O Escritório de Pesquisa Macroeconômica da ASEAN+3 (AMRO) divulgou nesta sexta-feira (19) uma avaliação sobre os efeitos das tarifas impostas recentemente pelo governo dos Estados Unidos sobre as economias da região, alertando para riscos ao crescimento, mas destacando a capacidade dos países do bloco para responder a choques externos de curto prazo.
A região ASEAN+3 é composta pelos dez países membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) — Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã — além da China, Japão e Coreia do Sul.
Segundo o relatório do AMRO, com sede em Cingapura, as tarifas americanas afetam diretamente 13 das 14 economias do bloco, com uma média ponderada pelo comércio estimada em 26%, excluindo a China.
A elevação de tarifas foi resultado de uma ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2 de abril.
A medida estabeleceu uma tarifa básica de 10% sobre produtos importados de parceiros comerciais, acompanhada de sobretaxas adicionais em alguns casos. As importações da China foram especialmente afetadas, com tarifas que começaram em 34% e chegaram a 145% a partir de 11 de abril.
De acordo com o AMRO, as medidas adotadas por Washington devem aumentar a incerteza política e comercial, afetar as cadeias de suprimentos globais e gerar maior volatilidade nos mercados financeiros.
Tais efeitos, segundo o órgão, podem reduzir o ritmo de crescimento da região para menos de 4% ainda em 2025, com uma previsão de desaceleração para 3,4% em 2026.
Antes da implementação das tarifas, o AMRO havia estimado um crescimento superior a 4% para a região neste ano e no próximo, sustentado por demanda doméstica firme, recuperação dos investimentos e inflação controlada.
Apesar da revisão para baixo nas projeções, a organização afirma que os fundamentos econômicos do grupo permanecem sólidos.
No relatório, o AMRO observou que as economias da ASEAN+3 contam com espaço fiscal para implementar medidas de estímulo voltadas a setores mais vulneráveis e manter o consumo interno. “Os governos têm capacidade para direcionar apoio fiscal e sustentar a demanda doméstica”, afirmou o órgão.
Além disso, os bancos centrais dos países da região, segundo o AMRO, podem recorrer à flexibilização da política monetária, uma vez que os índices de inflação permanecem baixos. O relatório também mencionou o uso de ferramentas macroprudenciais e instrumentos de liquidez como alternativas para preservar a estabilidade financeira.
Outro fator considerado importante é a mudança no perfil das exportações da região. As vendas para os Estados Unidos atualmente representam 15% do total exportado pelos países da ASEAN+3, em comparação com aproximadamente 24% em 2000.
O AMRO avalia que o aumento da integração regional e a diversificação dos mercados têm fortalecido a capacidade do bloco de resistir a choques externos.
Sobre a China, a maior economia do grupo, o relatório apontou que as perspectivas de crescimento de curto prazo continuam relativamente positivas, apesar do ambiente externo mais instável. Antes da imposição das tarifas, o AMRO projetava que a economia chinesa cresceria 4,8% em 2025 e 4,7% em 2026, atingindo um potencial estimado de 4% até 2030.
A organização destacou o papel do consumo interno como principal motor da recuperação econômica na China, impulsionado por taxas de juros mais baixas e melhorias nas finanças dos governos locais.
Segundo o AMRO, investimentos em infraestrutura, manufatura de alta tecnologia e setores de serviços devem ganhar força ao longo do ano, enquanto o investimento no setor imobiliário poderá estabilizar-se até o fim do primeiro semestre.
A análise do AMRO ocorre em um momento de crescente preocupação com o impacto de políticas comerciais unilaterais sobre a economia global.
A região ASEAN+3, segundo a entidade, segue exposta aos efeitos de medidas externas, mas apresenta instrumentos institucionais e econômicos que possibilitam respostas coordenadas a choques adversos.
O relatório ressalta que o fortalecimento de mecanismos regionais de cooperação econômica, a diversificação das exportações e a manutenção de políticas macroeconômicas prudentes serão essenciais para mitigar os impactos das tarifas norte-americanas e preservar a estabilidade econômica do bloco nos próximos anos.