No artigo Fortalecer o movimento indígena, retomar o nosso futuro: alguns apontamentos sobre o 21° Acampamento Terra Livre, publicado pelo portal Esquerda Online, pertencente à corrente Resistência, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), os autores Lu Pataxó, Cesar Fernandes, Davidson Brito e Well Leal aproveitam a realização do mais famoso evento de índios do País, o Acampamento Terra Livre (ATL), para se esbaldar na demagogia com um dos setores mais esmagados da sociedade brasileira.

O texto procura apresentar os índios como animais de estimação, como seres retardados incapazes de levar adiante uma luta séria. Em vez de apresentar um conjunto de reivindicações para o setor que está na mira da extrema direita no campo, os autores falam coisas como “mais de 8 mil participantes que pintaram a capital federal de jenipapo e urucum”, “fazer do PSOL terra indígena”, “denúncia do racismo ambiental” etc. O artigo também apresenta como algo de grande importância a presença de figuras como Sônia Guajajara, a ministra dos “Povos Indígenas” que fecha os olhos para a matança dos índios na Bahia e no Mato Grosso do Sul, e o Cacique Raoni Metuktire, o índio que luta contra o homem branco ao lado do presidente francês Emmanuel Macron.

Deixando o circo de lado, vejamos o que, de concreto, o Esquerda Online apresenta de preocupação com os índios.

“Quatro anos depois, as vitórias eleitorais de Sônia Guajajara, por São Paulo, e Célia Xakriabá, por Minas Gerais, como deputadas federais pelo PSOL, significaram um passo importante. (…) Nesse mesmo sentido, as eleições de Lu Pataxó (Pau Brasil-BA) e Ingrid Sateré Mawé (Florianópolis-SC), em 2024, apontam que seguimos no caminho certo, ainda que longe de ser suficiente para garantir as transformações estruturais necessárias [grifo nosso].”

Antes de tudo, chamamos a atenção de que uma das vereadoras citadas é autora do artigo. Não bastasse a autobajulação, o que fica claro é que, para o PSOL, uma grande “vitória” é eleger meia dúzia de parlamentares. Para que, exatamente? Em que momento uma única dessas parlamentares teria feito algo de efetivo no que diz respeito aos interesses dos índios? Para além das próprias parlamentares, que ganharam um cargo, e do PSOL, não há ganho algum.

“Ainda em 2022, com a eleição do presidente Lula, Sônia Guajajara passa a compor o recém-criado Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e tem tido uma gestão marcada por sucessivas iniciativas de fortalecimento dos povos indígenas. Muitas delas encontram barreiras na conjuntura regressiva e polarizada que vive o Brasil: o avanço do latifúndio e do agronegócio, da extrema-direita e do golpismo. Mas também há barreiras internas ao Governo Lula, exemplificadas pela atuação anti-indígena do Ministério da Casa Civil, de Rui Costa, e do Palácio da Justiça, ocupado pelo Ministro Lewandowski.”

Comprovando o que dissemos acima, os autores, por serem filiados ao PSOL, se colocam na obrigação de defender o governo no que diz respeito à sua política para os índios, uma vez que Guajajara é do PSOL. No entanto, os autores não conseguem citar uma única coisa de positiva que tenha sido feita pelo Ministério. Em vez disso, se atêm a generalidades: “sucessivas iniciativas de fortalecimento dos povos indígenas”.

Não é fato. A situação econômica dos índios não melhorou em nada. O índio brasileiro vive em uma situação de miserabilidade total. Seja em regiões próximas das cidades, como no Mato Grosso, onde é alvo da ação de pistoleiros, seja na Amazônia, onde é proibido de ter acesso às conquistas da civilização. O índio estava abandonado antes de Guajajara chegar ao Ministério dos “Povos Indígenas” e nada mudou desde então.

Este é, no final das contas, o único resultado possível para a política do PSOL. Se a política é torcer para que alguns “índios” se elejam deputados, nada irá mudar. A única mudança possível é com a organização dos índios para a luta por suas reivindicações. Nem mesmo um governante bem-intencionado conseguirá tomar iniciativas importantes sem a mobilização dos índios, pois esta é necessária para enfrentar as forças reacionárias do País. Qualquer consideração diferente desta é puro cretinismo parlamentar.

Tudo fica pior, no entanto, quando os autores põem às claras qual seria o seu programa.

“Para que o partido seja de fato um instrumento de organização popular, é cada dia mais urgente que não seja apenas um aliado passivo da luta indígena, mas sim um polo ativo na elaboração de políticas públicas, na formação de lideranças indígenas dentro do próprio partido, na resistência contra os ataques aos povos originários, como os impactos da exploração predatória de combustíveis fósseis e megaprojetos de energia, a exemplo da pesquisa sobre petróleo na Foz do Amazonas, na Margem Equatorial.”

Devemos corrigir o que dissemos acima. Em vez de dizer que os índios não conseguiram conquistar suas reivindicações porque não estão suficientemente mobilizados para isso, devemos dizer: ainda bem que os “índios” do PSOL não conseguiram levar adiante o seu programa. Afinal, trata-se de um programa oposto aos interesses do índio brasileiro.

Para os autores, a grande prioridade do índio não é impedir a matança desenfreada no extremo sul da Bahia ou no Mato Grosso do Sul. Não é introduzir o índio na economia nacional, concedendo máquinas agrícolas e linha de crédito. É impedir que o Brasil explore o seu próprio petróleo! Isto é, que continue sendo um país atrasado, dominado por setores reacionários como o latifúndio e que seja incapaz de superar a pobreza das regiões habitadas por índios.

Este é não é o programa do índio brasileiro. É o programa do “índio” dos sonhos de Wall Street.

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Last Update: 19/04/2025