O economista Jeffrey Sachs criticou a condução da política externa e interna dos Estados Unidos em entrevista ao Times of India, destacando instabilidade diplomática, impacto das tarifas comerciais e crescente influência de grandes corporações na formulação de políticas públicas.

O conteúdo da entrevista, que circula globalmente, levanta questionamentos sobre a governança e os rumos econômicos do país.

Ao abordar as relações entre Washington e Pequim, Sachs avaliou que não há perspectiva de entendimento entre as duas potências no curto ou médio prazo. “Não acredito que haverá qualquer grande acordo entre Estados Unidos e China por muitos anos”, afirmou.

Para o economista, o governo norte-americano carece de estabilidade para sustentar negociações diplomáticas relevantes.

“A administração dos EUA é instável demais para algo desse tipo. Qualquer acordo sério requer consideração e estratégia. Não acredito que haja qualquer uma dessas coisas em Washington hoje”, declarou.

As recentes tarifas comerciais impostas pelo governo Trump foram classificadas por Sachs como fatores de desestabilização econômica. Ele avaliou que as medidas geraram reações adversas em diversos mercados e não contam com apoio doméstico.

“Trump está unindo o mundo – contra os Estados Unidos. Não há um único lugar no mundo satisfeito com esse novo regime tarifário, nem mesmo dentro dos EUA”, afirmou.

Sachs também relacionou os efeitos diretos sobre o mercado de ações, especialmente no setor automobilístico, que apresentou queda de aproximadamente 5% após os anúncios de novas tarifas.

Durante a entrevista, Sachs também abordou a atuação de grandes empresários na política norte-americana. Mencionando Elon Musk, o economista argumentou que o executivo representa um modelo de influência privada sobre o sistema de governo.

“Musk é uma caricatura do sistema político americano degenerado. É o homem mais rico do mundo, financia campanhas e ameaça parlamentares dizendo que financiará adversários contra eles se saírem da linha”, afirmou. Ele caracterizou esse modelo como um sistema de “pay-for-play”, no qual doações eleitorais condicionam decisões políticas.

O economista apontou a existência de um processo de deterioração institucional nos Estados Unidos, que, segundo ele, remonta à década de 1940.

“Nos tornamos um Estado de segurança nacional desde 1947, com a criação da CIA e do aparato de defesa. A CIA participou de cerca de cem operações de mudança de regime desde então”, disse Sachs.

Um dos episódios mencionados foi o da deposição do ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, retirado do país em ação coordenada pela agência de inteligência, segundo o economista. Ele criticou a ausência de cobertura adequada do caso por veículos da grande imprensa.

Sachs associou o avanço do que chamou de “complexo industrial-militar” à fragilidade das instituições democráticas. De acordo com ele, operações militares recentes foram conduzidas sem autorização do Congresso, em desacordo com os preceitos constitucionais.

Como exemplo, citou ataques contra o grupo Houthi, nos quais civis foram mortos. “Não se pode conduzir uma democracia e um Estado de segurança da mesma forma”, afirmou.

Outro ponto destacado na entrevista foi a situação fiscal dos Estados Unidos. Sachs alertou para o aumento contínuo do déficit orçamentário e o crescimento da dívida pública. “Nosso déficit gira em torno de 6% a 7% do PIB. A dívida está em 100% do PIB e deve chegar a 155% até 2055”, disse, referindo-se a estimativas do Congressional Budget Office.

Ele criticou a intenção do governo Trump de manter cortes de impostos para os mais ricos ao mesmo tempo em que reduz investimentos em áreas como saúde e infraestrutura. Para Sachs, essa política compromete a sustentação do Estado civil.

O economista também comentou sobre o ambiente político interno e o que descreveu como substituição de políticas públicas por disputas ideológicas. Para ele, os Estados Unidos enfrentam uma transformação institucional que enfraquece o aparato governamental. “Nada do que está sendo feito vai melhorar a vida das pessoas. Estamos caminhando para um país muito infeliz, um governo muito impopular e uma população em sofrimento”, disse.

A entrevista reuniu críticas a decisões recentes do governo Trump e alertas mais amplos sobre a estrutura política e econômica dos Estados Unidos. Para Sachs, sem mudanças profundas, o país continuará enfrentando dificuldades internas, mantendo-se isolado no cenário internacional e sem capacidade de enfrentar desafios como desigualdade social, mudanças climáticas e a concorrência com economias emergentes.

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Last Update: 19/04/2025