Francisco e o vice-presidente dos EUA JD Vance: último encontro

O Papa Francisco morreu na segunda-feira de Páscoa, 21 de abril, aos 88 anos, apenas um dia após se reunir com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, em uma tentativa de amenizar as tensões em seu conturbado relacionamento com o líder da Igreja Católica.

O encontro entre o pontífice e Vance ocorreu no Domingo de Páscoa, no Vaticano, em clima visivelmente desconfortável. Ocorreu após críticas públicas feitas por Francisco ao governo Trump, especialmente em relação ao tratamento dado a imigrantes irregulares — tema central no embate entre os dois.

Vance, um convertido ao catolicismo, havia sido recebido no dia anterior apenas pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, e pelo ministro das Relações Exteriores da Santa Sé, arcebispo Paul Gallagher.

Segundo o Vaticano, a reunião entre Francisco e Vance foi breve e durou apenas alguns minutos, realizada na Casa Santa Marta, com o propósito de trocar saudações de Páscoa. Durante o encontro, o Papa presenteou o vice-presidente com três ovos de Páscoa de chocolate para seus filhos, que não estavam presentes, além de um terço e uma gravata do Vaticano.

“Sei que o senhor não tem se sentido bem, mas é bom vê-lo com saúde melhor”, disse Vance. “Obrigado por me receber.”

A comitiva de Vance entrou no Vaticano por um portão lateral enquanto a missa de Páscoa era celebrada na Praça de São Pedro — cerimônia que, naquele dia, foi conduzida por outro cardeal, a pedido do Papa. Mais tarde, o vice-presidente se juntou à família para assistir à missa na basílica de São Paulo e visitou o túmulo do apóstolo Paulo.

Dias antes de ser hospitalizado, em fevereiro, Francisco havia criticado duramente os planos de deportação em massa do governo Trump, afirmando que tais medidas retiravam a dignidade intrínseca dos migrantes.

Em uma carta aos bispos dos Estados Unidos, o Papa chegou a rebater diretamente argumentos de Vance, que alegava que a doutrina católica apoiava tais políticas. O vice-presidente respondeu reconhecendo a crítica, mas reafirmando que manteria sua posição.

Durante visita ao Vaticano, Vance também participou de reuniões com altos membros da Cúria Romana. Em nota, seu gabinete afirmou que ele e o cardeal Parolin discutiram temas como o catolicismo nos EUA, a situação de comunidades cristãs perseguidas e o compromisso de Trump com a paz global. O Vaticano, por sua vez, relatou uma troca de opiniões sobre migração, refugiados e conflitos internacionais.

A Santa Sé manteve uma postura cautelosa em relação ao governo Trump, defendendo a neutralidade diplomática, mas expressou preocupação com a repressão a migrantes e os cortes em ajuda internacional promovidos pela administração.

Católico desde 2019, Vance se identifica com um movimento intelectual conhecido como “pós-liberalismo”, que defende a substituição das elites tradicionais por lideranças conservadoras em instituições públicas e universidades, com base em valores como o “bem comum”. O grupo é crítico dos direitos reprodutivos e da pauta LGBTQ+.

Vance fundamenta parte de suas ideias em conceitos da teologia medieval, como o “ordo amoris” — uma hierarquia de cuidados que, segundo ele, começa pela família, passa pela comunidade e só depois se estende aos estrangeiros.

Em sua carta de 10 de fevereiro, o Papa Francisco contestou essa interpretação: “O amor cristão não é uma expansão concêntrica de interesses que se amplia pouco a pouco. O verdadeiro ordo amoris é aquele descoberto na meditação da parábola do Bom Samaritano: um amor que constrói fraternidade aberta a todos, sem exceção.”

A nota final do Vaticano sobre o encontro mencionou que as conversas foram cordiais e demonstraram preocupação com guerras, tensões políticas e situações humanitárias graves.

O comunicado expressou também o desejo de uma “colaboração serena” com a Igreja nos Estados Unidos — menção interpretada como resposta à acusação de Vance de que a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA estaria reassentando imigrantes para obter financiamento federal, algo veementemente rejeitado por cardeais norte-americanos.

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Last Update: 21/04/2025