chinesas de petróleo bruto dos EUA caíram 30% em relação ao ano anterior.

As ações de Pequim preocupam os agricultores americanos. Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja, escreveu à Casa Branca neste mês pedindo que a administração Trump negocie rapidamente com a China para chegar a um acordo.

Segundo a associação, a guerra comercial no primeiro mandato de Trump custou ao setor agrícola dos EUA cerca de US$ 26 bilhões, com perda de mais de 10% da fatia de mercado na China.

Fonte: Nikkei Asia
Data de publicação: 21 de abril de 2025
Autores: Kentaro Shiozaki, Niki Mizuguchi e Tomoya Takayama

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Last Update: 21/04/2025