Em 2024, a China conquistou quase cinco milhões de CGT em novos contratos de construção naval — dez vezes o volume reservado aos estaleiros sul‑coreanos.

CGT significa tonelagem bruta compensada: um índice que transforma cada navio em “toneladas‑equivalentes padrão” depois de ajustar a tonelagem bruta pela complexidade do projeto. Assim é possível somar, numa mesma conta, desde graneleiros simples até porta‑contêineres gigantes cheios de eletrônica.


A visita que mudou o rumo

Em novembro de 1995, o então presidente chinês Jiang Zemin — engenheiro, herdeiro das reformas de Deng Xiaoping e antecessor de Hu Jintao — percorreu o estaleiro da Hyundai, em Ulsan. Diante de um dique seco do tamanho de seis campos de futebol, observou dois porta‑contêineres de 1 500 TEUs, dois de 4 200, um graneleiro e um petroleiro em construção. Ao final, elogiou em mandarim: “Feichang bang!” (“muito bom!”).

Entre 13 e 17 de novembro, Jiang visitou também fábricas da Samsung e da Hyundai Motors. “Ele queria ver tudo”, lembra Han I‑heon, então secretário econômico da Casa Azul. Os anfitriões mostraram apenas o essencial, temendo cópias rápidas — mas a mensagem foi captada.


Estaleiros, armadores e a engrenagem financeira

Um estaleiro projeta e constrói o navio; o armador é o dono da embarcação e o responsável por pagar a obra. Para fechar negócio, o armador exige um seguro que devolva o adiantamento caso o estaleiro quebre antes da entrega. Esse seguro chama‑se refund guarantee (RG).

Nos EUA, na Europa e até na Coreia do Sul, bancos privados cobram caro ou evitam conceder esse aval. Na China, bancos estatais oferecem o RG a custo baixíssimo — e, quando necessário, contam com o respaldo direto do Tesouro. Com a garantia estatal, o estaleiro fica tão confiável quanto o governo, pode aceitar margens mínimas e conquistar pedidos em escala.


De aprendiz a líder mundial

Copiando o modelo industrial sul‑coreano e acoplando a ele um sistema de crédito público agressivo, Pequim transformou‑se no maior construtor de navios do planeta. O resultado está nos números: quase cinco milhões de CGT em 2024 e três porta‑aviões já em operação — prova de que a estratégia de Jiang Zemin deixou de ser plano para virar aço flutuante.

Kim Young‑ok · Repórter
10 de abril de 2025
Fonte: Joongang Ilbo

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Last Update: 21/04/2025