Quem já frequentou as boas rodas de samba do Rio de Janeiro deve ter se deparado com Cristina Buarque, que não dispensava uma batucada ao som dos grandes mestres do gênero. Ela morreu neste domingo 20, aos 74 anos.

Cristina gravou discos com composições de sambistas essenciais, em uma rara dedicação de resgate de artistas muitas vezes “esquecidos”.

A cantora nasceu em São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que se estabeleceu. Maria Cristina Buarque de Holanda gravou seu primeiro disco em 1974, intitulado apenas Cristina. Antes, já havia participado da gravação de um disco do irmão já quase famoso, Chico Buarque, em 1968.

No trabalho de 1974, gravou sambistas como Dona Ivone Lara, quando ela nem havia lançado seu primeiro álbum, e Cartola, que registrou naquele mesmo ano o seu disco de estreia. Mas a música de maior sucesso foi Quantas Lágrimas, de Manacéia, samba que havia sido gravado pela Velha Guarda da Portela sem grande repercussão.

Com a Velha Guarda da escola, aliás, construiria uma rica história, com a gravação de vários de seus compositores de forma incansável.

Se no primeiro disco ela intercalou músicas de sambistas históricos com compositores da MPB afamados à época — como o irmão, Tom Jobim e Vinicius de Moraes —, em Prato e Faca (1976) ela foi mais a fundo e gravou os mestres do gênero no álbum inteiro, incluindo Mijinha, Zé da Zilda, a dupla Bide e Marçal e Heitor dos Prazeres.

Nos discos Arrebém (1978), Vejo Amanhecer (1980) e Cristina (1981), manteve o trabalho de gravar (e resgatar) sambistas históricos, como Noel Rosa, Geraldo Pereira e João da Baiana, ao lado de compositores da MPB em alta na época.

Com o cantor e compositor Mauro Duarte (falecido em 1989), fez o disco Cristina e Mauro Duarte (1985), ressaltando a profícua produção do sambista com Paulo César Pinheiro.

Outra importante parceria fonográfica foi com o músico e pesquisador Henrique Cazes, com o lançamento dos álbuns Sem Tostão… A Crise Não é Boato (1995) e Sem Tostão 2… A Crise Continua… (2001) – o primeiro só com composições de Noel Rosa e o segundo com músicas de Noel e outras de Wilson Batista. A este, aliás, ela dedicaria um disco inteiro, chamado Ganha-se Pouco, mas é Divertido (2000).

No álbum Cristina Buarque e Terreiro Grande ao Vivo (2007), a cantora dobra a aposta no resgate do samba tradicional. Para encerrar essa discografia marcada por respeito e dedicação aos mestres do gênero, ela gravou, ao lado do Terreiro Grande, um disco dedicado a um dos maiores sambistas de todos os tempos e que ela admirava: Candeia. O lançamento ocorreu em 2010.

Cristina Buarque foi essa entrega à nossa gênese musical. Nos outros trabalhos em que se envolveu, o samba era sempre o carro-chefe. Dos Buarque de Holanda, foi a sambista de fato.

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Last Update: 20/04/2025