Durante os 12 anos de pontificado, papa Francisco nunca escondeu sua paixão pelo futebol. Muito além de ser seu esporte preferido, ele acreditava que a modalidade poderia ser um vetor de paz e educação. Prova do carinho e respeito do mundo do futebol pelo líder religioso morto nesta segunda-feira 21, a Série A do campeonato italiano suspendeu as partidas que aconteceriam no dia.

Dos compatriotas Messi e Maradona, passando pelo sueco Zlatan Ibrahimović e o italiano Gianluigi Buffon, o papa recebeu pessoalmente grandes estrelas do futebol e foi presenteado com camisas e bolas vindas dos quatro cantos do mundo. Entre elas, uma assinada por Pelé, em 2014, durante uma visita da então presidenta Dilma Rousseff ao Vaticano.

Desde pequeno, Jorge Bergoglio tinha um time do coração: o argentino San Lorenzo. Com o pai e os irmãos, ele assistia a partidas no estádio do Viejo Gasometro, em Buenos Aires – tradição que abandonou apenas quando assumiu o cargo de arcebispo da capital, em 1998. Por outro lado, se manteve sócio do clube e chegou a rezar a missa do centenário do San Lorenzo, em 2008.

O San Lorenzo divulgou imagem da carteira de sócio de Jorge Bergoglio, que anos mais tarde se tornaria o papa Francisco – Foto: Prensa Club San Lorenzo / AFP

Como marca de seu destino, as várias viagens de Francisco pelo mundo o levaram frequentemente de volta aos estádios para a celebração de missas gigantes. Em diversas ocasiões, o papa recebeu homenagens das torcidas pelas cidades onde passava. Em 2023, durante sua visita a Marselha, no sul da França, os fãs do clube Olympique de Marselha estenderam uma imensa bandeira com o rosto de Jorge Bergoglio no estádio Orange Vélodrome.

O futebol como parte da vida das pessoas

No final de 2023, o responsável do Vaticano para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, Emmanuel Gobilliard, descreveu a paixão do papa pelo futebol. “Que sejamos amadores ou profissionais, que gostemos de olhar pela televisão ou presencialmente, não faz diferença: esse esporte faz parte da vida das pessoas. Essa é a sua visão”, afirmou, lembrando “o brilho no olhar” de Francisco quando falava sobre o assunto.

Segundo Gobilliard, o apreço que Francisco tinha por esse esporte se deve às similaridades com a religião, que “coloca o coletivo em primeiro plano para ultrapassar o interesse individual”. “Estamos a serviço de algo maior que nós, algo que nos transcende coletivamente e pessoalmente”, descreveu.

De fato, o jesuíta argentino via o futebol como uma prática muito além dos campos, como um caminho para a paz e a educação. Em 2013, diante das delegações da Itália e da Argentina, o sumo pontífice, convocou os jogadores às suas “responsabilidades sociais”, alertando sobre os desvios do futebol ‘business’.

Em 2014, o Estádio Olímpico de Roma acolheu uma partida inter-religiosa em prol da paz, graças a uma iniciativa liderada por Francisco. “Muitos dizem que o futebol é o esporte mais bonito do mundo. Eu também penso isso”, declarou em 2019.

Admiração por Pelé, críticas a Maradona

Entre Maradona, Messi e Pelé, o papa tinha um preferido. “O maior gentleman é Pelé. Um homem com um grande coração”, disse o sumo pontífice, em entrevista à emissora italiana Rai, em 2023. Na ocasião, o papa lembrou de ter conhecido e conversado com o craque brasileiro durante um voo a Buenos Aires.

Sobre Maradona, na mesma entrevista, Francisco elogiou suas qualidades de jogador, “mas, como homem, ele fracassou”, declarou. “Ele veio me encontrar aqui no primeiro ano do pontificado e, depois, coitado, teve aquele fim”, reiterou.

Em sua autobiografia publicada em 2024, Jorge Bergoglio dedicou um capítulo inteiro à “Mão de Deus” de Maradona, na Copa do Mundo de 1986. “Quando, há alguns anos, eu o recebi no Vaticano, fiz essa brincadeira com ele: ‘Então, qual é a mão culpada?’”, escreve na obra.

O conterrâneo de Messi também arrancou elogios do sumo pontífice: “Messi é corretíssimo, é um cavalheiro”.

A paixão pelo futebol de Francisco também foi levada às telonas, com o longa “Os Dois Papas”, de Fernando Meirelles, lançado em 2019. Em uma das cenas, Bento 16 e Francisco veem juntos a final da Copa do Mundo entre seus países de origem, Alemanha e Argentina. A cena, no entanto, é puramente fictícia porque o jesuíta argentino não assistia à televisão desde 1990 por escolha pessoal, e o religioso alemão sempre preferiu a música e a literatura.

Por outro lado, antes da final do Mundial entre a França e a Argentina, no Catar, em 2022, o sumo pontífice veio a público fazer um pedido. Sem conseguir esconder seu apreço pela “Albiceleste”, o chefe da Igreja Católica pediu para a equipe vitoriosa celebrar “com humildade”.

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Last Update: 21/04/2025