De Tânia Malheiros

Cerca de 14 toneladas de urânio enriquecido importados da Rússia chegaram nesta quarta-feira (16/4) ao Porto do Rio de Janeiro acondicionados em nove cilindros distribuídos em três contêineres e seguiram para a Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ). Também integrava a carga um contêiner com três tambores metálicos contendo nove tubos de amostras do material, utilizados para controle de qualidade e rastreabilidade do urânio. 

Gestora das usinas nucleares, cabe à Eletronuclear, que está com sérios problemas financeiros – anunciando demissões de empregados -, pagar à INB pelas recargas. Há cerca de cinco anos, cada recarga custava cerca de R$ 280 milhões. Quando opera com 100% de sua potência sincronizada ao Sistema Integrado Nacional (SIN), Angra 2 pode produzir 1.350 Megawatts, o equivalente a 20% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro. 

Inaugurada em 2001, Angra 2 faz parte do pacote do acordo nuclear Brasil Alemanha, firmado em 1975. Em Resende, o urânio enriquecido que acaba de chegar da Rússia passa por outro processo, transformando-se em forma de pastilhas inseridas em varetas de zircaloy. São os chamados elementos combustíveis transportados normalmente em caminhões para a central nuclear em Angra dos Reis, para alimentar os reatores das usinas nucleares, desta vez, Angra 2. Em Angra 2, esse reabastecimento ocorre a cada 14 meses, quando um terço dos elementos combustíveis do reator é substituído, previsto acontecer em setembro. 

Qual a origem do urânio que a Rússia acaba de devolver enriquecido a INB? Até onde se tem notícias pode ter sido extraído na mina de Caetité, na Bahia, parte da Unidade de Concentração de Urânio (URA), da INB, onde é transformado em yellowcake (pasta amarela). 

Em seguida, o segundo passo do ciclo do combustível. O processo consiste na transformação do yellowcake em hexafluoreto de urânio (UF6), um composto que tem como propriedade passar para o estado gasoso em baixas temperaturas. Na forma de gás é realizada a etapa de enriquecimento, o que o Brasil ainda não faz em escala industrial. 

Ou todo o processo foi feito na Rússia? Embora domine todo o ciclo do combustível, o País ainda tão possui condições para a realização de todo o processo, como a transformação do urânio em forma de gás e o mais complexo: o enriquecimento na quantidade e teor (cerca de 4%) necessários para alimentar os reatores de Angra 1 e Angra 2. Nesta quarta-feira, a operação altamente complexa, do Porto do Rio até Resende, contou a participação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSIPR), por meio do Departamento de Coordenação de Assuntos Nucleares (DCANuc), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Cesportos-RJ e Guarda Portuária do RJ. 

CONTRATO RENOVADO?  URÂNIO, DO PORTO DE SALVADOR À RÚSSIA

Há cerca de um mês, a INB firmou contrato com a Internexco GmbH, do grupo Rosatom, da Rússia, para a exportação temporária para processamento no exterior de até 275 mil kg de concentrado de urânio (U3O8) produzidos na URA. Pelo contrato, serão realizadas as duas etapas de beneficiamento: conversão e enriquecimento. Os valores nunca são revelados. Se a Rússia acaba de devolver esta semana o urânio já enriquecido, conclui-se que este é um outro contrato. 

“O produto final beneficiado será devolvido, até dezembro de 2027, na forma de UF6 enriquecido a 4,25% e será utilizado na fabricação do combustível nuclear, que abastece a central nuclear de Angra dos Reis”. A empresa está planejando a logística para operações terrestres no Brasil, a contratação do transporte marítimo internacional do porto de Salvador até a Rússia, e o licenciamento da exportação. Desde o início das entradas em operação das usinas, o Brasil depende da importação das duas etapas do combustível para os reatores. Todo o processo envolve investimentos grandiosos, para a manutenção dos reatores nucleares das usinas. 

LEIA MAIS:

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 20/04/2025