Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, talvez seja o exemplo mais emblemático de como a história gosta de virar o jogo. Líder da Inconfidência Mineira, ele acabou condenado à morte como traidor pela Coroa portuguesa em 21 de abril de 1792, e teve seu corpo esquartejado e exposto em praça pública, no Rio de Janeiro, como um aviso claro: “Quem se levantar contra o rei, terá o mesmo destino.”
Mas, quase um século depois, esse mesmo homem virou símbolo máximo da liberdade e da resistência nacional. O que mudou? O poder e quem o exerce.
Nascido na Fazenda do Pombal, no atual município de Ritápolis, em Minas Gerais, em 12 de novembro de 1746, Tiradentes foi o rosto mais visível da Inconfidência Mineira, um movimento separatista inspirado pelas ideias iluministas que pipocavam na Europa e pelas recentes independências dos EUA e da França.

O grupo sonhava com uma Minas Gerais livre dos pesados impostos da Coroa — especialmente o temido “quinto”, aquele famoso 20% de tudo o que se extraía de ouro. Para os portugueses, era mais que rebeldia: era uma afronta direta ao império. E como em toda boa história de traição, alguém tinha que pagar o preço. A corda, como sempre, arrebentou do lado mais fraco — ou, no caso, mais obstinado. Tiradentes assumiu toda a culpa e foi enforcado sozinho.
Mas o tempo é um roteirista caprichoso. Quando a República foi proclamada em 1889, os novos governantes precisavam de heróis. Figuras que inspirassem um país recém-nascido, livre da monarquia, e que carregassem os valores de liberdade, igualdade e fraternidade. Como pano de fundo, claro, existia o receio de que o povo se revoltasse contra a mudança de regime.
Foi aí que Tiradentes, filho de um fazendeiro com escravos e aprendiz de dentista com o tio, deixou de ser “traidor” da Coroa e virou mártir. Seu visual — que mal foi registrado na época — ganhou contornos quase messiânicos: barba longa, olhar sereno, uma espécie de Jesus brasileiro da revolução. A memória dele foi cuidadosamente reconstruída, agora como símbolo de bravura, patriotismo e sacrifício. O rosto do início da República.
A trajetória simbólica de Tiradentes é uma lição sobre como a história é escrita — e reescrita — por quem está no poder. O mesmo homem que foi esquartejado por querer seu estado livre da monarquia virou o nome de ruas e praças. A data de sua morte, 21 de abril, se tornou feriado nacional. De bandido a herói em algumas décadas — bastou mudar o regime. Seu nome, inclusive, foi o primeiro a ser inserido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, já no século XX.
Este texto foi escrito a partir de pesquisas e com auxílio de ferramentas de I.A., e editado pelo Jornal GGN.
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