As ações da China continental apresentaram uma resistência notável em meio à volatilidade dos mercados globais, impulsionada pela guerra tarifária entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais, especialmente com a imposição de tarifas recíprocas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
O índice CSI 300 da China, que acompanha as maiores empresas com ações negociadas onshore, registrou uma queda de 2,6% desde que as tarifas foram anunciadas em 2 de abril.
Esse desempenho foi significativamente melhor que o de outros índices globais, como o S&P 500, que perdeu quase 6% no mesmo período, o Hang Seng de Hong Kong, que recuou 7,5%, e o Nikkei 225 do Japão, que teve uma queda de 3,8%.
De acordo com dados compilados pela Shanghai DZH, fornecedora de serviços financeiros, o CSI 300 tem se mostrado o índice menos volátil entre os principais mercados. O índice chinês oscilou 10% neste mês, enquanto outros índices, como o S&P 500 e o Nikkei 225, apresentaram oscilações de 15%, e o Hang Seng teve variações de 18%.
Analistas sugerem que as compras estatais desempenharam um papel crucial na estabilização do mercado chinês. He Kang, analista da Huatai Securities em Xangai, afirmou que o mercado chinês “está preso em negociações dentro de uma faixa de preços” devido à incerteza relacionada às tarifas, mas que as compras estatais ajudaram a sustentar o mercado.
A China possui vários veículos de investimento apoiados pelo Estado, incluindo um fundo soberano, que gerenciam coletivamente US$ 1,3 trilhão em ativos.
Esses fundos, juntamente com empresas listadas, adquiriram ações no mês de abril, trazendo uma sensação de estabilidade ao mercado onshore de US$ 10 trilhões, o segundo maior do mundo.
Dados Econômicos Positivos Impulsionam Sentimento no Mercado Chinês
A resiliência do mercado também foi impulsionada por dados econômicos mais otimistas que superaram as expectativas.
A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, superando a meta anual do governo de cerca de 5%. As vendas no varejo, o investimento em ativos fixos e a produção industrial também aceleraram em março, contribuindo para o fortalecimento do sentimento no mercado de ações.
Além disso, os compradores estatais da China, conhecidos como “seleção nacional”, investiram grandes somas em ações no início de abril.
Em 7 de abril, esses compradores injetaram 54 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 7,4 bilhões) em sete dos maiores fundos negociados em bolsa que acompanham o Índice CSI 300, seguido por outros 105,9 bilhões de yuans no dia seguinte.
Esse investimento foi o maior desde outubro de 2023, de acordo com a Tianfeng Securities. Em 2024, a seleção nacional já havia acumulado um portfólio de 3 trilhões de yuans em ações onshore e 1,04 trilhão de yuans em fundos mútuos.
Intervenção Estatal e Expectativas de Mais Suporte ao Mercado
As expectativas de intervenção estatal adicional aumentaram após o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, prometer, durante uma reunião do Conselho de Estado, estabilizar os mercados de ações e imobiliários. Essa promessa foi uma reafirmação do compromisso do governo com a estabilização dos mercados, conforme delineado no relatório de trabalho do governo em março.
A baixa volatilidade observada no mercado chinês também pode ser atribuída às restrições regulatórias que limitam os movimentos diários das ações.
A maioria das ações está sujeita a um limite de variação de 10% em ambos os lados, enquanto algumas ações de menor capitalização têm variação entre 20% e 30%, o que ajuda a restringir oscilações abruptas.
Comparação com os Mercados Globais
A resposta moderada das ações chinesas à guerra comercial contrasta com a queda de ativos considerados seguros em outras partes do mundo. Nos Estados Unidos, o dólar americano e os títulos do Tesouro, tradicionalmente vistos como ativos de refúgio, sofreram quedas significativas.
O índice Nasdaq, por exemplo, entrou em um mercado em baixa após anos de desempenho excepcional. Em comparação, as ações da China demonstraram uma resiliência notável, com intervenções estatais ajudando a suavizar os efeitos da volatilidade global.
Perspectivas Futuras e Expectativas para a Política Chinesa
Analistas da Huatai Securities preveem que a baixa volatilidade nas ações onshore da China deve continuar até pelo menos o final de abril.
A direção futura do mercado, no entanto, pode depender da reunião do Politburo do Partido Comunista Chinês, que deverá fornecer mais detalhes sobre as medidas políticas a serem adotadas para impulsionar a demanda interna e mitigar os impactos da guerra comercial.
Em resumo, as ações da China resistiram melhor do que a maioria dos mercados globais à volatilidade causada pela guerra tarifária dos EUA, devido a uma combinação de compras estatais, dados econômicos positivos e um ambiente regulatório restritivo.
A intervenção estatal foi fundamental para manter a estabilidade do mercado chinês, e as expectativas de mais apoio governamental, juntamente com possíveis mudanças nas políticas econômicas, continuam a moldar as perspectivas para os próximos meses.
Com informações da SCMP