O governo da Federação Russa declarou nesta segunda-feira, 21, que recebeu de forma favorável as recentes declarações do governo dos Estados Unidos contrárias à entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A posição norte-americana foi interpretada pelo Kremlin como convergente aos interesses estratégicos russos, segundo informou o porta-voz Dmitry Peskov em entrevista coletiva a jornalistas.
A manifestação ocorre após reportagem da agência Reuters informar que autoridades norte-americanas, em diferentes níveis, descartaram a possibilidade de adesão ucraniana à aliança militar liderada pelos EUA.
A fala mais recente foi atribuída ao general Keith Kellogg, que atua como enviado de Washington e afirmou no domingo, 20, que a inclusão da Ucrânia na OTAN está “fora de cogitação”.
“Claro, isso é algo que nos deixa satisfeitos e coincide com a nossa posição”, disse Peskov, ao comentar as declarações. “Ouvimos de Washington, em vários níveis, que a adesão da Ucrânia à OTAN está excluída.”
O posicionamento atual da Casa Branca segue a linha de declarações anteriores do ex-presidente Donald Trump, que atribuiu a escalada do conflito à aproximação da Ucrânia com o bloco militar ocidental.
A visão de Trump tem sido citada por autoridades russas como um argumento para justificar ações militares iniciadas em fevereiro de 2022.
Declarações reiteram posição russa sobre OTAN
Durante a coletiva, Peskov voltou a afirmar que a expansão da OTAN em direção às fronteiras russas é considerada uma ameaça direta pela liderança do país.
“A adesão da Ucrânia à aliança liderada pelos EUA representaria uma ameaça aos interesses nacionais da Federação Russa. E, de fato, esta é uma das causas profundas deste conflito”, afirmou o porta-voz.
A Rússia tem reiterado que a manutenção da candidatura ucraniana à OTAN constitui um obstáculo à resolução do conflito e que a neutralidade formal da Ucrânia seria um elemento necessário para qualquer cessar-fogo duradouro.
Segundo a Reuters, o presidente russo, Vladimir Putin, tem condicionado o fim das hostilidades a dois fatores principais: o abandono definitivo da candidatura ucraniana à aliança militar e a retirada das tropas de Kiev das quatro regiões ucranianas reivindicadas por Moscou — Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia — áreas atualmente sob controle majoritário de forças russas.
Essas exigências têm sido repetidas por Moscou desde o início da guerra e têm impedido o avanço de negociações diplomáticas com Kiev, que por sua vez reafirma a soberania sobre todo o território internacionalmente reconhecido da Ucrânia.
Declarações de Trump e cautela do Kremlin
No domingo, 20, Donald Trump voltou a se manifestar sobre o conflito, afirmando que espera um acordo entre Rússia e Ucrânia ainda nesta semana. A declaração foi feita durante evento político nos Estados Unidos, mas não foi detalhada em termos de conteúdo ou cronograma específico.
Ao ser questionado sobre a declaração de Trump, Dmitry Peskov adotou uma postura cautelosa. “Não quero fazer nenhum comentário agora, especialmente sobre o prazo”, respondeu o porta-voz russo.
Até o momento, não houve manifestação oficial por parte do governo da Ucrânia em resposta às declarações de Trump ou de Kellogg.
A presidência ucraniana tampouco comentou as informações divulgadas pelas agências de notícias internacionais sobre a postura dos Estados Unidos com relação à candidatura de Kiev à OTAN.
Histórico do impasse
A candidatura da Ucrânia à OTAN foi intensificada após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, e ganhou novo impulso após o início da guerra em 2022.
O governo ucraniano considera a adesão à aliança um fator de garantia de segurança diante da ameaça militar russa. Já Moscou considera a aproximação entre Kiev e a OTAN uma linha vermelha.
Desde o início do conflito, a questão da entrada da Ucrânia na aliança militar tem sido um dos principais pontos de tensão nas negociações diplomáticas. A Rússia exige garantias formais de neutralidade por parte da Ucrânia, enquanto os aliados ocidentais evitam confirmar publicamente qualquer veto à candidatura.
A proposta russa de que a Ucrânia renuncie à adesão à OTAN é tratada com reservas pelos governos ocidentais, que defendem o princípio da autodeterminação dos Estados em relação a alianças internacionais. Ainda assim, vozes dentro da diplomacia norte-americana têm sinalizado a possibilidade de buscar uma solução negociada que inclua compromissos de neutralidade.
Situação atual
Enquanto as discussões diplomáticas se mantêm em curso, os combates prosseguem nas frentes de batalha no leste e sul da Ucrânia. As forças russas mantêm posições em regiões estratégicas, enquanto as forças ucranianas seguem tentando retomar áreas ocupadas.
A comunidade internacional acompanha os desdobramentos à espera de uma possível reabertura de canais formais de negociação. As declarações recentes de autoridades norte-americanas e a reação russa poderão influenciar os próximos passos na condução do conflito.
A expectativa agora se concentra nas movimentações diplomáticas que poderão ocorrer após a consulta norte-americana ser oficializada e na eventual resposta das autoridades ucranianas.