Em 27 de outubro de 1948, o imperialismo “democrático” executou um golpe de Estado contra o então presidente nacionalista do Peru, o advogado e escritor José Luis Bustamante y Rivero eleito pelo voto popular em 1945. Liderado pelo general Manuel A. Odría ao poder, o golpe ficou conhecido como “Revolução Restauradora e deu início a uma ditadura militar que perduraria até 1956.
José Luis Bustamante y Rivero assumiu a presidência em 1945, após vencer as eleições com o apoio do Frente Democrático Nacional (FDN), uma coalizão que incluía o Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA), o Partido Comunista Peruano e outros grupos de esquerda. Também incluía políticos independentes e intelectuais destacados. Na prática, tratou-se de uma aliança muito frágil, uma vez que, para muitos de seus integrantes, ela significava mais um pacto eleitoral que uma aliança política de longo prazo.
Um fato notável de seu governo foi a proteção das riquezas do mar peruano, assim como da plataforma continental submarina, ao estender a soberania do Peru por 200 milhas marítimas, por meio de um decreto supremo de 1º de agosto de 1947. Seu governo implementou reformas importantes e por uma abertura democrática inédita até então.
No campo econômico, após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), as exportações peruanas diminuíram, gerando protestos, especialmente por parte dos trabalhadores das fazendas da serra. Isso incentivou a organização de movimentos camponeses, como a Federação Agrária Camponesa de Açúcar do Norte e a Confederação de Camponeses, além de estimular a migração interna para as áreas costeiras.
Em resposta, o governo adotou medidas de caráter social, como o aumento da burocracia estatal, elevação dos salários e jornas dos trabalhadores sindicalizados, controle de preços e fixação da taxa de câmbio.
Entre os principais feitos do governo de José Luis Bustamante y Rivero, destaca-se a criação da Empresa Petrolífera Estatal (Empresa Petrolera Fiscal), com a qual o Estado passou a controlar todo o petróleo do país, que antes estava em mãos de empresas estrangeiras.
Além disso, foi aprovada a Lei do Yanaconaje, em 1947, regulamentando a exploração da terra por meio do trabalho dos yanaconas (camponeses arrendatários). A nova legislação estabeleceu remuneração salarial obrigatória nas fazendas, fixou um valor específico para o arrendamento das terras cedidas aos yanaconas e proibiu os fazendeiros de expulsar os yanaconas das terras que ocupavam.
Durante o governo de Bustamante, houve um confronto entre o Poder Executivo e o Legislativo, pois o primeiro se recusava a ser dominado pela maioria parlamentar aprista. Bustamante teve que enfrentar a ruptura com o APRA, e alguns de seus membros mais importantes passaram a fazer forte oposição ao seu governo a partir do Congresso.
Além disso, o governo também sofreu resistência da oligarquia tradicional, que via com desconfiança as tendências reformistas promovidas por Bustamante. Isso levou a uma série de crises ministeriais, já que os ministros eram frequentemente censurados pelo Parlamento de maioria aprista.
A crise política atingiu seu ápice com o assassinato de Francisco Graña Garland, diretor do jornal La Prensa, em 7 de janeiro de 1947. Os apristas foram apontados como os autores do crime. Em resposta, Bustamante retirou os três ministros apristas de seu gabinete para garantir uma investigação imparcial e formou um novo ministério, no qual metade dos ministros eram militares.
A tensão política aumentou quando, em 3 de outubro de 1948, ocorreu uma revolta de marinheiros em El Callao, apoiada por membros do APRA. O governo de Bustamante reagiu com repressão, resultando na morte de vários envolvidos. Em resposta, Bustamante colocou o APRA na ilegalidade, mas se recusou a aplicar punições severas aos seus membros. Essa postura conciliatória gerou descontentamento entre os militares e a oligarquia, que viam a necessidade de uma ação mais enérgica contra o partido.
O general Manuel A. Odría, então ministro de Governo e Polícia, liderou a sublevação militar em Arequipa, proclamando a “Revolução Restauradora”. Inicialmente, outras guarnições hesitaram em se unir ao movimento, mas a adesão da guarnição de Lima, comandada pelo general Zenón Noriega, foi decisiva para o sucesso do golpe. Bustamante foi preso e forçado ao exílio na Argentina, enquanto Odría assumia a presidência.
O governo de Odría instaurou uma ditadura militar que suspendeu as garantias constitucionais, dissolveu o Congresso Nacional e perseguiu membros do APRA e outras forças opositoras.